Page 5 - Telebrasil - Novembro/Dezembro 1993
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Qual é a relação com o problema? - Trata-
G overnos em geral têm enorme satis se do seguinte: O palco e o cenário estarão bos ter 75". O fazendeiro sorriu e disse:
fação em assinar tratados bilaterais
"Estou com eçando a gostar deste regim e".
ou multilaterais com países vizinhos
prontos a tempo de deslanchar o processo a
O com unista continuou: "E cabritos por
(ou às vezes nem mesmo vizinhos). As partir de janeiro de 1995. Entretanto, os exem plo...". Neste m om ento, o fazendeiro
razões não são difíceis de compreender. Em personagens, que são a indústria e o comér levantou a mão e d isse :" Espera aí! C abri
primeiro lugar, o ato da assinatura resulta cio, estão longe de poder assumir o seu tos eu tenho m ais do que ele".*
em um ou mais eventos internacionais, que papel como parceiros do negócio. Porquê? E que conseqíiências negativas poderão
projetam os respectivos governos e geram Por que não tiveram ou o tempo, ou as estas considerações ter sobre o nosso de
publicidade positiva em todos os veículos informações necessárias, ou a disposição sempenho comercial e industrial dentro do
dos vários países. A segunda possível con para estudar o problema e analisá-lo até as contexto do futuro livre com ércio? Um as
sequência agradável é que os governantes últimas consequências. Resultado: - as corti pecto que particularm ente me preocupa é o
conseguem ver seus nomes mencionados, nas poderão se abrir e os atores não estarão lá efeito que a incidência de tributos e im pos
no futuro, nos livros dc história. Se positiva no palco para tomar realidade o espetáculo. tos vão ter sobre a com petitividade das nos
ou negativamente, só o futuro dirá. As dificuldades que vemos para que se sas indústrias, em particular as de telecom u
Os exemplos atuais desses acordos são concretizem os planos governamentais são nicações, que são de nosso m aior interesse,
bem conhecidos: - de várias naturezas: Por exemplo, os impostos sobre os serviços
A Europa 93 (Comunidade Econômica - Fenômenos de rejeição. Ocorrem por de telecom unicações são de 40% no Peru
Européia), o Nafta, c finalmente o nosso razões psicossomáticas. A vítima desse pro (que não nos interessa), 38% no Brasil, 27%
MERCOSUL. Formalmentc foi o tratado de cesso não tem nenhuma evidência de que na Argentina, 22% no Uruguai e 10% no
Assunção assinado em 1991, entre a Argen será prejudicada em seus interesses pesso Paraguai. Os encargos sociais, em percenta
tina, Brasil, Paraguai c Uruguai, que estabe ais, mas o mero receio de que alguma coisa gem sobre os salários, são da ordem de 40%
leceu a criação do M ercado Comum do Sul ocorra (por exemplo, perder o emprego) a (22% nos Estados Unidos e 9% no Japão).
(MERCOSUL), prevendo uma zona de li forçará, a exem plo das muitas manifesta As inform ações acim a são superficiais.
vre comércio e integração aduaneira, a par ções que presenciam os hoje contra a Não somos especialistas ou analistas do
tir dc janeiro de 1995. privatização das em presas estatais, a rejeitar assunto. Mas o que inquieta é que não sabe
O atual período de transição é adm inistra a idéia sem mesmo saber se suas preocupa mos de ninguém que esteja preocupado em
do pelo conjunto Mcrcosul e o grupo M erca ções sc realizarão ou não. aprofundar estudos relativos a esta matéria.
do Comum, constituído de 11 subgrupos - Certeza, ou quase certeza, de prejuízos Pode acontecer que as nossas indústrias não
para coordenação de políticas e acordos materiais sérios (perda de mercado para venham a ter suficiente com petitividade di
setoriais. Daí por diante as atividades se com petidores externos, necessidade de fe ante dos nossos parceiros do M ercosul, par
ramificam em um grande número de reuni chamento da empresa, etc). Conseqücntes ticularmente a Argentina.
ões de várias espécies a quem com pete o conflitos de fronteiras. Dc acordo com artigo recente da economis
detalhamento das atividade necessárias. Se - Impulsos nacionalistas e orgulho em ta Maria da Conceição Tavares: "Sacramentado
gundo podemos avaliar, os com prom issos presarial, que levam a não acreditar ou mes o Mercosul, contra o qual não se ouviu qual
assumidos pelo Governo brasileiro estão mo rejeitar tecnologias estrangeiras (not quer briga relevante no Congresso, na Impren
sendo cumpridos. invented Itere). sa ou nos Sindicatos, a Argentina teria acesso
Vamos agora esquecer os formalismos. A É aonde entra a lei de Gerson (que me livre a um mercado três vezes maior, e o
verdade é que, seja no Brasil com o em perdoe desde já o famoso craque brasi leiro que Uruguai e Paraguai a um mercado 69 vezes
outros países, a máquina governam ental teve seu nome injustamente associado a esta superior aos seus, sem qualquer cláusula efe
funciona baseada em conceitos m acro (a lei). É que a lei dc Gerson, além de não ser de tiva de proteção de investimentos, nem regra
exemplo do que acontece na política econô Gerson, não é nem brasileira. É universal. Isto prática de verificação da origem das importa
mica), csqucccndo-sc de que o com porta é, todo mundo quer sempre levar vantagens. ções". Continua mais adiante a economista
mento social e econôm ico de um povo é Então, enquanto qualquer dos participantes dizendo: "Só falta mesmo empreendermos
conseqüência de uma m ultiplicidade de dos Tratados Multilaterais estiver convencido uma política violenta de sobrevalorizaçâo cam
micro-decisões que em conjunto acabam que ele vai levar vantagem estará aplaudindo. bial, a pretexto de combater a inflação, para
criando uma realidade que nenhuma macro- Diferente será sua reação se ele vier a perder. nos tomarmos em dois anos um candidato a
teoria poderia prever. Um com panheiro amigo me contou re dançar o tango argentino e, como nos velhos
Agrada-me, em particular, a form ulação centem ente uma anedota que poderá escla tempos, Buenos Aires passar a ser confundida
de que os acontecim entos em um país são recer os efeitos práticos da lei de Gerson. com a capital do Brasil".
determinados por dois fatores im portantes: Um com unista infiltrou-se pelo interior A afirmação acima (típica de hum or ne
- O cenário c os personagens. Responsável do Brasil disposto a convencer os peque gro) é talvez de pessim ism o exagerado, mas
pelo cenário, é em lodos os casos o G over nos fazendeiros de que o com unism o era o continuam os a insistir que os setores res
no. Os personagens naturalm ente são o m elhor regim e. D izia ele a um pequeno ponsáveis da indústria c do com ércio estu
resto da população, que nunca é convidada fazendeiro: "Veja, enquanto você tem 20 dem a matéria com a necessária profundida
a participar das decisões. C aricaturando, o vacas seu vizinho do lado tem 40. Não seria de. Talvez descubram que não vão levar
Governo é com o o em presário teatral que mais ju sto que se juntassem e cada um vantagem. E aí, com o fica?
toma as providências para m ontar o palco e ficasse com 30?". O fazendeiro respondeu:
decorar o respectivo cenário, sem que os "Excelente". O com unista, acrescentou: Luiz Carlos Bahia na
personagens (os atores) tenham sido con "Você tem apenas 50 galinhas e o seu (Presidente da Telebrasil e Diretor da
sultados ou convidados. vizinho tem 100. Não é justo. Deviam am Comtech Consultoria e Comércio Ltda.)