Page 9 - Telebrasil - Novembro/Dezembro 1993

pagar o custo de sua operação. E o que — "Para sair desta situação perver­ ria ocorrer uma operação segmentada

é pior, cresce a proporção desse assi­ sa é preciso que se estude uma ma­ entre a atividade social — o telefone

nante marginal - de conta média baixa neira de repartir melhor as atribui­ muito barato — e outra regida pelas leis

— refletindo o empobrecimento pro­ ções e os recursos entre os diversos do mercado, que deveria suprir primei­

gressivo da população. Em 1991, 64% atores envolvidos com nossos servi­ ra. Mas isto, oneraria a competitividade

dos terminais da Telemig não eram ren­ ços de telecomunicações. Em tal con­ do segmento produtivo da sociedade ao

táveis, em 1992 este percentual aumen­ juntura e com tais condicionantes, a se deparar com a arena internacional.

tou para 76% e no primeiro trimestre de empresa privada não faria melhor", Foi também levantada a observa­

1993, para 81%. alertou Djalma Morais, acrescentan­ ção de que o Sistema Telebrás, hoje,

Um dos esforços do Sistema Telebrás do que qualquer estudo da investe pesadamente em serviços não-

tem sido zerar o saldo de terminais já privatização do setor deve levar em sociais, como telefonia celular e fac-

pagos pelo futuro usuário e ainda não conta estes mesmos condicionantes. símile. "Como pagar o social, sem

entregues pelas operadoras. A Telemig, fazer uso do não-social?", reagiu o

por exemplo, instalou 215 mil novos Governo presidente da Telemig.

terminais e pôde honrar compromissos A instalação intensiva de telefones

antigos assumidos com os promitentes. Referindo-se à óptica do governo, públicos, cobrada pelo presidente

No entanto, esta expansão aumentou o Djalma Morais fez observações sobre Itamar Franco, poderia ser uma das

número de terminais "marginais" colo­ a preocupação do Presidente Itamar soluções para o aspecto social da tele­

cados na planta. A situação do mercado, Franco com a situação de nossos po­ fonia pública, aduziu o palestrante,

segundo relatou Djalma Morais, está tão bres. Ao assumir, definiu que a tarifa lembrando, no entanto, que a redução

ruim que somente em Belo Horizonte, básica e os preços de fichas telefôni­ das encomendas globais do Sistema

mais de dois mil usuários não quiseram cas seriam condicionadas ao aumento Telebrás, para uns 300 a 400 mil termi­

sequer que o telefone fosse instalado. Há do salário mínimo, concordando no nais normais por ano, penalizaria a

outros, por sua vez, que que­ indústria aqui instalada, além de con­

rem o telefone apenas para fins tribuir ainda mais para os baixos índi­

de investimento — tal como ces de terminais por 100 habitantes.

acontece no setor imobiliário - Em relação à terceirização, Djalma

- e que não geram tráfego para Morais observou que a Telemig tem vas­

a empresa. Colocar ta experiência nesta área, tendo iniciado

O panorama do telefone so­ terminais e há dez anos, inclusive, o programa da

cial com que a maioria das ope­ telefonia comunitária "PROCITE", no

radoras estaduais se defronta é expandir a qual a operadora cede à empresa privada

difícil e complexo. De um lado, planta, nos dá a instalação do sistema. "Foi um progra­

o parque industrial de equipa­ ma que deu certo até cair o preço do

mentos de TCs está ocioso. De prejuízos terminal para US$1200 que, ao ser prati­

outro, o custo do terminal insta­ crescentes... cado pela operadora, afetou as vendas do

lado que se situa em tomo de PROCITE, mais caras". Há estudos, em

US$2500 para a empresa-pólo, andamento na Telemig, sobre a

mas é vendido, obedecendo a terceirização de postos de serviços e talvez

recente portaria, por US$1200. até do serviço de informações "102".

Grande parte deles serão termi­ Q uanto ao novo p ro cesso

nais que vão gerar pouca receita. entanto com a recomposição tarifária licitatório, está sendo avaliado pela

No entanto, observou Morais, sem de aproximadamente 6% como forma Telemig, que, por ora, ainda se ex­

lhes negar sua parcela de contribuição de alavancar o setor. pande com contratações anteriores

social, a Embratel tem investido na Atendendo a uma observação do a esta regulamentação. Finalmente,

parte da planta que assegura alto re­ vice-presidente da casa, Lázaro José em relação à presença de políticos

torno, lhes dando inclusive condições de Brito, que coordenou os trabalhos, o na direção das estatais, Djalma Mo­

de competir em desigualdade com as palestrante disse que a Telebrás é um rais observou, mineiramente, ape­

empresas operadoras em cada estado. sorvedouro de pressões vindas da em­ sar de ser alagoano, que eles ouvem

Quer o executivo que as empresas presa privada, que quer reaquecer o mais de perto os ditames da socie­

operadoras tenham condições de par­ mercado; de outros segmentos do Go­ dade e tem contribuído positiva­

ticiparem em igualdade no atendimen­ verno, que se preocupam com o aspec­ mente para a sua gerência.

to aos grandes usuários. to social; e das próprias operadoras, Participaram com perguntas e co­

As operadoras telefônicas estadu­ que precisam absorver o diferencial no mentários para a mesa-redonda da

ais, pelas regras atuais, se encontram custo do terminal — mas reconheceu TELEB R A SIL, os debatedores

em difícil situação: são estimuladas a que será difícil achar uma solução rá­ Manoel de Deus (custo do terminal),

instalar terminais com prejuízo, têm pida visto que há muita coisa a ser Lenine Rocha (terceirização), Marco

grande número de telefones que lhes compatibilizada. Aurélio de Almeida Rodrigues (in­

dão renda marginal, não podem one­ Cerca de 30 milhões de brasileiros — vestim ento não-social), Josem ar

rar ainda mais os que dão lucro e com renda abaixo ou próxima do salário Vallim (tarifas), Douglas Mesquita

ficam com poucas reservas para in­ mínimo — precisam receber um trata­ (segmentação), Gerson Duque Estra­

vestir em segmentos mais rentáveis. mento sob enfoque puramente social, da (telefones públicos), José Raul

Paralelamente, segmentos de nossa devendo se estudar mecanismos para Allegretti (distribuição da renda),

sociedade tem enfatizado, através da que a parcela mais rica da sociedade além do editor da Revista Telebrasil,

Mídia, os baixos índices de telefones contribua para pagar esta conta. No João Carlos Pinheiro da Fonseca

por 100 habitantes. entender de alguns debatedores, deve­ (privatização). (J.C.F.)