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E ssa solução — a liberdade econô- se espera digno da nossa confiança no

mica dentro da liberdade política — futuro da democracia no Brasil»,
está confiada ao futuro Congresso; que

CONVERSA SEM RETOQUES COM ROBERTO
                              CAMPOS

A “Tribuna da Imprensa”, em sua edição do dia 16 de janeiro
último, publicou interessante entrevista do Embaixador Roberto

      Campos, colhida pelo jornalista Márcio Moreira Alves,
                   da qual destacamos o seguinte tópico:

 Nacionalização de Serviços Públicos                                                 mais, a participação de entidades pú­

   «A encampação pelo Estado de ser­                                                 blicas e semipúblicas na geração,
viços públicos concedidos a emprêsas                                                 transmissão e distribuição de energia
particulares pode seguir dois cami­                                                  é cada vez maior, tendendo a tornar-se
nhos: o confiscatório e o convencional.                                              preponderante em futuro próximo, o
Seguindo o primeiro, o Estado limita-                                                que inverte totalmente o panorama
-se a incorporar ao seu patrimônio os                                                brasileiro neste setor. A tecnologia da
                                                                                     produção de energia elétrica já foi ab­
bens da concessionária sem indenizá-                                                 sorvida pelo país e a fabricação de
la, ou indenizando-a com quantia irri­                                               equipamento nacionaliza-se progres­
sória. No segundo, a indenização é ar­                                               sivamente. Isso, mais a crescente ne­
bitrária e na medida do razoável, justa.                                             cessidade da integração e operação
                                                                                     conjunta dos sistemas e a tendência
   — Há mérito na idéia de se incorpo­                                               econômica de reduzir custos pela cons­
rarem ao Estado os serviços públicos
concedidos a particulares, principal­                                                trução de grandes usinas, torna jus­
mente os de eletricidade, diz Roberto                                                tificável uma crescente presença es­
Campos. Dentro do sistema inflacioná­                                                tatal neste setor, preferivelmente atra­
rio em que vivemos, a remuneração dos                                                vés de sistema de sociedades de eco­

capitais privados, investidos em servi­                                              nomia mista.
ços de eletricidade, exigiria reajusta­                                                  Perguntei a Roberto Campos se a
mento de tarifas tão freqüentes e tão
vultosos que não seriam politicamente                                                defesa que fazia de um disfarce do
aceitáveis, principalmente se o capital                                              custo real da eletricidade, através da
fô r estrangeiro, o que tornaria os au­                                              cobertura dos déficits por impostos,
                                                                                     não entrava em contradição com suas
mentos ainda mais odiosos. Com isto                                                  atitudes antiinflacionárias. Respondeu
as emprêsas privadas encontram insu­
peráveis dificuldades em angariar no­                                                que não porque os déficits dos servi­
vos capitais Executando êle mesmo os                                                 ços não precisavam necessariamente,

serviços, o Estado poderia disfarçar                                                 ser cobertos por déficits de caixa do
seu custo real, cobrindo a diferença                                                 Tesouro, ou seja, por inflação. Basta­
                                                                                     va que fossem cobertos por impostos
                                                                                  7  especiais ou pela execução orçamentá­
                                                                                     ria normal. Aí, para acabar a conver­
com recursos obtidos através de im­                                                  sa dominical perguntei-lhe se, desde

postos. O que ocorre atualmente no                                                   que passara a embaixador em Wa­
Brasil é que as emprêsas estrangeiras                                                shington, não mudara de posição em
de eletricidade enfrentam um clima fi­
nanceiro e político hostil, que lhes cer­                                            relação aos problemas econômicos do
ceia as possibilidades de expansão, con­                                             Brasil, tendendo para o grupo dito
                                                                                     «inortodoxo».
quanto se reconheça a enorme contri­
buição que no passado trouxeram ao                                                      — Acho que não mudei, respondeu.
desenvolvimento do país. Além do
                                                                                     Talvez outros é que tenham corrigido
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