Page 18 - Telebrasil - Setembro/Outubro 1984
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Início dos anos 70.0 Brasil é o oitavo país do mundo como usuá
rio de informática, toda ela importada. O processo de absorção do
uso da nova tecnologia é acelerado, mas as tentativas para dominar
sua produção são inexistentes. Assim, o país se torna cada vez mais
dependente de tecnologias estrangeiras, situação que preocupa o
Governo, a indústria e a comunidade científica nacional.
Anos 80. A Cobra Computadores e Sistemas Brasileiros, empresa
genuinamente nacional, é o carro-chefe de uma indústria que já
conta com mais de 100 empresas, produtoras de peças e componen j • -
tes, e que dominam a tecnologia de projeto e produção de equipa
mentos, atendendo a maioria das necessidades do país no campo do
desenvolvimento da informática.
Há dez anos o Brasil clava seus pri nacionais. Por volto de 1975, surgia o
meiros passos no campo da informática: embrião de uma política de reserva de
surgia a Cobra Computadores e Siste mercado. A CAPRE (Coordenação de
mas Brasileiros, com o objetivo de domi Atividades de Processamento Eletrô
nar o desenvolvimento, produção e co nico) passou a controlar a importação de
mercialização de computadores no país, equipamentos, só liberada quando não I
criando assim uma tecnologia brasilei havia, através da Cobra, similar nacio
ra na área de processamento de dados. nal. Dois contratos assinados em 1976
Hoje, com cerca de 2.300 empregados, a colocaram a empresa um pouco mais por
Cobra se orgulha de ter mais de 8 mil dentro do mercado: o primeiro, com o
computadores desenvolvidos, produzi Centro de Pesquisas da Petrobrás, para
dos, comercializados e suportados por a simulação das condições encontradas
brasileiros, com tecnologia 100 por em suas usinas; e o segundo com a em
cento nacional. presa Makro Atacadista, onde foram
A Cobra surgiu da preocupação de di instalados terminais acoplados a im
versos segmentos da sociedade brasilei pressoras em cada caixa, ligados a um
ra com a crescente dependência do país computador central, para emissão de fa
em relação á tecnologia estrangeira. As turas e controle de estoque. Mas, nessa
sim, em 1974, a partir dos estudos de um época, o trabalho era feito praticamente
Grupo de Trabalho Especial, formado caso a caso.
por representantes do Ministério da Em 1977, começou efetivamente a
M arinha e da Secretaria do Planeja implantação de uma política nacional
mento, foi criada a Cobra, incentivando de informática, com o estabelecimento,
o desenvolvimento de uma tecnologia pelo Governo, da reserva de mercado.
brasileira de informática. Na época, a Cinco empresas nacionais foram sele
Marinha precisava de uma empresa na cionadas para atuar na área de mini
cional para garantir a manutenção e computadores, e a Cobra estava entre guimento ao projeto industrial da em
utilização adequada dos computadores elas. Náo para enfrentar as multinacio presa. Dessa forma, os principais proje
comprados à empresa inglesa Ferranti, nais, que trabalhavam com equipamen tos na área de informática em desenvol
sua fornecedora, que equipavam as cor tos de grande porte, mas começavam a vimento no país foram centralizados na
vetas brasileiras. Ao mesmo tempo, o se interessar pelos segmentos de mini e Cobra: o minicomputador G-10, pionei
BNDE incentivava a indústria eletrô microcomputadores, e desenvolver a ro no Brasil, desenvolvido pela USPe
nica digital brasileira através de convê tecnologia nacional. Neste mesmo ano PUC - RJ, e os terminais remotos e de en
nios com a Universidade de São Paulo decidiu-se fortalecer a empresa. Seu ca trada de dados desenvolvidos pelo Ser
(USP) e Pontifícia Universidade Católi pital foi aumentado com a participação pro. A equipe de desenvolvimento da
ca do Rio de Janeiro (PUC), que desen de um pool de bancos, das Bolsas de Cobra estava formada, com profissio
volviam em seus laboratórios projetos Valores do Rio e Sào Paulo, além da Di- nais que criavam a tecnologia brasileira
adequados às necessidades brasileiras. gibrás, Serpro e BNDE. O Governo pas nas universidades e empresas.
Os pesquisadores do Serpro também sava a controlar 61% da Cobra, ficando O primeiro passo foi absorver e apri
trabalhavam em projetos semelhantes. os restantes 39% com a iniciativa pri morar tecnologia adquirida no exterior
Dessa conjunção de fatores, nascia a vada, representada pelos bancos. Assim, a partir do minicomputador Ar
Cobra. Como entrar efetivamente no merca gus 700, fabricado pela Ferranti, os téc
No início, a Cobra náo tinha penetra do? O mais importante era formar pes nicos brasileiros desenvolveram um
ção no mercado dominado pelas multi soal especializado, capaz de dar prosse- produto adequado às necessidades do
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