Page 11 - Telebrasil - Novembro/Dezembro 1981
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O Sem in ário de A ntrop ologia e realizam como um sistema cíclico de
ocupou o primeiro dia dos tra
trocas recíprocas (idéias e valores), tro
balhos do Painel Internacional
Telebrasil. Foi uma troca de conheci cas estas que se expressam por meio de
códigos múltiplos (visual, sonoro, ges-
mentos e informações sobre os primór
tual, político etc.), todos básicos na his
dios da comunicação em sua fase ape
tória da humanidade, que hoje privile
nas oral e uma reflexão sobre o impacto
gia o código visual (TV, fotografia,
cultural ocasionado pela introdução da
cinema), o que não anula os demais.
tecnologia avançada dos meios de co
m unicação em com u n id ad es prim i O arqu iteto H ernán C respo Toral,
tivas. diretor do museu do Banco Central do
Equador, iniciou sua palestra obser
— É uma oportunidade única! Comen
Roberto Marinho, presidente c/.is Organiza vando que "a comunicação na América
tava entusiasm ado, já no encerramento ções Globo, mi abertuni solene do Seminário, do Sul não é feita com a regularidade
do Seminário o sociólogo senegalês Ba- ressaltou que "a marcha das civilizardes se la/ desejada, daí a ressonância deste en
passo a passo, segundo a capacidade de se co
bakár Sine. — Veja a diversidade dos contro. Vivemos de costas uns para os
m u n i c a r e m q u e t ê m o s h o m e n s e a s
participantes — Brasil, Equador, Peru, sociedades''. outros e por isso quero comunicar-lhes
a África rep resen tad a por mim — e o que é o Equador, do ponto de vista
dentro desta diversidade, a unidade geográfico, sociológico e histórico."
dos problem as. Apesar de meios cul trado que o homem se fez por meio dos
turais diferentes, os problemas que de diversos meios de comunicação que de Definindo a cultura como a ideologia
safiam os nossos países, no plano da cidiu adotar para exprimir suas rela que nasce de um embate do homem
antropologia cultural, são os mesmos. ções com os outros tornou-se genui com o universo, Hernán Crespo co
São os problem as de dar à população namente humano quando transformou meçou por uma descrição da geografia
acesso a m ensagens que não as desna o grito numa palavra e inventou um equatoriana, país ensolarado e for
cionalize, mas que digam de sua reali mundo contingente, mas regulado por mado por três regiões naturais: costei
dade, de sua verdade; é a democratiza mensagens e símbolos. ra, amazônica e andina, uma "avenida
ção da comunicação, de modo que ela de vulcões". O homem chegou aí cerca
sirva à form ação social e cultural das Numaantrc apologia das comunicações de 10.()()() anos a.C. e criou uma cultura
dado fundar am ental: o ho
populações. Os organizadores do Pai este é um dado fund comum a toda a região andina. Sem
nel estiveram muito bem em não dedi mem, diferentemente dos animais, não animais de transporte, inventou a bol
car-se apenas à parte técnica das comu tem com o meio onde vive uma relação so, um embrião de navio que foi, nesta
nicações, pois estas não são apenas um direta e instrumental, mas uma relação região pacífica, um forte veículo de co
meio, um canal, mas referem-se basica mediada por sinais, símbolos, lingua municação e transporte de hom ens,
m ente ao hom em e ás relações entre gens. Por outro lado, também está su idéias.e bens.
eles. jeito a necessidades básicas universais,
mas as satisfaz de modos diversos (é Em 1526 os espanhóis chegam ao Equa
Na abertura do Sem inário Antropoló preciso comer, porém nem todas as so dor e abrem uma nova época, a da co
gico, o mesmo tema foi abordado pelo ciedades comem do mesmo modo). Os municação escrita. Eem 1950 o país, até
presidente da Telebrasil, Helvécio Gil modos correspondem a área da cul então agrário e quase bucólico, sofre o
son, ao d eclarar que "a intenção da tura, à ideologia e ao sim bólico e é embate das tecnologias modernas, cu
Telebrasil é clara, ao buscar a tão neces quem dá identidade aos grupos sociais. jos motores, o rádio e a TV, provocam
sária aproxim ação da cultura técnica E neste ponto que se com preende a uma crise etno-cultural, ou nas pala
vras p o éticas de H ernán C resp o ,
com a cultura hum anística, pois a pri afirm ação de que o hom em é a sua
meira só ganha todo seu sentido em m ensagem . Quer dizer, o estudo de "colocam o desafio da identidade na
pluralidade, em que tem um papel defi-
função da segund a." E Roberto Mari uma sociedade é, de fato, o estudo da
nho, presidente das Organizações Glo quilo que seus membros dizem, fazem mitivo a comunicação." }
bo, ao discursar lembrou o tema central
Na mesa de honra do Seminário de Antropologia, as presenças de Luis Carlos Sampaio, vice-presidente da
do painel — o futuro das telecomunica I mbratel. de Helvécio Gilson, presidente da Telebrasil e do jornalista Roberto Marinho.
ções nos países em desenvolvimento
ao afirmar que "onde há longos espa
ços a u n ir, a in d a há c iv iliz a ç ã o a
realizar."
Seguindo-se à abertura solene, foram
feitas seis palestras por representantes
do Brasil, Equador, Peru e Senegal, que
também responderam a perguntas fei
tas pela platéia, bastante participante.
A primeira exposição, feita por Roberto
da Matta, antropólogo do M useu Na
cional do Rio de Janeiro, foi uma refle
xão sobre: Antropologia e Com unica
ção, lembrando a frase "o homem é um
animal que com u n ica", m ostrou que
todos os estudos de Antropologia So
cial dos últimos 100 anos têm demons-