Page 25 - Telebrasil - Julho/Agosto 1976
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Dirigismo e mercado
JAYME MAGRASSI DE SA
Bacharel em Ciências Econômicas e Con
tábeis. Tem curso da Escola Superior de
Guerra. Foi presidente do BNDE e do
FINAME. Atualmente é membro do Con
selho de Administração da ERICSSON.
Objetivo de crescente polêmica é o entre a poupança voluntária e o não tivas passa a ser aquele que o julga
tema Uberdade de mercado x dirigismo consumo compulsado, etc. Enfim, o mento do Estado, através de seus atos
econômico. Menos no exterior do que dirigismo estatal não se revelou um de Príncipe, decide estabelecer.
no Brasil. Entre nós, a questão condão mágico capaz de assegurar a
apresenta-se marcada por certo con maximização do esforço coletivo, fato Algo de semelhante ocorre na área de
teúdo emocional, não raro mesclado que deve levar a certa meditação e produção. Aí o arbítrio pode e tende a
com influências ideológicas de fácil muita cautela quando se pensa em in ser um tanto mais duro. A rentabili
identificação. tervir aqui e ali na vida econômica. dade das inversões, a sua capacidade
de corresponder, em qualidade e tem
Válido reconhecer que nos tempos A Escola Clássica tem por orientação a po, às exigências dos programas, as
atuais a plena liberdade de mercado já precedência do consumidor e a ten economias de escala, os benefícios da
não existe. A complexidade da vida dência ao equilíbrio, ou o equilíbrio ins "estandardização", as perdas ou
social levou a que o Estado fôsse am tável, como bases do comportamento ganhos em manutenção são aspectos
pliando sua atuação normativa e dis da economia. A Escola Keynesiana, que raramente acodem às decisões. A
ciplinar, o que nada tem a ver com in sem desfigurar esses princípios, defen conseqüência direta daí decorrente é a
tervenção direta na forma de inves de a ação estatal como supletiva, baixa de rendimento no esforço co
tidor em atividades produtivas. Não reguladora e anti-cíclica, insinuando-se letivo, cuja mensuração também em
menos válido, porém, o fato de estar o amplamente na política econômica geral não preocupa, ou preocupa a
dirigismo estatal carente de com aplicada por força das pressões sociais poucos no âmbito das esferas deci
provação quanto à sua eficiência e que se vêm ampliando com a deno sórias.
quanto aos resultados que dele de- minada afluência. Sem que prevaleça
fluem para o bem-estar coletivo. uma ou outra Escola, sentimos que o As correntes pró-dirigismo econômico
Estado vai conquistando terreno, agin são enfáticas no explorar o desperdício
Nas economias ditas de decisão cen do, porém, sob certas formas que se de fatores de produção que deflui das
tralizada, como as socialistas por diriam arbitrárias, porisso que menos decisões de mercado. Com isso
exemplo, os planos globais ainda não do que normativas e disciplinares, atribuem aos planos e às decisões cen
se revelam inteiramente capazes de apresentam-se impositivas, não pas tralizadas um aproveitamento ideal das
substituir as decisões do mercado no síveis de discussão e, a rigor, sob dis disponibilidades ou, o que é o mesmo,
mecanismo de formação dos preços, posições peremptórias e irrecorríveis. da capacidade efetiva de produção. Se
como o demonstrou com propriedade as duas verdades se confirmassem, a
o economista Oskar Lange, um dos Tomemos, como exemplo, dois pa opção estaria automaticamente in
pais do planejamento centralizado. Na râmetros — o constituído pelo campo duzida. A realidade, porém, tem de
União Soviética, depois de meio século do consumo e o constituído pelo cam monstrado que, entre o desperdício
de capitalismo de Estado, tornou-se po da oferta. relativo gerado pelas decisões de mer
sôfrega a disputa de capital, técnica e cado e desperdício absoluto, implícito
capacidade gerencial externa. E nos Decide o Estado sobre a realização de nas decisões centralizadas, a diferença
países mais pobres, que percorrem a um programa dado, de atendimento do não desfavorece as denominadas for
senda do desenvolvimento, o crescen consumo. Nenhum recurso cabe ao ças de mercado. De onde se pode con
te comando do Estado sobre a eco consumidor quanto a essa decisão, à cluir que a evolução de uma economia
nomia vai revelando que as decisões luz de sua escala de prioridade ou da pode dispensar os esquemas rígidos
nem sempre respeitam premissas fun escala de alocação da renda de que das decisões arbitrárias, deixando à
damentais como a da excelência em dispõe. Nenhum esquema de pon competição o benefício de melhores
termos de qualidade, a do máximo de deração relativa é observado e o painel condições e melhor atendimento do
eficiência na produção, a do equilíbrio das necessidades individuais e cole consumo.