Page 32 - Telebrasil - Setembro/Outubro 1990
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Economia
ção da moeda de pagamento dos impos
A recém-anunciada decisão do Gover tos de importação que passariam a ser pa Conta B — A crédito desta conta seriam
no Federal de liberalizar as im porta
levadas as receitas provenientes dos paga
ções criou algumas incertezas entre o em go na mesma moeda de pagamento das mentos das alíquotas de importação, em
presariado nacional, mas outros até aplau próprias importações dos bens a que se divisas estrangeiras, efetuadas pelos im
dem a medida, desde que tal decisão ve referem; adoção de um mecanismo dinâ portadores que as adquiririam dos exporta
nha acoplada de uma profunda revisão mico de revisão das alíquotas de im porta dores; tais créditos seriam usados para
da política cambial, hoje em vigor, de for ção, garantindo, a um só tem po, não ape pagar os custos da importação de insu
ma que possibilite bloquear, de maneira nas um nível adequado de proteção às ati mos estratégicos e as parcelas do serviço
segura, a ocorrência da esperada crise. vidades econômicas internas, mas também da dívida externa; os insumos estratégicos
Esta é a opinião do presidente da Indu- coibir a transferência de ônus à economia, seriam definidos, exclusivamente, a nível
co, A ntonio Carreira, que também é pre derivados de processos produtivos inefica de matérias-primas onde o volume obti
sidente do Conselho de Administração zes, geradores de pressões inflacionárias. do internamente não fosse suficiente pa
da Telebrasil, alertando em seguida que Antonio Carreira explicou como seria ra suprir a demanda. Eventual e transito
“ a gradual redução das alíquotas de im a criação do sistema de contas casadas, riamente poderiam ser incluídos neste rol
portação trará à economia, como um to prevendo-se, em princípio, a adoção de os produtos alimentícios, nos quais fenô
do, um a série de benefícios e, paralela quatro grandes contas: menos sazonais estivessem forçando a ele
mente, um risco não negligenciável de Conta A — Receberia a seu crédito divi vação dos preços internos.
exaustão das reservas cambiais pela gera sas originárias das exportações, e a seu Conta C — A venda de divisas por turis
ção de saldo negativo na Balança Comer débito divisas destinadas à im portação tas estrangeiros que vêm ao Brasil e a com
cial que, se configurado, poderá inviabili de bens de qualquer natureza, exceto os pra destas por viajantes brasileiros ao ex
zar a adoção do programa face a uma cri insumos classificados como estratégicos; terior supririam a movimentação desta
se cambial de considerável m onta” . os créditos desta conta seriam livremente conta, além dos recebimentos e pagamen
negociados por exportadores e por im por tos a título de serviços, respectivamente
Contas casadas tadores desejosos de efetuar importações no País e no exterior. A taxa de câmbio
a uma taxa de câmbio fixada unicamente desta conta seria determinada exclusiva
Para Antonio Carreira, na reforma por fatores de oferta e procura; os im por mente por critérios de oferta e procura.
da atual política cambial devem ser assegu tadores para obter a correspondente licen Conta D — Os fundos originários de in
rados os seguintes objetivos: limitação ça deveriam comprar divisas suficientes vestimentos estrangeiros supririam esta
dos fluxos de saída de cambiais às dispo para dar cobertura tanto aos pagamentos conta, cujos recursos seriam destinados,
nibilidades existentes, através da criação a serem efetuados ao exterior quanto ao primariamente, ao financiamento de ex
de um sistema de contas casadas, onde pagamento das alíquotas de exportação. portações por empresas aqui radicadas,
determinados fluxos de entrada são desti Referindo-se, ainda, à Conta A, Antonio bem como à remessa de lucros por empre
nados a suprir outros específicos de saí Carreira continuou sugerindo que ‘‘even sas estrangeiras instaladas no País. A ta
da; incentivo ao crescimento dos saldos tuais importações, financiadas, teriam seu xa de câmbio desta conta seria determina
da Balança Comercial, pelo aumento do pagamento garantido somente se o im por da pela média móvel da média diária das
grau da competitividade dos produtos ex tador, nas épocas de pagamento, efetuas cotações dos últimos 30 dias referentes à
portáveis, particularm entcos m anufatura se o depósito do correspondente crédito Conta A.
dos; garantia de existência, em caráter de divisas. Assim, nestas operações, o ris Conclusão
permanente, de disponibilidade de divisas co do crédito recai unicamente sobre o
para cobertura de importações de insu- exportador estrangeiro, enquanto o risco Antonio Carreira explicou, ainda, que
mos estratégicos, como, por exemplo, o do câmbio fica com o im portador local; ‘‘após um período adequado, à medida
petróleo. seria permitido à entidade estatal, encarre que a economia nacional fosse se estabili
— Isolação, na medida do possível, gada do gerenciamento destas contas — zando, paulatinamente os créditos e débi
de impactos inflacionários, na economia o Banco Central, por exemplo — , interfe tos das Contas B, C e D seriam transferi
interna, derivados de eventuais surtos de rir neste mercado, adquirindo divisas ‘‘ven dos para a Conta A, instituindo-se, as
desvalorização da moeda nacional; garan didas” por exportadores, sem que, por sim, uma política de câmbio inteiramen
tia de existência, em caráter permanente, conjunções específicas, houvesse excesso te livre” .
de reservas cambiais, em nível suficiente de oferta deprimindo as cotações; as divi — O grande mérito de uma política
para suprir o serviço da dívida externa, sas assim adquiridas poderiam , posterior cambial deste gênero — acrescentou Car
eventiialmente renegociada em termos mente, ser revendidas à mesma conta, re reira — é o de assegurar taxas benéficas
mais favoráveis; proteger da bancarrota gulando o câmbio. aos exportadores, ao mesmo tempo em
empresas fortemente endividadas em moe que limita as remessas de divisas às dispo
da estrangeira, em data anterior a da re nibilidades efetivas da Nação em um siste
visão da política cambial, decorrente de ma de praticamente plena liberdade cam
súbitas desvalorizações da moeda nacio bial.
nal; propiciar às empresas implantadas Por fim, disse o presidente da Induco
no País tempo hábil para reformularem que, marginalmente, tal política ao imple
seu processo produtivo, tornando-se com m entar uma situação de realismo cambial,
petitivas tanto a nível interno quanto ex para a maior parte das transações exter
terno. nas, põe cobro, sem o recurso de medidas
O presidente da Induco acredita que de caráter policial ou de fiscalização espe
‘‘uma política de liberalização geral das cífica, a maioria dos ilícitos hoje pratica
importações só é compatível, em todos dos no comércio exterior, entre os quais
os sentidos, com uma política de absolu o subfaturam ento das exportações e o pró
ta liberdade cambial. Entretanto, se adota prio contrabando de mercadorias, além
da de imediato certamente não assegura de propiciar a redução do nível de inter
rá o atendimento de seus objetivos” . venção do Estado na economia. “Ob\ia
Segundo Antonio Carreira, estes obje mente, tal política não comporta coexis
tivos podem ser assegurados pela adoção Antonio Carreira sugere ao Governo Federal tência com políticas paralelas de reserva
de três medidas simultâneas: Implantação uma nova política cambial para facilitar a libe de mercado de qualquer natureza, a que
de um sistema de contas casadas; altera ralização das importações. pretexto for” , concluiu Carreira.