Page 23 - Telebrasil - Janeiro/Fevereiro 1990
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meações e de informática com a imple das, as nações desenvolvidas revèem as
mentação das Redes Digitais de Serviços políticas do setor para ajustá-las a um mer
Integrados (RDSI) e am pliando larga cado exigente, diversificado e altamente
mente o espéctro dos serviços oferecidos competitivo.
aos assinantes. Com o sugestivo título Mobilizmg for a
No Brasil, entretanto, outros foram os War — The $ 500 bilhon telecommumca-
caminhos. A Lei 7.232/84, dispondo so tions market: a global battlefield, a revista
bre a política de informática, introduziu “ Time International” (01/05/89), dedica
conceitos e princípios que intervieram na algumas laudas à matéria. No artigo, assi
política industrial preconizada pelo Minis nala-se a redução das políticas protecio
tério das Comunicações. nistas, a liberalização dos monopolios, a li
De outra parte, a fim de atender ao vre concorrência e a formação de joint-ven-
CPqD da Telebrás, devotado equivocada- tures, em síntese, atitudes opostas aque
mente a desenvolvimento de produto, o las que remanesceram em três quartos de
Ministério das Comunicações, de alguma século. Textualmente, o articulista afirma:
forma, cerceou o aporte de projetos acaba “ Em menos de uma década, as telecomu
dos de equipamentos com elevado grau de nicações tornaram-se um dos setores mais
sofisticação. dinâmicos e competitivos no mundo, vir
Faz-se aqui mera constatação. Presu tualmente explodindo com novos produ
me-se que opções desta natureza sejam tos, serviços e demanda. Para os clientes,
precedidas de cuidadosa avaliação dos o bravo mundo novo da telefonia trouxe
custos que elas envolvem, justificados 0 CPqD Telebrás assumiu a liderança brasileira mais escolhas e menores tarifas. Para o se
na geração de tecnologia de ponta.
pelos benefícios que possam advir. Entre tor, proporcionou maiores vendas e maio
tanto, cumpre reconhecer que as políticas res lucros".
preconizadas envolvem elevado risco, Abriram-se as imprevisíveis forças do
tanto mais porque nos conformamos em sa de telecomunicações é uma prestadora mercado, diz o artigo, e “ incapazes, sozi
conviver, por um período mais ou menos de serviços compromissada com seus cli nhas, de financiar os enormes custos das
entes, mais do que simples e passivos
longo, com equipamentos já de alguma novas tecnologias, as grandes empresas,
forma ultrapassados sem qualquer garan usuários. Estes clientes, consumidores de num plano global, se associam ou promo
informação, tém o direito de recebê-las na
tia de que não venhamos, uma vez mais, forma que necessitarem — voz, dados ou vem joint ventures.
perder o bonde da história. imagens — no tempo e lugar que escolhe Crescem os lucros e os mercados, dado
Esta é a situação em que nos achamos rem. Esses clientes que sempre pagam a que a maior parte dos equipamentos, ora
no limiar da nova década. Agrava-se a crise conta, exigem presteza no atendimento e em operação, está obsoleta, fruto de déca
que perdurou nos anos 80, colocando em qualidade nos equipamentos e nos ser das de protecionismo.
risco não apenas um estupendo patrimó Em contrapartida, as exigências de in
mo, mas o próprio futuro do País, mor viços. vestimentos são desafiantes. “ Nos anos
mente quando a dita sociedade de mfor Tendências 60, custou à Siemens cerca de US$ 214
mação se afirma em contundente reali milhões para desenvolver uma central tele
dade. Cresce, nos países do primeiro mundo, fônica pública. 0 preço pago para, em
As causas imediatas de tal crise, em a certeza de que as telecomunicações, 1980, ter no mercado uma central digitali
síntese, envolvem: irrealidade tarifária, mais do que uma componente da infra-es zada, excedeu a US$ 1 bilhão. A próxima
exagerada interveniência do governo na trutura, mero canal de escoamento às geração de centrais, manipulando sinais
gestão empresarial e a onírica busca de ópticos ao invés de sinais eletrónicos, de
mensagens, desempenham papel ativo,
uma auto-suficiência tecnológica. ferramenta de produção, na moderna so verá custar entre US$ 1,5 bilhão a US$ 3
O nosso parque industrial é também bilhões.
ciedade. Numa economia de informação o
profundamente afetado. Na medida em valor se acresce nao pelo trabalho, mas Devem ser estas razões que levam os
que, num mercado monopsômco, nao é as pelo conhecimento. analistas financeiros a predizer que, em
segurado volume compensador de contra Segundo J. Naisbitt {Megatrends — ten meados da década de 90, o mercado de
tações, na medida em que falta, a nossos new directions transformmg our lives): “ A equipamentos de telecomunicações será
produtos, competitividade no mercado in nova fonte de poder não é mais o dinheiro compartilhado por, apenas, quatro gigan
ternacional, no momento em que as em nas mãos de uns poucos, mas a informa tes: ATT (faturamento de US$ 35 bilhões
presas contratantes, no desvario mflacio ção nas mãos de muitos". Assim persuadi em 1988); Siemens-AG (USS 32 bilhões);
nário, atrasam os pagamentos de faturas Fujitsu (US$ 15 bilhões) e Alcatel (US$
vencidas, os fabricantes de equipamentos 13 bilhões). Este éo panorama internacio
desmobilizam máo-de obra, desativam li nal. Fazer previsões para o nosso País é te
nhas de produção e seguram in ve sti merário.
mentos. Nossas concepções estão ultrapassa
Afastadas as causas enumeradas, po das. Enquanto nas sociedades modernas o
der se-ia ate verificar outro ciclo de pro cliente já tem a seu dispor terminais inteli
gresso, para ser sucedido por nova fase de gentes, no Brasil, os pretendentes ao ser
clmante, numa recidiva conhecida, dado viço telefônico, após pagarem o autofinan-
que as razões apontadas voltariam a ciamento — instituto indefensável — es
ocorrer. peram anos para ter instalado um simples
Importa, pois, mais do que identificar telefone que estará ligado a uma central
as causas imediatas, perquirir lhes as ori congestionada, muitas das vezes porque
gens que entendemos encontrar no mo os troncos de escoamento de trafego não
delo consagrado para o setor de telecomu foram, na época certa, aumentados.
nicações públicas do País. Reconhecemos A indústria nacional, também, vive um
que este modelo já funcionou bem, mas se drama, jungida, a reinventar a roda, des
exauriu ante a presente realidade que con fraldados os estandartes da “ reserva de
juga à revolução tecnológica, um novo mercado" e da “ independência tecnoló
quadro económico, social e político. gica". A esta altura acredito que o velho
Os serviços de telecomunicações não Imperador tenha preparado, no setor das
mais se resumem à mera instalação de um remos concepções ultrapassadas, pretenden comunicações, um Brasil melhor para en
aparelho telefônico ou um teleimpressor tes aguardam anos para obter um simples tele trar no século XX, do que nós o consegui
no endereço do usuário. A moderna empre- fone comercial ou residencial mos para chegar ao século XXL *
Tsfebrostt. Jan./tev '90 2 1