Page 70 - Telebrasil - Março/Abril 1981
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Propomo-nos a pensar alto com os leitores, mesmo período 1960-1977, conclui que pessoas trabalhando juntas, tendo coordena
a partir de nossa vivência como dirigente em ainda ficou um enorme saldo de problemas das suas atividades individuais ou grupais. 0
presarial em apreciar encaminhamento de sociais não resolvidos. Em 1977, ainda con relacionamento indivíduo x organização nem
soluções que contemplem, prioritariamente, távamos com 22 milhões de analfabetos de 7 sempre é harmônico e satisfatório; muitas ve
a redução das desigualdades sociais. anos de idade ou mais; 2 milhões de menores zes passa a ser tenso e conflitivo. Há necessi
Muito embora, como dirigente empresarial abandonados; 5 milhões de trabalhadores sem dade, no entanto, de se buscar uma integração
e como cidadão, estejamos conscientes da remuneração; 5 milhões de famílias vivendo efetiva entre os interesses individuais que o
gravidade dos problemas com que se defronta abaixo da linha de pobreza ou remuneração empregado procura satisfazer ao dedicar-se a
a sociedade brasileira, notadamente a elevada até um salário-m ínim o; 20 m ilhões de uma atividade na organização e os interesses
taxa de inflação, o crescente endividamento carentes totais. desta. A responsabilidade pela integração de
externo, a situação energética e os prenúncios Diante desse quadro, os governantes, diri sejada e necessária recai sobre a alta adminis
de desemprego, nos preocupa, sobretudo, a gentes, empresários, líderes têm numa mis tração da organização, ou seja, sobre o líder.
indiscutível tendência do Brasil para a ampli são a cumprir, e, dentro da sociedade capi De um lado, as organizões recrutam e selecio
ação das desigualdades sociais e, de fato, é talista, uma solução para o problema social nam seus recursos humanos para, com eles e
notório que esta desigualdade tem as mais precisa ser encontrada. Com o desenrolar do por m eio d eles, alcan çar os objetivos
variadas consequências para os indivíduos, tempo, é pouco provável que o perfil da eco organizacionais; por outro lado, os indiví
para a empresa e para o próprio sistema polí nomia continue elitizado, atendendo a menos duos, uma vez recrutados e selecionados, têm
tico e social. de 5% da população. O estudo de uma objetivos pessoais que lutam para atingir e,
Vejamos:
“ Economia Popular” deve §er uma preocu muitas vezes, servem-se da organização para
• A nível individual: a desigualdade é sem
pação marcante no empresariado, especial consegui-los.
pre fonte de frustrações, de sofrimento e não
mente nos setores industrial e comercial. Téc- Em vista do exposto, e dada a complexi
raro até de humilhação. Ela predispõe os que
nicas de produção altamente sofisticadas de dade do problema, podemos concluir que as
não usufruem das benesses do sistema econô
verão dar lugar a um melhor aproveitamento lideranças empresariais desempenham um
mico vigente para o questionamento puro c
da força de trabalho humano, buscando um papel importante na sociedade, desde que de
simples dos seus princípios básicos.
ajustamento do perilI da economia ao da po senvolvam as .suas atividades voltadas para
• A nível econômico: a desigualdade é si
pulação. Dever-se-á buscar, cada vez mais, a os interesses de sua organização, mas tam
nalizadora de demandas dcsbalanccadas e,
integração do empregado e do empregador, bém , que levem na devida conta os interesses
nesse sentido, orientadora de um estilo de
buscando uma otimização para a estrutura
crescimento direcionado para atender os que
econômica — representada pela organização
podem e excluir os que não podem comprar
— e para a sociedade — representada pela
— o que, por sua vez, acaba agravando a ten
força de trabalho.
são social embutida na sociedade. Necessidades
A organização, ou a empresa, é formada
• A nível político e social: a desigualdade de Segurança
por sistemas tecnológicos e utiliza conheci
constitui um sério obstáculo ao planejamento,
mentos e técnicas para cumprir as suas tarefas
ao mesmo tempo que opera como fonte per
e os seus objetivos. Constitui-se na integração
manente de inquietações, aproveitadas por
de atividades estruturadas, que implica em
grupos radicais no sentido de deslocar a socie
dade de seu equilíbrio democrático.
Estamos diante de uma era cie expectativa
e de incertezas. No limiar de uma nova déca
da, o que nos espera nos próximos dez anos,
para citarmos apenas a década de 80? Década
na qual estamos trabalhando e vivendo hoje.
A humanidade evolui e sc desenvolve,
com tendências historicamente comprovadas
quase sempre levando ao pessimismo: a po
pulação pobre crescendo continuamente c a
diminuição cada vez mais evidente de líderes
autênticos.
Restringindo nossa observação ao mer
cado brasileiro, para uma população de apro
ximadamente 120 milhões de habitantes, algo
e as necessidades dos indivíduos, ou seja, dos
como 50% dessa população vive marginali
empregados que para elas trabalham. Em
zada da economia, em miséria absoluta ou
outras palavras, a relação entre o empregado
com renda de até um salário-mínimo. Estatís
e o empregador deve ser necessariamente
ticas do IBGE mostram que 80% da popula
simbiótica, o que significa a associação em
ção brasileira decresceu na participação da
que ambas as partes recebem benefícios,
renda entre 1960 e 1977. Apesar de progres
ainda que em proporções desiguais. Sabe-se
sos havidos, um estudo levado a efeito pelo
que, à medida que um indivíduo amadurece,
professor Rubens Vaz da Costa, para o
ele desenvolve padrões de hábitos, que, so-