Page 26 - Telebrasil - Setembro/Outubro 1990
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Perspectivas e desafios da
liberalização da economia
rio dizer, estará cada vez mais presente nas dis
cussões dos projetos econômicos, como revelam
as discussões sobre a floresta amazônica e a
destruição da camada polar de Ozônio.
Prosseguindo em sua análise do desenvolvi
mento, pergunta Langoni: Se o velho modelo
está morto, agora que caminho a seguir? É ele
mesmo que responde afirmando que, em pri
meiro lugar, devemos aceitar o fato de que o
Estado não tem mais condições de liderar o
desenvolvimento. Depois, há que acabar com
a inflação (trazê-la a patamares inferiores a
20% a/a), o que significa conter o déficit do
setor público, vale dizer, diminuir a presença
do Estado na economia. A idéia é que isto dei
xará livre mais recursos para a empresa priva
da, que é um produtor mais eficiente do que
o Estado. A reboque desta tese liberal vem a
outra de que “desenvolvimento sem inflação
irá melhorar a distribuição de renda, à seme
lhança do que aconteceu no Sudeste Asiático”.
Obstáculos
Diz ainda o ex-Presidente do BC que a in
(E-D) D. Papageorgiou (B. Mundial), Paulo Renato C. Souza (Unicamp), Ernane Galveas (Eco
nomista), João Maurício (Casa França-Brasil). serção da economia brasileira no contexto in
ternacional significa: expansão das exporta
ções, redução do protecionismo à indústria lo
cal e renegociação da dívida externa (para abrir
O cardápio preconizado pelos países pos imemoriais — desigual e a mobilidade so canais de crédito internacional).
mais ricos para solucionar a crise do cial decresceu (quem nasce rico ou pobre, assim
tende a permanecer, com raras exceções).
mundo em desenvolvimento, inclui: O Brasil desembocou, na década de 80, com
abertura para o comércio exterior (li um listado onipresente e onisciente, uma buro
beralização comercial); tratamento cracia improdutiva e um desequilíbrio orçamen
adequado para o capital estrangeiro tário crônico a pretexto de desenvolvimento.
Foi este desequilíbrio, muito mais que os cho
(remessa de lucros e rentabilidade); ques do petróleo, que precipitou a crise da dí
eficiência do setor público (utilização vida externa e a inflação desenfreada que mes
adequada da poupança); c estabilida mo a indexação (um truque esperto) não conse
de macroeconômica (ajuste fisctil). guiu conter. O modelo fechado dos anos 80,
estatizante, de planejamento semicentralizado,
No Brasil, frente à crise econômica de industrialização total, está, no entender do
que caracterizou a década de 80, che cx-Prcsidentc do Banco Central, definitivamen
gou-se ao consenso que algo precisa te encerrado.
Enquanto, no Brasil, o modelo antigo de
va ser feito para modificar uma situa desenvolvimento se esgota, observam-se no
ção de altíssima inflação, corrosão mundo seis mcgatcndências econômicas: o libe
do valor da moeda e perda do referen- ralismo; a criação de blocos; a abertura comer
cial; a idade do capital; a década do Yen; a
cial econômico. As discordâncias, se preocupação ecológica. O liberalismo econômi
as há, não se referem mais ao diag co è caracterizado pela privatização do apara
nóstico da enfermidade, mas ao grau to produtivo, pela economia de mercado e pela
da terapêutica a ser aplicada ao doen abertura para o investimento internacional. Antonio Barros de Castro (FEA-UFRJ).
te, para salvá-lo. O tema da economia Tkis premissas liberais começam a ser aceitas
“ até pelas economias de planejamento centrali
— no momento especial da ruptura zado, como Rússia, China e Leste Europeu” ,
histórica que encaminha o Brasil ru observa Langoni. Analisando o Plano Brasil Novo, observa
mo à modernidade — desperta o inte A criação de blocos se traduz pela queda Langoni que nele o intervencionismo estatal
foi substituído pelo liberalismo e o approach
resse de especialistas, bem como do de barreiras e pela integração econômica de gradualista pelo tratamento de choque. Mas
empresariado. grupos de países, tais como a Europa 92, o Su existem obstáculos a vencer para que tudo dê
deste Asiático e a América do Norte e agora
o Cone Sul. A abertura comercial significa a certo. Carlos Langoni cita dentre eles: restabe
Perspectivas redução de incentivos e subsídios nacionais lecer a confiança dos poupadores (para 25ro
que atrapalham o intercâmbio livre entre os do PIB), abalada pelo confisco do Plano Col-
Carlos Langoni, da Fundação Getúlio Var países. O conceito de livre comércio está sen lor; exportar mais (de 9 para 15% do PIB) e
gas, analisa as perspectivas da economia brasi do ampliado nas “ Rodadas do Gatt” para in importar mais (de 5 para 10% do PIB); adotar
leira para a década de 90, a partir do que acon cluir as áreas de serviços (inclusive financei câmbio flutuante; liberalizar o movimento de
teceu nos anos anteriores. Diz ele que o mode ros) e de propriedade intelectual (leia-se softwa capitais; chegar, em 4 anos, a tarifas alfandegá
lo de crescimento do País teve, até agora, três re). A idade do capital indica que o acesso à rias médias de 20%; desburocratizar (de vez)
características: o endividamento, liderado pe tecnologia e ao capital se dará de maneira des o Comércio Exterior; reestruturar o Setor Pú
lo Estado; a inflação, com o paliativo da corre centralizada, no mundo todo, e que a forma blico, que deve passar de produtor para agen
ção monetária; a industrialização a todo cus ção de joint-ventures será favorecida e os em te sociad.
to, destinada a fabricar aqui tudo que dantes préstimos a longo prazo serão desestimulados. Carlos Langoni inclui ainda no rol das difi
se importava. Mesmo assim, o Brasil foi um O significado da década do Yen é quase evi culdades a vencer: equilibrar as finanças públi
dos poucos países da América Latina que, nas dente: o Japão, que importa relativamente pou cas; reduzir a presença do Estado (leia-se de
últimas décadas, conseguiu algum crescimen co, continuará a acumular riqueza e a sua mo missões); efetivar a privatização (de fato e sem
to econômico. Do lado social, a distribuição eda terá, ao lado do dólar, significado interna utilizar Cruzados congelados, com deságio): e
brasileira de renda permaneceu — e desde tem cional. A preocupação ecológica , desnecessá desregulamentar o setor de infra-estrutura (e*