Page 5 - Telebrasil - Setembro/Outubro 1991
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ponto de vista
O cronograma de implantação seria
P A R A D O X O de aproximadamente 350 mil termi
nais ainda em 1990, 700 mil em 91, 1
milhão em 92, 1.2 milhões em 93, 1.5
Jaym e João Mansur (*)
milhões de 94 em diante. Plano seme
lhante só se tem notícias a nível mun
paradoxal a situação em que vive dial, na Alemanha Oriental, com uma
Eo setor de telecomunicações nos instalação de 8.5 milhões de novos ter
últimos tempos. No período 1979/1989 minais.
assistimos uma lenta, firme e gradual Note-se que o Plano Brasileiro, ape
deterioração do setor, em que cada sar de imenso, não é megalómano, re
ano anterior era melhor que o seguin presenta as reais necessidades do Pa
te. De 1989 em diante a deterioração ís em termos de telecomunicações, pa
se agravou drasticamente: o Sistema ra a década de 90. Tal plano, se con
Telefônico Brasileiro, na sua quase to cretizado, deixaria os fabricantes sem
talidade, praticamente, entrou em co quaisquer problemas, representando
lapso. cerca de três vezes o que foi realiza
As causas que levaram a tal situa do na década de 80 e que permitiu
ção são sobejamente conhecidas: tari sua sobrevivência, embora houvessem
fas muito baixas e irreais, investimen se dimensionado para produzir 1 mi
tos declinantes na manutenção e ex lhão de terminais/ano, durante a déca
pansão da planta, substituição de ele da de 70.
mentos técnicos por elementos políti Passados quase dois anos verifica-
cos sem qualquer formação técnica se que nada ocorreu, a não ser a acele
adequada ao cargo. ração da deterioração da planta instala
Ao se instalar o presente governo, da, a absoluta falta de investimentos
ventos de esperança sopraram em to em sua manutenção e expansão, alia
do o setor com planos que, apesar de dos a uma brutal recessão que leva
ambiciosos, se constituíam, no míni os fabricantes à beira da insolvência,
mo, necessários à regularização dos obrigando-os a descartar suas equipes
serviços e a proporcionar a volta aos técnicas, sem falar na força de traba
níveis de qualidade e satisfação alcan lho de baixa qualificação, já descarta
çados na década de 70, quando os mes da há muito tempo, reduzindo drasti
mos se igualavam aos padrões interna camente a capacidade produtiva nacio
cionais. nal que, em nossa opinião, já necessita
No início de 1990 havia um déficit ria de seis meses a um ano para se re
de cerca de dois milhões de novas li compor.
nhas, já vendidas pelas operadoras Lembrando o que é sabido: Teleco
do Sistema Telebrás, grande parte já municações são básicas e sem elas não
totalmente pagas e não instaladas. Co há como ativar e manter quaisquer ou
mo resultado assistimos à impetração tros setores em normal funcionamen
de várias ações populares tentando ha to e expansão — progresso paralisa
ver o direito líquido e certo dos usuá do. Com tal quadro defrontamo-nos
rios. Apesar de muitas ações ganhas, com uma situação k a f k i a n a : há carên
muito pouco se vê para efetivamente cia, há demanda reprimida (conseqüen-
resolver esse problema. A demanda temente recursos), há capacidade pro
reprimida de novas linhas telefônicas dutiva e setor, no sentido amplo, insol
alcançou, em junho último, a impres vente.
sionante cifra de seis milhões de uni Se o Estado como um todo não tem
dades, segundo levantamentos publica condições de manter o monopólio libe
dos em vários órgãos da imprensa. rando, para quem tenha competência,
O plano governamental tornado pú a solução dessa situação. Isto certamen
blico, no primeiro semestre de 1990, te nos levará a soluções rápidas e de
anunciou a instalação de dez milhões menor custo — a concorrência gera
de linhas telefônicas até o ano 2000 o eficiência. O que absolutamente não
que, em termos rasos, significa a pode continuar é a absurda situação
duplicação da planta atualmente insta de se estar morrendo de fome e sede
(*) Presidente da
Elnm n Diretor da lada e investimentos na ordem de cin- sentados num pomar à beira de uma
Telebrasil qüenta bilhões de dólares. fonte. Eis aí o paradoxo.