Page 6 - Telebrasil - Março 2002
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TB -  Por quê?                     tante  para  poder se  construir. Você  é  do   um bom serviço.  Isto  não significa man­
           Falco -   Porque  o  cliente  perde  e  o  dis­  tamanho do seu sonho. Quando você so­  dar  mensagenzinha  avisando  que  tem
           tribuidor também.  O varejista  quer trá­  nha pouco, você cresce pouco.  O esforço   promoção. Isto também vale, mas você não
           fego  em  sua  loja  e  ticket médio,  pouco   é  sempre  diferente.   vê  trabalho  de  educação  para  lidar  com
           importa se consegue isto vendendo fral­                                dados em wireless, não há esforço no sen­
           da ou sapatos.  Se alguém chegar e dizer   T B -A  Oi, a começar pelo nome, passa uma   tido tutorial de como se tira mais conforto.
           a ele  que  pode vender  um  produto mas   idéia de informalidade,  característica que   O que se vê no mercado é a preocupação
           não  pode  vender  o  outro,  ele  logo  vai   de certo modo também écomum à TAM...  em  vender  um  telefone  para  você  falar
           querer  saber  o  porquê.  O utra  barreira   Falco — Sim, pois o mundo é informal. A   muito e pagar uma conta alta. Não é ilegí­
           que  colocaram  foi  o  não-compartilha­  coisa que  me  dava  mais  prazer era olhar  timo.  No  entanto,  o  que  foi  lançado  de
           mento  de  torres.  E  preciso  ter  cabeça                            novo nòs últimos três anos?
           aberta  para  entender  que  a  disputa  é
           no  serviço,  não  na  antena ou  no  ponto                            TB — Tivemos o W A P , por exemplo...
           de  venda.  Muitas  operadoras  da  Banda   “0 que foi                 Falco  -   Que  não  foi  bem  desenvolvido,
           A já  abriram  a  cabeça,  estando  neste                              talvez  não  fosse  um  bom  produto...  Po­
           momento falando em colocation, “rachar”    lançado de                  rém, o insucesso deveria ter trazido algu­
           torre, diminuir custo de operação.                                     ma oportunidade. Se venderam o WAP e
                                                                                  depois  viu-se  que  não  era  tão  legal,  não
           TB -  Que grau de compartilhamento a Oi      novo nos                  dá pra dizer só: “ah, então esquece”. Nós,
           está conseguindo?                                                      no caso, temos tecnologias melhores, como
           Falco  -  Das  nossas  1.500  torres,  temos   últimos três            o GPRS. Mas, de qualquer forma, tem de
           perto  de  900  compartilhadas.  Lamento                               haver um esforço sobre como usar os  re­
           não ter as outras 600,  mas  estamos con­                              cursos  para mudar a vida das  pessoas.
           versando  com  várias  empresas,  como  a     anos?”
           ATL, que era contra o compartilhamen­                                  TB -  Vocês anunciaram uma meta de 15%
           to por definição. Queremos compartilhar                                de clientes pré-pagos e 85%pós.  Como con­
           torres  com  a ATL  nas  estradas.                                     seguir  isto,  numa  época  em  que  98%  dos
                                              os gringos nos nossos aviões e falar:  nun­  novos clientes de telefonia optam pelo pré-
           TB  -   Como foi  sua  entrada para  a  Oi,   ca voei por uma empresa assim nos Esta­  pago?
           depois de tantos anos na TAM?      dos Unidos nem na Europa.  Isto é Brasil   Falco -  Nós vamos sobreviver com dois ti­
           Falco -  Eu estava numa posição de muita   construído por brasileiros.  pos de clientes. O primeiro é o novo usuá­
           visibilidade,  sempre  tive  muitos  convites.                         rio. Neste aspecto, estamos exatamente no
           Achei  que  tinha  terminado  minha tarefa   TB -  Que lembranças marcantes você tem   mesmo barco dos concorrentes, disputan­
           por lá e a opção de atuar em telecomunica­  daquele período?           do clientes com ARPU (receita média por
           ções me pareceu muito interessante. E uma   Falco -  São várias. Tivemos  todos os ti­  usuário)  mais baixo. O outro grupo é for­
           boa briga e me considero um bom guerrei­  pos de desafios:  criar novas rotas,  formar   mado por aqueles clientes de ARPU mais
           ro. Outra coisa que me animou foi o fato de   novas  frotas,  entrar  no  mercado  interna­  alto,  que  vamos  tentar roubar das  opera­
           continuar trabalhando com brasileiros. Não   cional,  superar os  acidentes  aéreos...  Co­  doras atuais. Eles vão tentar retê-los, e as­
           que  eu  não  trabalharia  para  estrangeiros;   meçamos  com  pouquíssima  estrutura  e   sim é o jogo da competição. Quem já opera
           podendo  escolher,  eu  prefiro  brasileiros   ganhamos  todos  os  prêmios  possíveis  e   tem esta vantagem de entrar num  merca­
           construindo o Brasil.              imagináveis. Tivemos momentos de crise,   do menos explorado, porém isto não signi­
                                              é claro, mas elas vêm e vão. O importante   fica  que  eles  devam  ficar tranqüilos.  Nós
           T B -Isto significa uma postura crítica em   é  tirar oportunidades.  Crescemos  à custa   vamos fazer da vida deles um  inferno!
           relação aos investimentos estrangeiros?  de  muito esforço,  muita equipe.  Isto  de­
           Falco  -   O  dinheiro  que  vem  de  fora  é   senvolve  um  espírito  de  competitividade   TB -  Que armas vocês pretendem usarpara
           super-bem-vindo. Do jeito que ele vem,   que virá para  este  setor em breve.  conseguir um churning significativo?
           ele volta e mais rápido do que se espera.                              Falco -  Pra começar, ninguém casou com a
           Se você  olhar  os  estrangeiros  que  estão   TB —Não houve competição até agora?  operadora. O cliente quer a melhor relação
           no  mercado,  metade  está  querendo  ti­  Falco  -   O  que  você  tinha  até  agora  era   custo benefício, operadora é commodity. Há
           rar  dinheiro  para  pagar  o  investimento   um duopólio: você não sabe se é Vasco ou   nichos  de  competição  mal  explorados,  e
           feito  e  se  mandar. A outra metade, que   se é Flamengo, mas também não tem ou­  também há mitos a serem derrubados. Um
           se  deu  melhor, quer sugar ao  máximo  e   tra  hipótese.  Às  vezes  você  é  Vasco  só   deles diz que o cliente  não  muda de ope­
           colocar produto “pé de boi” para o con­  para ser contra o Flamengo!  E complica­  radora para não ter de trocar seu número.
           sumidor.  No  final,  a  diferença  para  os   do isso. Com duas opções apenas, o mo­  A verdade  é que  trocar de  número  não é
           acionistas  é  se  eles  vão  ter um  iate  com   delo acomoda logo: um faz alguma coisa,   nenhum fim do mundo: em duas semanas
           mais ou  menos luxo.               o outro reage... fica previsível.   todo mundo já sabe o novo. Entretanto, as
                                                                                  operadoras propagam que, se você mudar,
           TB -  As empresas brasileiras dariam conta   TB -  O que a entrada de novos players pode   sua mulher vai te deixar, você não vai mais
           de mais participação no desenvolvimento do   mudar, neste sentido?     ver seus  filhos... (risos).  Nada disso é ver­
           País?                               Falco -   Eu  vejo no mercado de  telefonia   dade...  contudo,  ainda há uma resistência
           Falco -  Acho  que  o  Brasil é  rico o bas­  um  espaço  para  você  realmente  prestar  muito grande.
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