Page 14 - Telebrasil - Maio/Junho 1965
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NOÇÃO DE MOEDA

                                                         EUGÊNIO GUDIN
                                            N.° 180 - “Digesto Econômico”

     Muita gente boa e até graúda não        Porque uma de duas: ou se dá plena
  se dá conta de que o pais precisa, para
  seu desenvolvimento econômico, de UM       liberdade a todos para venderem pelos
  BOM INSTRUMENTO DE TROCA, isto             preços de mercado que a livre oferta e
  é, de UMA BOA MOEDA, uma moeda             procura estabelece, ou começa a faltar
                                             essa ou aquela mercadoria, esse ou
  estável.
     Nas civilizações primitivas quem que­   aquele produto alimentar AO PREÇO
                                             QUE SE PRETENDE IM POR. Diante
  ria trocar um saco de milho por uma        da grita popular, os podêres públicos
 pele de cabra encontrava grande difi­       não podem cruzar os braços e a inter­
  culdade em achar quem quisesse dispor      venção no mercado dos “ diktats” gover­
 dessa última e ao mesmo tempo aceitar
 o milho em troca. Não havia, nesse re­      namentais cria as reações, a desordem,
 gime de troca direta, possibilidade de      os “ corners” que anarquizam os mer­
 desenvolvimento das transações. A
 moeda veio resolver tudo isso com inco­     cados
 mensurável vantagem.                           O que é preciso compreender é que

    Mas havia um preço a pagar por           EXISTE UM PROBLEMA MPNETÁRIO
 essa vantagem. É que dai por diante         PER SE, INDEPENDENTE DO ABAS­
 era INDISPENSÁVEL CUIDAR DA                 TECIMENTO E DO DESENVOLVIMEN­

 MOEDA, para que ela constituísse um         TO ECONÔMICO. Em outras pala­
 instrumento de troca que não preju­         vras, o país precisa fazer SACRIFÍ­
 dicasse em vez de facilitar as transa­      CIOS ESPECIAIS PARA RESTAURAR
 ções, tanto do Comércio e da Indústria      A ESTABILIDADE DE SUA MOEDA,
 como do consumidor. Porque uma
 moeda que muda a tôda hora de valor         se quer partir para uma era de pro­
 de modo imprevisível que ao fim de          gresso .

 uma semana já vale menos do que valia          Ora, é isso que os srs. Gouvêa de

 quando recebida, sôbre a qual não se        Bulhões e Roberto Campos estão tra­
pode orçar coisa alguma por prazo su­        tando de fazer, pão raro sob os apu­
perior a meses ou mesmo a semanas,           pos dos que não entendem as medidas
que favorece uns e prejudica outros,
                                             que êles estão tomando.
em vez de ser neutra, que dá lugar a            Pessoas de indiscutível capacidade
injustiças sociais, que deforma os in­
vestimentos, que distorce e prejudica o     intelectual e cultura como por exem­
desenvolvimento econômico, é profun­        plo o eminente Governador Carlos
damente prejudiciar ao país.                Lacerda ou o Sr. Augusto Frederico

   Tudo isso pode parecer acaceano a        Schmidt de tão brilhante talento, não
qualquer brasileiro que já entendeu o       se dão conta de que é imperativo nes­
que é inflação. Mas muito poucos são
os que se dão conta de que não se re­       ta hora consentir sacrifícios para con­
                                            sertar ESSA COISA UM TANTO ABS­
solvem os problemas econômicos do           TRATA QUE É A MOEDA e que não
Brasil desta hora RACIOCINANDO
                                            tem nenhum valor por si.
SIMPLESMENTE EM TÉRMOS REAIS                   Essa compreensão facilitaria imen­
DE MERCADORIAS E SERVIÇOS, SEM
PENSAR NA MOEDA como o fazem cor­           so a tarefa do Govêrno. Fecho com
rentemente governantes ilustres ao dis­     quem quiser a aposta cte que, uma vez

cutir o PROBLEMA DO ABASTECI­               estabilizada a moeda, isto é, domina­
                                            da a inflação, 09 jornais ficarão pri­
MENTO OU DOS INVESTIMENTOS.                 vados não só das manchetes como dos
Discutem-no esquecendo de que en­           artigos em que se discute o abasteci­
quanto a moeda fôr ruim, não há pro­
                                            mento em que se propõe fuzilar os
blema de abastecimento que se resolva.      negociantes aproveitadores. Porque

                                            nesse dia COMO ANTIGAMENTE, todo
                                            o mundo saberá o preço de tudo e

                                            ninguém poderá mais enganar nin­
                                            guém.

ESTRANGULADO O SERVIÇO TELEFÔNICO DA CAPITAL

COOPERAÇÃO DOS ÔRGAOS DOS                     BRAS1LIA — O serviço telefônico
PODÊRES PÚBLICOS PARA ALI-
VIAR-SE A SOBRECARGA DO TRA-                desta Capital, que é operado pelo pró­
                                            prio poder público, através do Depar­
                 FEGO URBANO                tamento de Telefones Urbanos e In-
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