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POLUIÇÃO DA ESTRATOSFERA PELOS GASES DOS FOGUETES
— O GLOBO — Rio de Janeiro de 20-2-63
Ao partir para a exploração da Lua a cerca de cem quilômetros de altitu
e dos planêtas, o homem poderá inad de, até mesmo reduzidas porções de de
vertidamente provocar a contamina tritos podem afetar profundamente o
ção das camadas superiores da atmos meio circundante.
fera terrestre com os gases de com Assim, por exemplo, uma pequena
bustão das grandes cosmonaves do fu quantidade de ozônio determina a tem
turo. Daí resultariam acentuadas mu
danças na temperatura e estrutura peratura das camadas médias da at
dessas camadas com possíveis refle mosfera terrestre- Cêrca de cem qui
los de sódio que se encontram espa
xos, a longo prazo, no clima assim
como nas radiocomunicações. lhados na atmosfera do planêta origi
nam brilho celeste noturno.
Essa contaminação do espaço seria,
de certo modo, comparável à poluição ELEMENTOS ESTRANHOS
do ar das cidades pela combustão da
gasolina de veículos motorizados. A O combustível líquido atualmente
informação procede de estudo realiza usado em muitos foguetes emite ele
do pela Corporação Geofísica Norte- mentos tais como hidrogênio, água e
-Amei’icana, especialmente contratada monóxido de carbono, os quais não são
para esse fim, mediante uma verba de
encontrados em grandes quantidades
100.000 dólares, pela Agência de Pro na estratosfera. E, de acordo com evi
jetos de Pesquisas Avançadas do De dência colhida em estudos sobre a
partamento da Defesa dos Estados poeira atômica, é surpreendentemente
Unidos. O trabalho realizado em bases prolongada a duração das matérias
fundamentalmente teóricas chega à retidas nas camadas superiores do pla
conclusão precípua de ser muito pro nêta.
vável a ocorrência de sensível transfi
guração da atmosfera, em escala glo De qualquer modo, o relatório em
bal ou local, como resultado da cres questão ocupa-se principalmente do
cente movimentação de artefatos si problema da poluição pelos superfo-
derais cada vez maiores. guetes que estão sendo criados, tais
como o «Saturno» de B.400 toneladas,
MODIFICAÇÃO de empuxe destinado à expedição lu
nar, e o «Nova», com empuxe de
Essa modificação, além de afetar a 5.000 toneladas, para vôos tripula *
composição, estrutura e temperatura dos a Marte. E conclui que nas gera- •
da estratosfera, atingiria igualmente ções futuras enormes quantidades de
detritos de combustão irão depositar-
a densidade dos eletrônios na ionosfe-
ra, ou seja, a camada eletrificada que se no espaço circundante da terra. O
serve de refletor dos sinais de rádio foguete «Nova», por exemplo, trans-
em ondas curtas. E mais, os detritos portando na decolagem mais de 2.000
químicos largados no rastro dos fo toneladas de combustível, desprende
guetes anuviariam a natural luminosi rá centenas de toneladas de material
de combustão ao longo da estratosfe
dade noturna do céu.
ra. A repetição freqüente dos vôos
Parece pouco provável a contamina tornará, assim, inevitável o acúmulo
ção da vasta massa de ar contida na de fabulosas quantidades de detritos
estratosfera por foguetes lançados oca na atmosfera terrestre.
sionalmente. Contudo, o estudo indica
que, nas delgadas regiões das cama (Copyright «New York Times» —
das superiores da atmosfera terrestre, O GLOBO).
