Page 9 - Telebrasil - Março/Abril 1994
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Luiz Carlos Bahiana
(Presidente da Telebrasii e Diretor da Comtech)
o comemorar o vigésimo aniver são aquelas que giram em torno do “XI - Explorar, diretamente ou
A sário da Telebrasil, convidado a es tema desregulação ou desregulamen- mediante concessão, os serviços tele
crever um editorial, veio-me à mente o lação, conforme preferirem. fônicos, telegráficos, de transmissão de
capricho de comentar um dos assuntos Serv iços públicos devem ser, como dados e demais serviços públicos de
que estão sempre em moda. Para tal, indica o nome, acessíveis ao público telecomunicações, assegurada a pres
gostaria de discorrer sobre a estrutura em geral. Quando a prestação desses tação de serv iços de informações por
dos serviços. serviços implica na utilização de bens entidades de direito privado, através da
Por estrutura dos serviços dever-se- comuns, como, por exemplo, o espaço rede pública de telecomunicações
á entender a definição da natureza de geográfico terrestre, o espaço aéreo, ou explorada pela União."
lais serviços (no caso, telecomuni espectro de frequências radioelétricas, As consequências desta pequenís
cações), de que maneira fluem as a utilização desses bens dev e ser regu sima alteração, seriam as seguintes: a)
informações, e quem é responsável lamentada. O monopólio estatal seria mantido;
pelas operações, de modo a conseguir, b) Dentro desse monopólio, uma enor
Pretender que um serviço de trans
de maneira eficiente, seu transporte de porte aéreo que, se não cuidadosa me variedade de estruturas seria
um assinante originador até outro assi mente planejado, pode levar a terrív eis possível, já que o Estado, mediante
nante destinatário da mensagem. desastres causados por colisões seja concessão, poderia promover um sis
Sob o ponto de vista técnico, a es desregulado é pura insanidade. Deixar tema total mente operado por empresas
trutura do sistema de telecomunicações o espectro de radiofrequências à mercê estatais ou parcialmente operado por
brasileiro nada deixa a desejar. O trata de quantos queiram dele se utilizar, de empresas privadas, ou ainda, no outro
mento da mensagem, desde sua ori maneira atabalhoada, é um conv ite ao extremo, totalmente operado por em
gem, através de centrais de comutação caos nas telecomunicações. presas privadas.
que, se necessário, ulili/am sistemas Ao órgão regulador (federal), a
de transmissão a longa distância até Portanto, antes que qualquer pro quem nos referimos acima, caberia a
seu destino final, reproduz fielmente posta de alteração da estrutura dos sei decisão de definir os detalhes desta
os padrões internacionais. viços públicos de telecomunicações estrutura, levando sempre em conside
Portanto, i\ estrutura dos serviços, seja feita, é preciso levar em conside ração o objetivo final de um serviço
sob o ponto de vista de como são lei ração o objetivo final, que é a satis público, que é o atendimento pleno do
tos, nada há a objetar. Há dúvidas, en fação do usuário, para o que, há a ne usuário.
tretanto, a respeito da maneira como cessidade imperiosa de uma regu O modelo que propomos não difere
são operados, ou, em palavras claras, lamentação do governo, sim, mas por muito do americano, onde o FCC {Fe
por quem são operados. uma entidade que não esteja envolvida deral Communications Commission)
São estas dúvidas que têm criado na operação dos serv iços Vale dizer, tem o poder total de regulamentar a
enormes polémicas em torno dos temas que a regulação e a operação (e, por estruturação das telecomunicações
monopólio versus privatização ou esta- tanto, a exploração) têm que ser feitas americanas. Isto não deve criar a im
tizaçâo versus privatização. Estas polé por entidades diferentes. O órgão regu pressão de liberdade total, já que por
micas são em geral baseadas em posi lador tem que ser governamental (fede influência (ação) desse órgão, é limita
ções extremadas que, na maioria das ral). O agente explorador dos serv iços, do o número de operadoras locais, bem
vezes, esquecem de levar em consider entretanto, pode ser tanto estatal quan como das concessionárias de serviços
ação o objeto f inal da prestação de ser to privado, a critério do órgão regu de longa distância, que são todas pri
viços públicos, que é a satisfação do lador que mencionamos acima. vadas.
usuário. Para ter a liberdade de proceder de Infclizmente, recentemente toma
A satisfação do usuário de quais acordo com estes princípios é neces mos conhecimento de que o Congresso
quer serviços públicos, seja de trans sário um retoque nos termos do artigo Nacional considera encerrados os tra
portes terrestres, transportes aéreos ou 21, parágrafo XI, da presente Consti balhos de revisão da Constituição. Ao
transportes de informações (telecomu tuição. De outra forma, estaremos to- comemorar o aniversário de 20 anos da
nicaçòes), consiste em ter um serviço talmente impossibilitados de tomar as Telebrasil, nossa alegria é anuviada
de boa qualidade a preços aceitáveis. decisões adequadas sobre a estrutura pela preocupação de que durante os
Qual é a estrutura que levará melhor a dos serviços. Essa microcirurgia con próximos 20 anos continuaremos a dis
este objetivo é, na realidade, a razão do sistiria em eliminar do parágrafo XI as cutir os velhos e desgastados temas
nosso ensaio. Temos que começar afir palavras “a empresas sob o controle monopólio, privatização, estatização
mando que discussões tão fúteis quan acionário estatal". Isto feito, o parágra etc. Que o Senhor tenha piedade do
to as de privatização versus estati/ação fo XI teria a seguinte redação: povo brasileiro...