Page 119 - Telebrasil - Setembro/Outubro 1982
P. 119
O LANÇADOR ARIANE
O lançamento dos satélites brasileiros, em órbita, será feito a empresa contratada para o lançamento dos satélites domés
em duas etapas. A primeira, em fevereiro de 1985. A segunda, ticos brasileiros, esta é "uma sociedade francesa constituída
em julho, até o dia 13, de acordo com a previsão dos cientistas. por um grupo de indústrias e bancos europeus dedicados à pro
Os satélites serão transportados pelo foguete Ariane, da Aria- dução e comercialização dos lançamentos de satélites”. A de
nespace, da França, e foi escolhido por dispor de datas em 1985 nominação Ariane se aplica a uma família de foguetes apre
e levar dois satélites, o que reduz os custos. Outra opção, o sentando versões sucessivas, à medida que a própria tecnolo
Columbia, foi descartada por falta de data, embora possa levar gia evolui.
até quatro satélites. Como o foguete Ariane partirá da Guiana, O primeiro lançamento experimental do foguete Ariane
próximo ao Equador, os técnicos têm garantido que a vida útil ocorreu ao final de 79, da base de Kourou, na Guiana Fran
dos satélites poderá alcançar oito anos, um a mais do que os cesa, marcando o ingresso de um novo membro do exclusivo
convencionais. clube espacial. A Arianespace detém contratos para o lança
O foguete Ariane (francês), que lançará o satélite domés mento de 35 satélites e tem reservas para o lançamento de 14
tico, terá 49 metros de altura (um edifício de 16 andares) e outros, incluindo artefatos americanos e árabes, além do pró
3,8m de diâmetro. Pesa 1.140 quilos, podendo chegara 1.190, prio Intelsat e Inmarsat (com um satélite lançado ao fina) de
dependendo da quantidade de combustível que levar. O satéli 81).
te fabricado pela Spar tem um diâmetro de 2,16m e 7 metros e
9cm de altura. Uma vez no foguete, o satélite terá 2,94m, de O Projeto
vido a retração da antena e tambor.
O foguete coloca 4.500kg em órbita baixa (200 a 300km i e
Origens 1.700kg em órbita de transferência (200km de perigeu e
35.800km de apogeu). A carga útil, em órbita geoestacionária,
Até bem pouco tempo somente os Estados Unidos e a Rússia será funçào do motor de apogeu empregado, e é da ordem de lt
eram capazes de fabricar veículos lançadores capazes de colo para um motor do tipo Intelsat V.
carem-se em órbita. E assim que para a série dos satélites A tecnologia do Ariane é fruto do desenvolvimento de fo
"Symphonie”, alemães e franceses precisaram recorrer a um guetes passados, como por exemplo o Diamant. Retiveram-se
veículo lançador americano. Em contrapartida, segundo co os motores Vicking para os 1." e 2." estágios, visto terem atin
menta uma publicação européia, o contrato feito pela NASA gido um bom nível de desenvolvimento. Para o estágio su
estipulava que estes satélites náo poderiam prejudicar de ne perior optou-se por um sistema de propulsão "criogênica”. mo
nhum modo a indústria americana — isto significando que de vido a oxigênio e hidrogênio líquidos e que utiliza componen
fato náo poderiam ser utilizados em serviço comercial. tes do parque industrial francês (bombas-turbo e reservatório
Frente à crescente importância econômica e política do de ergóis) e alemão (câmaras de combustão para alta e média
mercado mundial das aplicações espaciais — cerca de 200 sa pressões).
télites geoestacionários esperados para o decênio 1980-1990 O projeto final de propulsão adota um primeiro estágio qua-
—, a Europa decidiu assegurar para si a autonomia necessária dri-Vicking, de 145t de ergóis (para os leitores mais curiosos: o
para a execução de seu próprio programa espacial e também dimetilhidrazine assimétrico UDMH e o peróxido de nitrogê
participar deste vasto mercado. nio N20 (); um segundo estágio de 34t com os mesmos ergóis.
Em 73, a Organização Européia de Pesquisas Espaciais — porém com um motor Vicking adaptado para operar no vácuo:
transformada em 1975 em Agência Espacial Européia (ESA) e para o terceiro estágio o motor HN-7 carregado com 8 t de
— toma a decisão de iniciar o desenvolvimento de um lançador ergóis criogênicos. [Nota: ergol ou propergol é a designação
pesado, chamado Ariane, adaptado ao conjunto das necessida técnica dada ao conjunto de combustível "que queima" e do
des previstas para o próximo decênio. comburente "o que faz queimar"). Na queima ao ar livre, o
Concorrem para financiar este empreendimento cerca de comburente é o oxigênio contido na atmosfera.
609í de capitais franceses, 20% de capitais alemães e o res Os tanques de ergóis empregam metais clássicos e dimen
tante distribuído entre Bélgica, Dinamarca, Espanha, Itália, sões padrões, ao passo que se utilizam ligas e técnicas aeronáu
Países-Baixos. Reino-Unido, Suécia e Suíça. ticas para construir as estruturas de ligação interestágios, as
Em 79, firma-se um protocolo de acordo definitivo que de saias e a coifa. O sistema elétrico Ariane é do tipo integrado,
signa como entidades coordenadoras do empreendimento o com funções centralizadas, e lança mào de componentes indus
Centro Nacional de Estudos Espaciais (CNES) e a Sociedade triais padronizados. Ficará assim marcada significativamente
Nacional de Indústrias Aeronáuticas e Espaciais (SNIAS/Ae- o início da era do Satélite Doméstico de Telecomunicações no
rospatiale), esta para a parte industrial. Brasil. A contagem regressiva ja começou e vamos esperar
Nas próprias palavras do presidente da Arianespace, que é 1985.
Foto do primeiro lançamento experimental
do foguete Ariane, que ocorreu no Final de
1979, na base de Kourou, na Guiana
Francesa, marcando o ingresso de um novo
membro do exclusivo clube espacial. Este
modelo será também o lançador do satélite
brasileiro em fevereiro e julho de 1985. ?