Page 4 - Telebrasil - Julho/Agosto 1985
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e d i t o r i a l
As em presas estatais ocupam lugar de des Se, por um lado, o paternalism o estatal,
ta q u e no d eb ate e lite ra tu ra econôm icos imobilista, pode acarretar consequências ne
atuais. O fascínio despertado por este tem a — fastas para a economia nacional, por outro, o
cujo interesse se estende para além dos cír capitalism o liberal não tem apresentado evi
culos políticos e de especialistas está li dências de resposta ao grande desafio da po
gado às circunstâncias histórico-conjuntu breza e da arrancada — ou retom ada — do de
rais que o País ora atravessa, notada mente senvolvi mtMito. Assim é que, sustentando as
no tocante à gestão da dívida externa o ao dé prem issas básicas da liberdade de comércio e
ficit público. da concorrência perfeita, — situações pouco
Todavia, à questão transcende à perspec prováveis e apenas parcialm ente observadas
tiva histórica do momento. Por detrás da dis nos ramos de um a economia nacional do ter-
cussão conjuntural trava-se, ao longo de m ais roirn mundo — o liberalismo econômico não
de duas décadas, um choque ideológico na for tem, salvo raras exceções, conduzido à forma
m ulação de um modelo de política econômica ção de poupança nacional e à acumulação de
que seja capaz de assegurar o máximo de efi capital, pelo menos nos níveis exigidos para
ciência, desenvolvim ento e bem -estar, m an romper a pobreza e o subdesenvolvimento.
tidas e preservadas as instituições dem ocrá Neste cenário surgem e se desenvolvem as
ticas. No caso particular do Brasil, a questão estatais, criadas para atender a condições es
vem configurando um a dualidade entre mo pecíficas, tanto no plano técnico quanto no
delos discursivos: paternalism o estatal e ca plano político, ligadas ao tam anho dos em
pitalism o liberal — situações extrem as que preendim entos, sua operacionalidade e al
inspiram variantes na gestão econômica da cance social.
adm inistração pública. Atuando em regime de monopólio e exer
As características econôm icas do estado cendo ação em áreas consideradas estratégi
p atern alista resultam , em grande parte, de cas para o desenvolvimento nacional, a em
seus efeitos sobre a produção. Pretendendo presa estatal estabelece program as de inves
assegurar padrões de vida e de consumo m í tim ento segundo um a escala de valores di
nimos a toda a população, o paternalism o es ferente da que se poderia supor em regime de
ta ta l estim ula investim entos, contribuindo m ercado. Q ual seria a preferência de uma
para aum ento da pi'odução. Sob este aspecto, em presa com objetivos privados, em condi
aplica recursos socialm ente recomendáveis, ções de liberalism o econômico: privilegiar se
na m edida em que possa rem unerar seus cus tores m ais ricos e opulentos da sociedade,
tos, aum entando a riqueza do País. E n tre onde as expectativas de taxa de retorno sobre
tanto, gera efeitos indesejáveis face à elevada o capital seriam m ais atraentes? Ou favore
trib u tação necessária ao financiam ento e à cer inversões, como, por exemplo, em progra
sustentação de um a política de bem -estar. A m as de interiorização das telecomunicações?
carga trib u tária passa a bloquear ou reduzir Assim, tendo em vista a multiplicidade de
a in ic ia tiv a dos ag e n te s econôm icos, cuja estágios de desenvolvim ento que coexistem
m argem de ganhos líquidos não m ais ju s ti no País torna-se necessário o emprego de em
fica os riscos do em preendim ento ou de sua presas estatais em áreas de alto interesse es
am pliação. Não raro , tam bém , a oferta de tratégico ou social. E stas em presas, porém,
serviços gratuitos ou subsidiados reduz o ím devem ser entendidas como organizações efi
peto pela busca de m elhores padrões de vida e cientes, lucrativas, apoiadas no consenso da
de m aiores níveis de renda m onetária. sociedade e dirigidas à integração econômica,