Page 35 - Telebrasil - Julho/Agosto 1980
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ao considerar as possibilidades de substituir o possível — não necessariamente desejável — adiantando que os transceptores deverão ter cir
teclado por inputs verbais. para as pessoas engajadas no que chamamos de cuitos de informação e recuperação bastante
serviços de colarinhos brancos fazer 95% de sofisticados e uma memória para manter algu
As possibilidades do console como aparelho de seu serviço sem sair de casa” . m as cen ten as de n ú m ero s m ais u sad o s.
informação e diversão são virtualmente ilimita “ Assim” , acrescenta, “ talvez sejamos força
das, acrescenta Clarke. “ A qualquer mo dos a combinar em uma simples unidade alta
mento, poder-se-á pedir todas as manchetes de O console doméstico mente portátil, não apenas os equipamentos de
jornais na tela e transformar um dele m- substituirá o telefone comunicações, mas algo como as calculadoras
teresse particular em uma história compit . u de bolso de hoje, bancos de dados, circuitos dc
domiciliar.
vários níveis de detalhe. Pela primeira vez, processamento da informação, e tc .” No fu
conclui, será possível obter serviços de infor turo, o indivíduo carregará uma espécie dc se
mação com rapidez, seletividade e detalha Ele admite que poucas pessoas de hoje po cretária eletrônica no bolso.
mento. deriam sobreviver a isso e continua afirmando
que o console doméstico ficará no futuro encar Há ainda o fato dc que o tipo dc trabalho mecâ
E adianta que o jornal eletrônico, “ além de to regado da maioria da correspondência dc pri nico que ocupa atualmente 99% da humanidade
dos os seus outros méritos, terá ainda duas gi meira classe de hoje. O aparelho guardaria as por mais de 99% de sua existência será feito
gantescas vantagens ecológicas: preservará flo mensagens cm sua memória e seria necessário pelas máquinas. Acrescente-se aí o fato de que
restas inteiras para a posteridade e acabará com apenas apertar um botão de playback para que a maioria das pessoas ficará entediada, não
a coleta deste tipo de lixo. Só isto basta para ele datilografasse a mensagem, havendo a al tendo nada para fazer, ficando somente aos in
justificá-lo e pagá-lo’’. Ele já inventou até um ternativa dc poder-se chamar a pessoa do outro divíduos altamente educados as chances de
nome para as pessoas que passarão a maior lado para uma conversa face a face. evoluir, ou talvez até mesmo de sobreviver. Os
parte do seu tempo grudadas no console para inadaptáveis se destruirão e a seu meio am
saber o que está acontecendo, não importa onde E daí que Clarke se sente incomodado pela biente por simples frustração, diz Clarke, que
— “os informaníacos” . questão dos fusos horários. “ Vai ser intolerá já vê esse problema nas cidades decadentes.
vel a aldeia global eletrônica. Seremos todos
“Pense em seu computador de bolso e caminhe vizinhos, mas apenas um terço de nós estará
sem medo para o futuro, tentando imaginar o acordado a um dado momento” . E conclui:
sistema de comunicação ideal, que satisfaria a “ As estradas dc ferro e o telégrafo mostraram o
todas as possíveis fantasias“ , diz Clarke, ima inconveniente dos fusos horários no século
ginando que ainda que a maioria das pessoas vá XIX; a rede global de telecomunicações do sé
estar discando números em 2001, há poucas culo XXI deverá aboli-los. Um horário único
dúvidas de que antes de 2076 já se possa sim será estabelecido em todo o planeta” .
plesmente dizer ao console doméstico: ‘ * Ligue-
me com Bill Smith” , c a ligação se efetive. “ Ao longo do d ia ” , prevê C larke, “ po-
deremos usar o console para falar com amigos e
E quanto aos preços? “ Não importa” , argu tratar dc negócios, exatamente como se usa o
menta Clarke, “ chegará o tempo em que não telefone hoje, com a diferença de que será pos
será mais necessário trocar o último modelo pelo sívcl trocar qualquer quantidade de informação
modelo do ano” . Para ele, tudo alcança seu pa visual ou gráfica” .
tamar tecnológico, passando todas as mudan
ças a limitarem-se apenas ao estilo. “ Isto é ób O telefone de pulso, individual, através do aual
vio quando se observam objetos domésticos fa podemos contatar qualquer pessoa, não importa
miliares como cadeiras, camas, mesas', facas, onde, será uma bênção que poucos poderão re
garfos” . E adianta que o computador de bolso jeitar. Argumenta que o telefone de pulso po Até que ponto se realizarão todas essas profe
poderá ser passado de uma geração a outra, deria salvar milhares de vidas por ano. “ Todos cias e até que ponto as mesmas irão representar
como já foi o caso dos bons relógios antiga nós conhecemos tragédias — acidentes em es progresso dentro das prioridades sociais de
mente . tradas solitárias, viajantes perdidos, botes vira cada povo, são as perguntas que nos ocorrem
dos, até mesmo velhinhos em casa — onde al quando da verdadeira barragem de notícias,
Notando que o telefone é um aparelho tão sim gum meio de comunicação teria estabelecido a tentando adivinhar, ou quem sabe, encaminhar
ples, que até mesmo o século XIX poderia pro diferença entre a vida e a morte” . o futuro.
duzi-lo em massa, Clarke sustenta que o con
sole completará a evolução iniciada pelo tele Clarke comenta o acessório invariavelmente (Pesquisa e Editoria TELEBRASIL)
fone. “Estamos chegando ao ponto onde será esquecido do telefone de bolso — o catálogo,
A TELEBRÁ S, holding da área, está — As estatais têm apetite de orca ártica e
de castigo: não pode lançar um único não aceitam crescer abaixo de 20 por cento
projeto de janeiro a dezembro, limi ao ano. Mas eu prefiro tranqüilizar os forne
A C r i s e tando-se a executar os já iniciados. cedores e os consumidores das estatais: o
que estamos cortando é o vento e não o in
Com autorização para investir, no máximo,
Joelmir Beting assim se refere ao setor, na Cr$ 63 bilhões, a TELEBRÁS avisa que vai vestimento. Ou seja: estamos congelando
coluna “ Tigre na Jaula” , publicado no O instalar apenas três telefones em cada dez projetos sem recursos ou obras sem ver
Globo de 18 de junho de 1980: projetados e vai desativar a contagem re bas, cortando o querer fazer, que é muito
gressiva do lançamento do nosso primeiro maiór que o poder fazer. E não vejo novi
“ 0 setor de telecomunicações, o mais dura dade na decisão de autorizar apenas o possí
satélite artificial...
mente atingido pela retránca palaciana, os vel, descartando o desejável: está no discur
tenta hoje uma capacidade ociosa de 65 por Em Brasília, o Ministro Delfim Netto torce so de posse do Presidente Figueiredo, publi
cento, quase empatando com o ramo do ma o nariz e garante que o tigre ruge de barriga cado no Diário Oficial da União de 16 de
terial ferroviário, ainda forp dos trilhos. cheia: março do ano passado.”