Page 29 - Telebrasil - Julho/Agosto 1976
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Desenvolvimento tecnológico:
um estado de esoírito
ROBERTO KRESCH
Formou-se em Engenharia Elétrica pelo Atualmente exerce o cargo de Secretário
Escola Nacional de Engenharia da Univer de Planejamento e Tecnologia da Secre-
sidade do Brasil, em 1959. Possui cursos taria-Geral do Ministério das Comunica
de especialização o aperfeiçoamento na ções, onde ó responsável pela coordena-
área eletrônica o de tolocomunicações no çflo e acompanhamento dos planos de
Brasil e no exterior. Já exerceu corgos desenvolvimento do setor; nessa função,
significativos na Standard Electrica S.A., dó assessoria ao Secretário-Geral no que
e na Western Elotric Co. e Bell Systorn. de respeita aos assuntos de politica geral e
Nova York. Foi Superintondonte Geral de diretrizes de atuaçAo do Ministério e enti
Engenharia de ComutuçAo da CTB (atual dades vinculadas.
TELERJ).
Considerações Gerais mercado de proporções tais que oria dos produtos de consumo possa
permita a viabilização das estruturas ter custos compatíveis com o nível
Muito se tem falado e escrito, especial industriais (seja mercado individual, econômico da população. Em con-
mente nos últimos dois anos, sobre as para produtos de consumo público, seqüència da luta entre os altos custos
necessidades nacionais de desenvol seja mercado industrial e comercial e a necessidade de se expandir o mer
vimento tecnológico, como fator fun para o consumo de bens de capital); cado (em um universo de baixo poder
% v
damental do desenvolvimento global, aquisitivo) não sobra margem para que
meta que todos os brasileiros aspiram — incentivo ao surgimento de novas a indústria possa investir em pesquisa,
alcançar. idéias, quer oriundas de simples in mesmo em grau reduzido;
divíduos, no curso da execução de
0 desenvolvimento tecnológica é, suas tarefas, quer através da pesquisa
— quando se trata de empresas es
paradoxalmente talvez, uma das autônoma ou institucional (esse incen
trangeiras, especialmente as deno
causas e um dos efeitos do desenvol tivo prossupõe um interesse acima do minadas multinacionais, a possibili
vimento global, o qual inclui aspectos meramente científico);
dade que possuem de obter a tec
económico-financeiros, industriais, cul
— uma estrutura gerencial capaz de nologia diretamente das grandes fon
turais, sociais, profissionais e cientí
arcar com as tarefas de coordenação e tes geradoras internacionais, aliada ao
ficos, entre outros, e visa dotar o povo
supervisão envolvidas na geração e aspecto supracitadp, faz com que seja
de condicões de vida cada vez me-
utilização das novas idéias na área tec praticamente obrigatória a utilização
lhores e menos dependentes da con
nológica. de know-how alienígena, em produtos
juntura política e econômica inter tecnologicamente sofisticados, sob
nacional. Parece razoável supor que a mera pena de inviabilidade da produção
coexistência dos fatores enumerados,
desejada;
Qualquer análise dos pré-requisitos além de outros eventualmente não
para se atingir o desenvolvimento tec citados, porém considerados impor — no caso de bens de capital, verifica-
nológico conduz, geralmente, a uma tantes, não trará, por si só, o desenvol se que, entre os maiores usuários, en
lista básica, na qual se destacam: vimento almejado, de maneira con contram-se as empresas vinculadas ao
tínua e auto-sustentada: será neces
- infra-estrutura educacional ade Governo (Federal ou Estadual) e as
sário contar-se, também, com um fator
quada (básica, superior e pós-gra empresas multinacionais, sendo menor
de catalização que permita aos diver
duada); a participação do empresariado pri
sos fatores atingirem uma massa
vado nacional. Assim, repete-se o
crítica iniciadora da reação em cadeia.
- recursos para pesquisa, especial ê fenômeno verificado em relação aos
mente em instituições ligadas ao en produtos de consumo, exceto no que
O exame, ainda que superficial, da
sino; tange à ação dos dois grandes com
atual conjuntura brasileira permite
pradores potenciais desses bens: as
detectar certos aspectos de suma im
- estrutura industrial de porte sufi empresas governamentais e as estran
portância em relação ao processo que
ciente para arcar com os ônus da in geiras. Estas, como é natural, dispõem
se deseja ativar:
trodução de novos produtos, métodos de suas próprias fontes de fornecimen
e sistemas, seja de criação externa seja — as escalas de produção industrial to dos bens de capital, não raro
de sua própria criação; ainda são insuficientes para que a mai- produzidos por outras empresas do