Page 7 - Telebrasil - Setembro/Outubro 1988
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editorial
Para acabar com o mito
do incompetente nato
Max Hamers de A. Lisboa
(Diretor Técnico da CTBC/SP e
Diretor da Telebrasill
Com a aproximação dos trabalhos da nida agora a estratégia, o próximo passo
Constituinte e, também, durante a ela será implantá-la. E nesta fase a clareza
boração da nova Carta Magna, houve in da missão de cada empresa deve pre
tenso debate sobre o papel do Estado na valecer.
economia, principalmente, sobre aquilo Do material publicado, contra ou a fa
que ultrapassa as funções tradicionais a vor das estatais, podemos ver que cada
ele destinado pela visão clássica. grupo na sociedaae as percebe com uma
As posições defendidas abrangem toda missão diferente, daí resultando numa
uma gama de opiniões sobre a estratégia multiplicidade de exigências ou reco
a ser seguida para alcançar o desenvolvi mendações normativas sobre seu geren
mento econômico-social do País. Neste ciamento, causando a inviabilidade da
contexto, houve, desde posições carrega maioria das empresas. Isto desencadeia
das pelo preconceito ideológico, até ou nas estatais verdadeiro Efeito de Pig-
tras com base em efeitos aparentes ou maleáo: "aquilo que realmente acredita
análises superficiais, passando-se, ime mos sobre alguém, pode vir a determinar
diatamente, à prouosição de soluções, seu desempenho real”.
sem verificar sua adequação ao contexto Os subsídios advindos da discussão
específico do Brasil. prévia à Constituição fornecem material
Promulgada a Constituição, observa- rico para análise que, somado a outros,
se que a solução dada não se prendeu a obtidos através de pesquisa objetiva, per-
extremos ou a visões utópicas. Ela se mitir-nos-á uma análise conceituai ne
aproxima mais do meio termo, de acordo cessária à definição da missão específica
com as características próprias do País, de cada estatal. Esta não poderá ser mui
como já começa a surgir nos ensinamen to restrita, mas deverá, ao mesmo tempo,
tos da ciência econômica moderna. ser fechada, de modo a que tenhamos a
A nova Constituição, embora reconhe desejada viabilidade.
ça que o direito à propriedade privada, o As estatais não poderão ser somente
direito à herança e o direito à liberdade vistas pela antiga ótica da iniciativa pri
de empreender e usufruir dos esforços vada, tendo como missão principal a ma
próprios são necessários ao desenvolvi ximização dos lucros ou pela ótica do Es-
mento econômico e ao bem-estar das na tado-Providência, atribuindo-se-lhes, de
ções, não os julga suficientes. De modo uma forma geral e ampla, todas as mis
que, como matéria de fato, teremos um sões sociais de governo.
capitalismo de estado prevalecendo em Pela sua própria natureza, a estatal
alguns setores, principalmente naqueles produtiva tem uma missão dual, cujas
correspondentes a monopólios técnicos partes devem ser limitadas, para que o
naturais, por meio de empresas estatais objetivo da eficiência económica de toda a
infra-estruturais produtivas (cujos cus sociedade seja alcançado.
tos são cobertos por receitas operacionais Se, realmente, a mola propulsora de to
próprias). Tratando-se agora de matéria dos que procuraram apresentar suas
de fato, não adianta mais perder tempo idéias era a do desenvolvimento econô
com discussões quiméricas sobre qual de mico e social, devemos, agora, também,
veria ser a melhor solução, pois isto so trabalhar e primar para que cada empre
mente levará a não olharmos para a sa estatal, com clareza de missão e objeti
frente e a ficar andando em torno de um vos principais definidos, contribua, real
mesmo ponto, sem nada construir. Defi mente, para o objetivo nacional.
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