Page 7 - Telebrasil - Janeiro/Fevereiro 1989

e d i t o r i a I

U m a n e c e s s i d a d e : a v o l t a a o

e q u i l í b r i o d o s p r e ç o s r e l a t i v o s

Antonio Carreira

(Presidente da Telebrasil)

Causou susto, em todos, as notícias di­ conseguido, o panorama que teremos ao

vulgadas ao final de janeiro, que a infla­ final de três meses será o descongela­

ção naquele mês atingiria o patamar de mento de preços, sem aumentos explosi­

64%. Neste particular, o atual choque vos, mesmo por que, pela situação que ob­

econômico foi bastante diferente do ocor­ servamos, até essa época o País estará

rido no Plano Cruzado. Enquanto o con­ dando os primeiros sinais de uma reces­

gelamento anterior apanhou muitas in­ são que todos, Governo e empresários, es­

dústrias num momento de preços repri­ peram que seja moderada e dure no má­

midos, o novo plano, amplamente anun­ ximo apenas este ano. Preços em equilí­

ciado, permitiu uma série de reajustes e, brio e um mercado retraído poderão per­

mesmo durante sua vigência, o Governo mitir melhores condições de controlar os

vem autorizando vários aumentos. Tari­ aumentos ou, pelo menos, de identificar

fas públicas e preços dos combustíveis setores em desequilíbrio. Tal é a expecta­

foram reajustados após o anúncio do Pla­ tiva.

no Verão. Daí, resultou o índice de infla­ Entretanto, acredito ser fundamental

ção, de janeiro: acima dos 60%. alertar para a necessidade de que exista

É importante que sejam compreendi­ alguma flexibilidade no que tange a ne­

dos dois aspectos fundamentais: Primei­ gociações dos contratos de fabricação de

ro, que choque econômico com congela­ maturação mais longa. Estão, neste caso,

mento de preços, em período determi­ indústrias fabricantes de bens de capital

nado, tem como objetivo principal buscar e também os fabricantes para o setor de

a retomada de algum equilíbrio dos pre­ telecomunicações. Este último foi dura­

ços relativos. Esse equilíbrio fica total­ mente atingido em todos os choques eco­

mente fora de proporção após período nômicos e chegou a existir perda de subs­

prolongado de inflação elevada, e se o tância econômica e de tecnologia em mui­

preço a pagar pela volta a esse equilíbrio tas empresas. E exatamente este tipo de

for o de uma inflação elevada, no primei­ reflexo que Governo e empresários de­

ro mês de congelamento, o sacrifício pode vem estar dispostos a evitar. O Governo

valer a pena. O segundo ponto impor­ — pela compreensão de que ajustes espe-

tante é que o choque econômico pressu­ cifícos devem ser realizados para garan­

põe apoio, amplo e total, para que apre­ tir a capacidade de manufatura de um se­

sente resultados, incluindo aí o apoio do tor essencial, como é o caso dos fornece­

Congresso, a quem caberá tornar o Plano dores para o setor das telecomunicações

Verão uma decisão do País. Nesse parti­ — e os empresários devem apresentar

cular, é fundamental que a parte do Go­ moderação para não confundir reajuste

verno seja cumprida pela eliminação do essencial com aumento na margem de lu­

déficit público e pela demissão de funcio­ cratividade, sem melhoria da produtivi­

nários que a União, efetivamente, não te­ dade.

nha capacidade para pagar salários. Neste instante, não existem responsá­

O objetivo principal deste esforço do veis isolados e, se o Governo cumprir com

Governo, bem como os aumentos concedi­ sua parte, os empresários devem lutar

dos, é tentar resultados a médio prazo, para voltar ao equilíbrio dos preços rela­

procurando com o congelamento — que tivos, como fator essencial para sua so­

deverá ir até abril — obter a volta ao brevivência.

equilíbrio dos preços relativos. Se isso for