Page 5 - Telebrasil - Maio/Junho 1986
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editorial
ANO 2000
O desafio de 40 milhões
de terminais
Max Hamers de Aragão Lisboa
(Vice-Presidente da Telebrasil)
0 Plano de Estabilização Econômica, além de proporcio Os países, atualmente, podem ser categorizados como
nar a eliminação de um foco de injustiça social causada por desenvolvidos, em desenvolvimento e subdesenvolvidos.
uma hiperinflação, criou bases para um planejamento orde Do ponto de vista da telefonia, os países com menos de 4 ter-
nado de nosso desenvolvimento, uma vez que nos permitiu minais/100 habitantes pertencem ao último grupo, com me
fixar, de forma acessível, objetivos condizentes com a reali nos de 20 terminais/100 habitantes ao grupo dos países in
dade nacional. termediários; e com mais de 20 terminais/100 habitantes ao
E fundamental para nossa sociedade eliminar a pobreza grupo dos desenvolvidos. O Brasil apresenta, hoje, uma
absoluta até o limiar do segundo milénio. Isto significa que densidade de 5 terminais/100 habitantes, o que o situa no
estamos querendo atingir no ano 2000, para cada habitante limiar de um país em desenvolvimento, bem próximo ao
de nosso País, uma renda mínima que lhe assegure condi subdesenvolvido.
ções necessárias para uma vida sadia, garantindo-lhe o Tratando-se de valores médios, vemos que a situação afi
bem-estar geral, consideradas suas facetas sociais, cul nal é muito pior do que imaginávamos, apesar do esforço,
turais e econômicas. verdadeiramente considerável, feito nos últimos 13 anos
com a criação da Telebrás. Isto explica, em parte, a vulnera
O bem-estar geral, no entanto, se obtém através da jus
bilidade do Sistema Brasileiro de Telecomunicações, ao me
tiça social, não circunscrevendo a eficiência econômica ape
nor surto de reaquecimento da economia, como vem se ob
nas a segmentos determinados da sociedade. Uma nação
servando desde 1984 e que se reflete numa extrema pressão
será forte na medida em que sua população tenha saúde,
da demanda resultando em taxas insuportáveis de conges
educação, indústria e agropecuária igualmente fortes. Se
tionamento.
desejarmos realmente eliminar a pobreza absoluta até o
Caso o Brasil deseje ingressar daqui a 13 anos no rol das
fim deste século, devemos investir maciçamente, nos cam
nações desenvolvidas—e pelos critérios expostos— terá de
pos da saúde e da educação. Quanto a esta última, será ne
ter instalados até aquela data uma planta de 28 milhões de
cessário dar especial atenção à profissionalização do ele
terminais, se considerado até lá um crescimento zero de po
mento humano, desenvolvendo inclusive artifíces, desper
pulação. Mas se adotado um crescimento médio anual da
tando-lhes tanto do ponto de vista de habilitação, quanto o
população em torno de 2,5%, este valor subirá para aproxi
do saber, uma verdadeira concientização profissional.
madamente 40 milhões de terminais.
Já na indústria e na agropecuária torna-se imprescidí-
O desafio para o setor das telecomunicações é, portanto,
vel a melhoria de sua qualidade e o aumento de sua produti
grande, como grande são suas oportunidades. Aos fornece
vidade. Aqui surge a oportunidade maior que pode ser dada
dores cabe o aumento da produtividade, de forma a trazer
pelas telecomunicações, dividida em duas posições: A pri
ao mercado produtos de melhor qualidade e a preços mais
meira, como elemento necessário ao desenvolvimento glo
baixos, dentro de prazos compatíveis com as necessidades
bal do País, satisfazendo ao que se convenciona chamar de
4 o sistema.
"demanda de serviços de telecomunicações”. As operadoras cabe a difusão dos serviços, a melhoria da
A segunda, atuando como infra-estrutura essencial ao qualidade, o desenvolvimento de uma política de oferta de
progresso econômico, dinamizando as atividades produti serviços e a racionalização interna com aumento de produ
vas, economizando energia, substituindo o transporte, re tividade. Dessa maneira serão gerados partes dos recursos
duzindo a necessidade de investimentos vultosos. necessários à implantação de um sistema de telecomunica
Se por um lado, as telecomunicações são hoje considera ções compatível com as metas globais do Brasil — 2000.
das como infra-estrutura essencial para o crescimento de Imprescidível porém é que o ISSC— na realidade um re
uma nação, por outro há que considerar o serviço telefônico curso gerado internamente no setor — seja aplicado inte
universal, a popularização do uso do telefone e a telefonia gralmente na construção dessa infra-estrutura básica de
rural como objetivos primeiros visando a justiça social. telecomunicações, tão importante para nosso País.