Page 42 - Telebrasil - Maio/Junho 1986

Programação é o gargalo
Num mercado em rápida mutação A década de 55 a 65 foi caracterizada
tecnológica como o da informática é na­ pela ausência de metodologia para o de­
tural que há os que se dediquem a exa­ senvolvimento de programas. Cada pro­
minar o passado e a prever tendências gramador foi um expert que gostava de
para o futuro. trabalhar sozinho e que tinha seus pró­
E o caso de Gerald M. Schumacher, prios segredos. A produtividade, no en­
vice-presidente de software da Control tanto, era baixa.
Data Corp., com mais de 25 anos de ex­ No período de 65 a 80 empregou-se
periência no setor, segundo o qual o pro­ uma maneira sequencial de desenvol­
gresso da informática deve ser avaliado ver e utilizar software, o que inclui as
do ponto de vista do ferramental, do lo- fases de análise, projeto, programação,
gical e da inteligência artificial. teste e manutenção de programas. Co­
meçaram a surgir as primeiras ferra­
H ardw are mentas (são programas) para desenvol­
ver e testar programas. Os sistem as
— Continuará a tendência na indús­ operacionais e as linguagens de alto ní­
tria de microeletrónica da produção de vel facilitaram o uso dos computadores.
componentes cada vez mais baratos, A reutilização de programas passou a se
mais rápidos e mais densos. Em 1990 dar a nível de sub-rotinas e os progra­
serão comuns pastilhas com 400 mil madores aprenderam a trabalhar em
transistores (100 mil portas lógicas) e equipe.
m em órias de 2 Gigahytes de capaci­ Já nos anos 80 c 90, a tendência tem
dade. Daqui a 3 anos é de se prever que sido para a automação das aplicações,
existirão memórias de 512 Mbylos. O tais como pelo emprego cie gerencia­
aumento de densidade dos componentes dores de Base de Dados. Os sistemas
facultará o aparecimento dispositivos operacionais tenderam a padronização,
mistos, abrigando numa só pastilha não as ferramentas passaram a ser integra­
só a memória, mas também o processa­ das e as linguagens subiram de nível
dor — prevê o especialista, que acres­ (aproxim avam -se da linguagem na­
centou: tural). (‘resceu a complexidade dos pro­
— Esse avanço da microeletrónica gramas, mas a produtividade dos pro­
facultará o surgim ento, em 1990, de gramadores também cresce, e deve con­
computadores de mesa, com desempe­ tinuar a crescer graças às novas ferra­
nho de 3 a 5 Mips (milhões de instruções mentas disponíveis.
por segundo), memória de 32 a 128 Mby- Daí por diante, até o início do ano
tes e memória de disco de 300 Mbytes a 1 2000. é de se esperar o emprego de pro-
Giga byte, tudo isto a um custo da ordem
de 10 mil dólares.
No outro extremo, deverá se chegar a
grandes m áquinas de 30 Gigaflops IMPACT0 DA AUT0MAÇÀ0 D0 "SOFTWARE"
(operações de ponto flutuante por se­
gundo), incorporando 8 a 16 processa­ Índices de
dores, memórias de 1 a 4 Gigapalavras
Produtividade*
endereçáveis, a custos entre 10 a 20 mi­
55- 65-
lhões de dólares. 65 80
Mas todo o potencial dessas máqui­ Milhares de
nas, em aplicações complexas tais como linhas de
CAD/CAM, só será aproveitado caso se software 2 100
modifique a maneira de se programar
Horas sem erro 1 103
computadores, afirmou Gerald Schu­
Produtividade
m acher, enfatizando ser necessário
gerar automaticamente programas, ter Relativa no Uso 1 103
linguagens gráficas de alto nível, bem Produtividade
como acessar banco de dados de maneira Relativa no
Desenvolvimento 1 10
simplificada.
Milhares de
Software Programadores
Profissionais 10 200
O cientista da Control Data gosta de Milhares de
dividir o desenvolvimento do software Usuários
em 4 períodos. A seguir sua visão da Programadores
área até o ano 2000: ' Dados para os EUA
gramas dotados de inteligência artifi­
cial, que facilitarão o uso dos computa­
dores — disse Schumacher acrescen­
tando que "os processos e soluções serão
do tipo reutilizáveis com o que a produ­
tividade no emprego de computadores
crescerá de nova ordem de grandeza.
Nesta fase, o usuário final dos computa­
dores não mais será um programador,
mas sim um indivíduo qualquer, que ne­
cessita empregar um computador. Os
próprios programas servirão de auxílio
para gerar novo software."
O futuro
Em direção ao futuro, é provável
que o processamento administrativo
passe a ocupar um lugar secundário
frente ao emprego dos novos conceitos
de base de conhecimento; de motores de
inferência e de inteligência artificial.
— Uma das grandes dificuldades do
uso de computadores é o desenvolvi­
mento de programas. E por isso que em­
presas ficam anos a fio com os mesmos
programas para não ter que reescrever
toda sua programação. Em 1990, esti­
ma-se que existirão 100 milhões de com­
putadores e para eles será essencial que
surjam novas metodologias para desen­
volver programas — enfatizou o execu­
tivo da CDC.
São três os requisitos para uma nova
tecnologia de software dos anos 90: codi­
ficação automática (não se escreverão
mais linhas de programas); metodologia
rigorosa e estável; e armazenamento de
soluções existentes devidamente catalo­
gadas.
Ao longo dessas idéias, a Control
Período Data vem desenvolvendo a metodologia
SASD (Análise de Projeto Estrutura­
dos) que inclui ferramentas tais como
80- 90-
90 2000 geração de diagrama de fluxo de dados;
dicionário de dados; e apresentação de
gráficos e textos. Segundo Gerald Schu­
1000 4000 macher, a empresa está submetendo ao
IEEE (associação técnica americana)
104 10b uma ferramenta para programação au­
tomática que ainda está nos primeiros
—
10* estágios de desenvolvimento, mas que
sem dúvida, será a chave do futuro.
Visto em perspectiva, o que se veri­
103 10,J fica é que a complexidade dos progra­
mas cresce de uma ordem de grandeza a
cada década, obrigando sua confiabili­
500 dade também crescer. Por outro lado. a
produtividade no uso e no desenvolvi­
mento de sistemas deverá melhorar com
300 as novas ferramentas colocadas à dispo­
sição do usuário final.