Page 21 - Telebrasil - Julho/Agosto 1980
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O s e n t i d o e s t r a t é g i c o
d a i n f o r m a ç ã o
cros, agiriam de acordo com suas conveniên
“A Sociedade Industrial será cias. Se diversos fabricantes, de importância
mais ou menos idêntica, tivessem essa tarefa a
substituída pela Sociedade da seu cargo, seria lícito esperar uma relativa neu
Informação”, dizem Nora e tralização dos efeitos adversos — apesar dos
riscos de formação de cartéis. Assim, controlar
Mine. os sistemas de comunicação é um objetivo es
sencial. O ideal seria que eles fossem controla
dos segundo as necessidades do público. Logo,
A telemática— interconexão entre os computa os governos precisam começar a preparar-se
dores e as telecomunicações — veio autorizar a para a Era dos Satélites.
corrida pela independência nacional, assim se
expressam sobre o tema S. Nora e A. Mine, cm E continuam os autores dizendo que os satélites
pronunciamento no MIT (Massachussetts Insti- são o pivô das comunicações. Representam o
tute of Technology), publicado pelo Jornal do elo essencial do desenvolvimento de sistemas ciosa dc padronização não limitaria demasiado
Commcrcio. O artigo, por sua extensão, não de telecomunicações. Eliminadas da corrida de as inovações. De qualquer forma, trata-se dc
le ser reproduzido na íntegra, porém, muitos satélites, as nações perderiam parte de sua so um fator f undamental para abrir caminho ã Era
de seus conceitos tratam de assuntos importan berania, cujo pré requisito é a construção de sa dos Satélites.
tes, tais como o sentido estratégico do processa télites que depois precisam ser lançados. Esse
mento de dados, a complementaridade, natural tipo de estratégia e impossível sem um esforço O assunto da compilação c do armazenamento
entre a informática c as telecomunicações, a conjunto dc diveros países, o que tem exigido tios dados é visto por Nora e Mine como sendo'
importância da comunicação por satélites e dos uma permanente cooperação das organizações o fator da criação dc sistemas de telecomunica
bancos dc dados. Reproduzimos a seguir, para de telecomunicações. E preciso chegar a um ção, a que deu origem aos bancos de dados.
nossos leitores, alguns dos tópicos mais signifi denominador comum que garanta um nível rní
cativos. nimo de solidariedade. A adoção do protocolo A criação dc sistemas dc telecomunicação deu
de padronização X25 foi um importante passo origem aos bancos dc dados, que se têm multi
A partir da construção dos primeiros computa nesse sentido. plicado principalmcnte no Canadá e Estados
dores, o processamento de dados tornou-se um Unidos. Os bancos dc dados alteram funda-
setor estratégico na maioria dos países. Côns Em primeiro lugar, é necessário que os usuários mcntalmcnte a compilação e conservação de
cios do caráter específico de sua matéria-prima tenham uma certa possibilidade dc opção. E estatísticas, expandindo infinitamente a capaci
— a informação — os governos passaram rapi preciso estabelecer regras comuns para o trata dade de arquivar informações. Ampliam o
damente a demonstrar interesse pela nova in mento dc mensagens; uma padronização. É acesso aos dados e tornam possíveis as inves
dústria. De fato, desde 1945, poucas áreas re preciso, também, unificar os métodos dc trans tigações mais remotas. Os dados já existiam an
ceberam tanta atenção dos governos como o missão c encontrar algum tipo dc linguagem co tes da instalação dos b an co s, m as eram
processamento de dados e as pesquisas em mum. O problema é que a solução desses pro esparsos; a dificuldade para confrontá-los era
tomo do átomo. É preciso, antes de mais nada. blemas pertence ao domínio dos fabricantes. O imensa.
que os governos percebam as novas caracterís nível de padronização traçará uma fronteira en
ticas do quadro global e reforcem seu poder de tre os fabricantes e os sistemas dc comunica Em certos casos, os bancos de dados são dc âm
barganha, adquirindo um domínio sólido dos ção. Terá, necessariamente, de derivar dc uma bito internacional. Graças ao desenvolvimento
meios de comunicação. O problema é que ne troca de influências. Mas o interesse público in dos sistemas de transm issão, é possível ter
nhuma nação pode fazer isso sozinha. dica claramente o objetivo a alcançar: o maior acesso às informações, a custos relativamente
possível de padronização. baixos, em qualquer lugar do mundo. Assim, é
enorme a tentação de utilizar os bancos existen
Essa linha de ação exige dois pré-requisitos. O
Eliminadas da corrida de tes, ao invés de criar bancos próprios.
primeiro é estabelecer protocolos de padroni
satélites as nações perderiam zação. Seria melhor não padronizar absoluta Muitos acreditam que esse tipo de dependên
mente nada que possuir padrões puramente na cia seria um fardo relativam ente fácil de su
parte de sua soberania.
cionais. O segundo pré-requisito é convencer
portar. Mas não é verdade. É impossível se
os participantes a aceitarem tais limitações. A parar as informações de sua organização e ar
0 desenvolvimento dos sistemas de comunica padronização, evidentemente, constitui uma quivamento. A longo prazo, o problema não se
ção ressuscitou o velho problema do relaciona restrição. resume a possuir determinados conhecimentos.
mento entre o Estado e a “ média’’. Isso não re
presenta um mero problema de autoridade; não Organizar banco de dados é Deixar a outros a tarefa de organizá-los é alie
é que o governo deseje utilizar a telemática para nar-se voluntariamente. Instalar bancos de da
seus próprios fins. A multiplicidade de agentes imprescindível para a dos é imprescindível para a sabedoria de uma
econômicos que ela pode colocar em contato, nação.
seu dinamismo na troca de informações e seu sabedoria de uma nação.
papel como instrumento de poder explica sua Há dois tipos básicos de bancos de dados. Al
importância. Sem controlar a “ média’ ’, o Es Sem dúvida, essa estratégia diminuiria o ritmo guns pertencem a grupos fechados, cujos mem
tado não poderá resistir aos efeitos da domina do progresso técnico. Criar um corpo de regras bros não são muito numerosos; esses são desen
ção do sistema de telecomunicações, nem pre duráveis e unificadas que regeriam um campo volvidos pelos futuros usuários. Há um se
servar liberdade suficiente para cada um dos habituado a um processo de desenvolvimento gundo tipo, em que as informações estão ao al
participantes do jogo. Nesse caso, a computari- desordenado exige muita cautela. No entanto, cance de todos; esse tem de ser desenvolvido
zação estaria sujeita à influência dos adminis levando-se em conta o dinamismo dos fabrican pelo governo. A criação, difusão e regulamen
tradores dos meios de comunicação — os tes e a provável reticência de muitas organiza tação do acesso aos bancos de dados constitui
quais, por motivos legítimos ou em busca de lu-
ções de telecomunicação, uma política ambi um problema de natureza política, cujas com-