Page 4 - Telebrasil - Junho/Julho 2002

tinha construído amplificadores de TB - Como foi sua chegada na venções. Fui pararem Holmdel (Nova
áudio e desmontado várias coisas Califórnia? Jérsei), a matriz do Bell Labs.
que eram de meu pai. iviR Fui para a Universidade, em San
Diego. Eu achava que dominava a língua TB - Você virou cientista?
TB - Você foi estagiário? inglesa. Descobri que não era bem assim. MR - Pensei que iria ficar um ou dois
MR Na Moddata, uma fabricante de Uma família acolhia estudantes. Hoje, anos e depois voltar ao Brasil. Tenho
mesas telefônicas para as corretoras a considero como meus pais. cinco patentes nos seis anos que lá
de valores. A empresa tinha comprado fiquei. Publiquei 20 e tantos papers.
a OZ para produzir modems. Mais TB - O que você estudou?
tarde, adquiriu a Coencisa, com MR - Entrei para Teoria da Comu­ TB - Como é trabalhar no Bell Labs?
fábrica em Brasília. nicação e Sistemas. Fiz o mestrado MR - Você tem uma quantidade de
em nove meses. problemas importantes e o convívio de
TB - O que você fazia? pessoas fantásticas que desenvolvem
MR - Era época em que nasciam os as ferramentas que você precisa.
sistemas controlados a micropro­ “Peguei
cessador. O poder da era digital, então, TB - Você vinha ao Brasil?
ficou aparente para mim. Achei que minhas MR- Todo ano. Um brasileiro, quando
era possível fazer qualquer coisa com no exterior, começa a enxergar como
aquele negócio. economias e o País é especial. O brasileiro é dife­
verifiquei que rente dos demais. Há um calor humano
TB - Você só desenvolvia hardware'! e um nível de interação que você não
MR - Também software para fazer podia me acha em outro lugar.
o produto completo. Vi que existia,
ali, uma ferramenta sem igual. Não bancar por um TB Quando resolveu regressar?
havia conhecido nada semelhante, ano no MR - Procurava uma casa para comprar
nessa dimensão. nos EUA. Pensei que, se adquirisse um
exterior” imóvel, não voltaria mais para o Brasil.
TB - Como você foi parar nos Es­ Decidi ter a doce ilusão de ser dono de
tados Unidos? meu destino e que queria morar aqui.
MR - Vi que a microeletrônica era uma TB - Só?
ferramenta poderosa, porém faltava- M R Nunca estudei tanto em minha vida; TB - Você pegou as mudanças no Bell
me entender seus fundamentos e o uma coisa de doido. Tive que fazer tudo Labs?
desafio sistêmico dessa ferramenta. muito rápido, havia descoberto que MR Eu peguei um período em que o
meu dinheiro iria acabar. sistema Bell foi separado em sete
TB - E o mestrado? operadoras locais e na AT&T, de lon­
MR - A minha idéia era fazer um TB - E o doutorado? ga distância. Eu entendi que trabalha­
mestrado lá fora e voltar para o MR - Ao término do mestrado, con­ va num sistema muito grande. Onde
Brasil. Peguei todas as minhas eco­ segui o primeiro lugar na turma. eu trabalhava havia 3 mil PhDs.
nomias e verifiquei que tinha con­ Logo eu, o azarão. Ganhei uma
dições de me bancar por um ano no bolsa para fazer o doutorado, Meus TB - Como foi a mudança?
exterior. Fui embora para entender planos mudaram. Eu era solteiro, ti­ MR - No início, tive a impressão que o
melhor os desafios. nha até uma namorada no Brasil, mundo externo era irrelevante frente ao
mas resolvi ir adiante. tamanho da empresa. Você era abrigado
TB - Foi o desafio que lhe tornou e acolchoado. Depois, aconteceu uma
empresário? TB - O Bell Labs? mudança que eu achei espetacular.
MR - Acho que sim, ainda que não MR - Terminei meu doutorado em dois
fosse aparente na época. Já era a veia anos e recebi o convite de algumas TB - Como assim?
do empreendedor apostando naquilo empresas e da própria Universidade. MR - Qualquer projeto, para ter
que a gente tem de mais precioso, que Os Bell Labs eram algo inimaginável, orçamento, tinha que ter a aprovação
somos nós mesmos. o berço de uma quantidade de in­ de uma unidade de negócios. Quem