Page 12 - Telebrasil - Novembro/Dezembro 1981
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A exposição feita por Anthony Seeger,
sociólogo do Museu Nacional, foi sobre
as sociedades indígenas do Brasil, hoje.
Baseando-se nos meses em que viveu
numa aldeia Suyá, no Alto Xingu, See
ger observou os modos de comunica
ção‘entre os pequenos e bastante isola
dos grupos indígenas da região — a co
municação formalizada dentro da co
m unidade, que indica com quem ,
quando e como falar, a importância
dada ao canto, a memória treinada, e o
multilingüismo característico do alto
rio Negro, em que cada indivíduo do
mina pelo menos quatro línguas indí
genas e deve casar-se num grupo de
línguas diferentes daquela da comuni
dade de seu pai.
Os meios de com unicação têm sido
bem utilizados, pois os índios não os
absorvem, sim plesm ente — usam a
técnica para circular seus valores. Com
o gravador, já muito popular, regis
tram músicas, discursos políticos de
seus chefes e circulam as fitas pelas ou
R o b e r t o d a M a l t a , a n t r o p ó l o g o d o M u s e u
Nacional: "Falar de Antropologia é ter que falar de tras tribos, dentro do sistema de trocas
comunicação." que lhes é usual. Usam o rádio só para Anthony Seeger, do Museu Nacional: "Uma An
ouvir música, pois não entendem por tropologia da Comunicação deve investigar não
somente o que é falado, mas o que não é falado e
tuguês. Anthony Seeger ilustrou sua
BabakárSine, especialista em comunica ainda assim comunicado."
exposição com um filme sobre os índios
ções do Senegal, procurou precisar os
Suyá, em que é destacado o canto como
contornos do embate entre as podero empresa técnica tem que ter a visão do
sas tecnologias formadas pelos medias, modo de expressão indígena. homem para bem utilizar a tecnologia.
sistemas audiovisuais, e a cultura tradi Ora, se para que se possa ter uma visão
Para o engenheiro Jorge Pedro Dalle-
cional africana, eminentemente oral. compreensiva de qualquer área do co
done de Barros, chefe da assessoria de
Como pontos positivos, Babakár Sine nhecim ento humano mister se faz a
desenvolvimento da Embratel, "um a
vê a contribuição à preservação das tra busca de um modelo adequado, nada
dições orais próprias; o suporte a uma mais justo que se busque, na própria
comunicação interna entre as diversas com unicação hum ana, a inspiração
culturas africanas que, isoladas, ten para esse modelo."
deriam ao estiolamento; e como forma
de dinamizar o meio rural, através de Por meio de gráficos, Dalledone apre
programas de rádio nas línguas locais e sentou um modelo explicativo da co
que permitam às massas rurais partici municação natural humana e mostrou
par da vida política (o que já é feito no como as telecomunicações intervêm no
Senegal e na Nigéria de forma incipien papel de substitutivo do meio natural;
te). historiou as várias soluções encontra
das para "burlar" o meio, finalizando
O aspecto negativo central é que, atra sua exposição com uma reflexão sobre
vés da importação maciça de filmes e de em que as telecomunicações contri
programas de rádio e TV, "a cultura buem para a sociedade.
africana desvia-se de seu curso pró
prio, abafada por uma outra lógica cul A comunicação entre as sociedades an
tural, externa." dinas do antigo Peru foi o título da
palestra feita pela Prof.* Ruth Shady
Para não emudecer a voz africana é pre Solís, chefe da área de pesquisa do Mu
ciso, segundo Sine, deter este desvio, seu Nacional de Antropologia e Arque
dando aos africanos mensagens de afri ologia de Lima. Foi há cerca de 3.000
canos. Em outros termos, os meios de anos a.C . que estas sociedades for
com unicação de m assa, explorados maram organizações complexas, que
num contexto sócio-político favorável à num processo evolutivo, já entre 300
iniciativa cultural popular, podem con a.C. e 200 d.C. possuíam governo esta
verter-se em instrumentos úteis para belecido, sociedade hierarquizada e
edificar uma nova cultura africana — vida urbana. Nesta época, apoiado na
reforçando a sua identidade cultural e lhama e em pequenas embarcações, os
abrindo-as para o mundo de uma ma contatos por terra e mar se intensifi
BabakárSine, da Universidade de Dakar, Senegal:
neira que não seja efe pura absorção, "A identidade cultural africana conseguirá resistir caram e estabeleceu-se o comércio en
mas de interação. ao embate das modernas tecnologias de T C ?" tre regiões distantes.