Page 31 - Telebrasil - Março/Abril 1984
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A estretégia do governo para vencer a crise centra-se na re mente sensível para a economia — , as taxas de juros serão as
dução da dependência de recursos externos e no crescimento da mesmas de hoje (10% e s p r e a dde 0.05% ) e a remuneração por
poupança interna, em especial do setor público. Para tanto, es aumento de produtividade será considerada zero.
tabeleceu a Seplan uma drástica redução dos subsídios como os A Sest ainda previu: inflação média de 150% (em dezembro
do trigo, dos derivados de petróleo e das taxas de juros. deste ano deverá se situar em 75%). desvalorização do cruzeiro
frente ao dólar de 147%, INPC de 130% e correção monetária de
O controle sobre as estatais é severo, não fosse o Governo
129%. Visto sob este prisma, e tomando como base uma infla
seu acionista majoritário. Os orçamentos fiscal, monetário e das
ção de 150%, o total de 66,6 trilhões de cruzeiros autorizados
estatais são controlados pelo Comitê Internacional de Acompa
para o dispêndio das estatais em 84 representa, feitas as devidas
nhamento do Orçamento Público, que atende pela sigla de Co-
contas, 3% menos do que o total aprovado em 83.
mor. As estatais só podem autorizar despesas para investimen
Todavia cresceram, em termos reais, do lado dos dispêndios:
tos se amparadas em ordem de compra, ordem de serviço ou
as amortizações externas (25% maiores do que em 83) e os en
nota de empenho e mesmo assim até o valor máximo do orça
cargos financeiros externos (14%), refletindo o esforço dos Esta
mento e independentemente da programação física.
dos para saldar seus compromissos com os credores estrangei
Os compromissos das empresas deverão ser liquidados nos
ros. Por outro lado, os empréstimos externos em moeda cres
respectivos vencimentos, para não acumular reservas indevidas
cem de 27% e o crédito, em bens, permanece praticamente o
e um orçamento especial limita em 1.97 milhões de dólares as
mesmo.
importações diretas e em 115 bilhões de cruzeiros as compras de
bens estrangeiros no mercado nacional.
E ainda existe um orçamento que limita o consumo de com
bustíveis e prevê uma redução para 84 de 7.2% do total de litros
aprovados para 1983. Minas, Energia e Comunicações
são prioritárias em 84.
Os grandes números
Dentro da contenção geral
O dispêndio global autorizado para as estatais em 84, isto é, o serão segmentos menos
limite máximo financeiro que não deve ser ultrapassado é de afetados em seus investimentos.
66,6 trilhões de cruzeiros. Destes, 92% cabem às Empresas do
Setor Produtivo e 8% às Entidades Típicas do Governo, sendo
que as primeiras operam com 75% de recursos próprios e as últi
mas com 63,2% de recursos originários do Tesouro.
Do lado dos dispêndios, 75% do seu valor são consumidos Duas rubricas permanecerão mais ou menos inalteradas em
pelas despesas correntes (48,9 trilhões de cruzeiros), ficando o relação aos valores de 83 (descontados os efeitos da inflação): as
restante para ser dedicado às despesas de capita (17.6 'xilhões). despesas com pessoal e os encargos financeiros internos.
A despesa corrente tem como maior parcela de 32,9 trilhões O mesmo já não acontece com a rubrica de “ outros cus
“os outros custeios” , representando bens e serviços necessários teios” , que apresenta um acréscimo real de 15%, explicada pela
à realização do negócio, como matérias-primas, serviços de ter Sest como entrada em operação durante este ano de novos pro
ceiros e insumos diversos. A despesa corrente se completa com jetos na área de siderurgia, petróleo e mineração e que consu
as parcelas correspondentes a encargos e salários (8 trilhões), mirão mais insumos. Outro fator de aumento, no entender dos
encargos financeiros externos (6.3 trilhões) e internos (1.7 tri planejadores, é a diminuição dos prazos para a obtenção de ma
lhões). térias-primas do exterior, notadamente carvão e petróleo, o que
As despesas de capital por sua vez englobam: o investimento onera todo o processo. Só a Petrobrás participou com 66% do
físico (10.2 trilhões de cruzeiros), a amortização dos emprésti total desta rubrica.
mos externos (3.8 trilhões) e internos (1.4 trilhões), além das
aplicações financeiras e outras (2,7 trilhões) e de transferência A luta pelos recursos
de capital.
Finalmente, a contrapartida de recursos para equilibrar estes A proposta orçamentária para 84 apresenta um acréscimo
dispêndios tem como maiores parcelas: a receita operacional real dos seguintes recursos: receita operacional (16%), recursos
(69%), o crédito externo em moeda (15%) e em bens e serviços em moeda externa, como já mencionado, e crédito interno de
(4%), além da contribuição do tesouro (9%), de recursos pró bens e serviços (10%).
prios (8%) e de crédito interno (3%), computando-se cerca de Serão porém proporcionalmente menores do que em 83: os
8% de variações e de transferências para fechar o orçamento. recursos do Tesouro e as operações de crédito interno em moe
da, decorrente das contenções previstas no Governo e no sis
O que muda em 84 tema financeiro do país.
O aumento da receita não será uniformemente distribuído
*
Os dispêndios nominais para este ano ficaram 153% acima entre as estatais. As tarifas de energia elétrica e o preço dos pro
dos 27,5 trilhões de cruzeiros aprovados para 83, que só têm siq- dutos siderúrgicos têm um crescimento previsto de 5% acima da
nificado em termos de variação real se levadas em conta as hipó inflação, necessário para equilibrar o elevado endividamento
teses adotadas peia Sest para assegurar a validade de suas previ dessas atividades. Os preços do petróleo e de seus derivados
sões. Segundo os planejadores do Governo, não deverá ocorrer serão regidos pela variação cambial dentro da política de elimi
novo “ choque” nos preços do petróleo — um item particular nação dos subsídios ao consumo.