Page 2 - Telebrasil - Abril 1963
P. 2

BILHETE AO LEITOR

          A impressão e distribuição do último número do «Telebrasil-Noticiário»
custou cêrca de duzentos m il cruzeiros, o que é, positivamente uma pequena fo r­
tuna para uma organização não lucrativa como a nossa e que tem como renda
exclusivamente a metade das contribuições dos associados da Telenordeste, da
Telecentro e da Tele-Sul.

       Assim, vou reduzir êsse costumeiro bilhete ao mínimo para poupar dinheiro,
reservando todo o espaço disponivel para publicação do primoroso artigo do emi­
nente brasileiro Eugênio Gudin, que, com sua soberba simplicidade de economista
de escól, explica muitas coisas que ignorávamos, inclusive a razão do alto custo
do nosso «Telebrasil-Noticiário».

INJUSTIÇAS, DISTORÇÕES E DANO SOCIAL DA INFLAÇÃO

                                                                                                    EUGÊNIO GUDIN

D _ QUAL É A CAUSA DA                        Em torno dessa definição de infla­

INFLAÇÃO ?                                   ção podem-se tecer muitas considerações,

                                             para aprimorá-la ou torná-la mais preci­

       Inflação é o resultado do excesso da  sa. Quem estiver nisso interessado po­
quantidade de dinheiro em relação ao vo­     derá recorrer ao 1* volume de meu livro
lume da produção.                            «Princípios de Economia Monetária», ou

       Basta raciocinar um momento para      outro didático. Mas pode-se formar uma
compreendê-lo. O que é dinheiro? O que       idéia suficientemente clara do fenómeno
quer dizer uma nota de papel moeda emi­      da inflação sem leitura suplementar.
tido?
                                                    O grande Professor Haberler da Uni­
       Quer dizer que seu portador recebe    versidade de Harvard, um dos maiores eco­
um «v a le » que lhe dá direito a comprar,   nomistas vivos, em trabalho apresentado
isto é O D IREITO DE H AVE R mercado­        à Conferência de Elsinore em 1959, assim
rias ou serviços postos à venda, até o li­
m ite de seu valor.                          definiu o fenômeno da inflação:

       O indivíduo que recebe uma nota de          «Temos de começar pelo fa ­
papel moeda recebe portanto um D IR E I­     to básico de que não há regis­
TO DE H A V E R . . . Mas, para que êle      tro na história econômica do
possa exercer êsse direito é PRECISO         mundo, em qualquer lugar e em
QUE AS MERCADORIAS EXISTAM NA                qualquer tempo, de uma inflação
PROPORÇÃO DA QUANTIDADE DAS

N O T A S E M IT ID A S . Se assim não fôr,  SÉRIA E PROLONGADA (des­

o excesso de notas de papel moeda em         taques nossos), que NÃO T E N H A

l-elaçãJo às mercndorias existentes fará     SIDO ACOM PANHADA E TOR­

com que, na disputa entre portadores das     NAD A POSSÍVEL, QUANDO

notas insuficientes, o número de notas,      NÃO CAU SAD A por um grande
isto é a quantidade de moeda a dar por       aumento na quantidade de moeda.
cada mercadoria terá forçosamente de au­     Essa generalização aplica-se aos
mentar. Em outras palavras, OS P R E ­       países desenvolvidos, como aos
ÇOS SU B IR Ã O . O caso é perfeitamente     sub-desenvolvidos, capitalistas,
análogo ao de um leilão, no qual haja

muitos clientes e uma quantidade limita­     pré-capitalistas, e até às eco­

da de objetos à venda.                       nomias de planificação central.»
   1   2   3   4   5   6   7