Page 8 - Telebrasil - Novembro/Dezembro 2001
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Editorial
Agências:
a bola da vez
CLE0FAS UCHÔA
Quando Santos Dumont concebeu um operou verdadeiras revoluções até sucum
objeto mais pesado do que o ar e o fez voar, birem, a partir de meados dos anos 80, víti
do rapidamente um mecanismo para de
conta a história que ele, maravilhado, imagi mas da mesma doença que atingiu as
fender a remuneração e reconhecimento
nou um futuro melhor para a humanidade, autarquias: a antropofagia burocrática destes técnicos, de tentadoras as ofertas se
por conta de todos os benefícios que enxer amordaçou as compras mais simples, que se tornarão irrecusáveis. Não fossem alguns
gava em seu invento. transformaram em novelas mexicanas; os
resquícios éticos e a maioria dos executivos
Esses fatos me vieram à mente quando cargos relevantes passaram a ser leiloados
das agências, com mais aceitos do que de
me pus a avaliar o problema das agências. entre os partidos políticos; o dinheiro arre
sacertos, com certeza, já teria sido
Me lembrei das mofadas autarquias. cado pelo FNT, originalmente reinvestido
“chumada” para assumir posições de des
Surgiram nos anos 50 para dinamizar a ad no setor, foi desviado, mudou cinicamente
taque nas grandes empresas, com salários
ministração pública, e, enquanto consegui de rumo, como de costume com essas in
muito superiores ao que hoje percebe. E
venções maravilhosas; as tarifas foram de
ram atuar de acordo com o objetivo de sua
TELEBRASIL/novembro-dezembro geridas por profissionais -, foram um po como sempre, de ajudar os poucos afortu com os salários vigentes? Desnecessário
quando os amais conselheiros, pioneiros,
formadas, a tal ponto que a falsa pretensão,
criação - livres das amarras burocráticas e
deixarem seus cargos? Quem os ocupará
nados os proibiam de entrar na elite dos
tente motor para o desenvolvimento do País.
explicar. Dèjá vu. Se os amais conselheiros
com telefone; possuíamos a mais baixa assi
Não demorou muito para que interesses
deixarem seus cargos antes de forte consoli
natura do mundo, mas, para entrar no clube
políticos atrofiassem e suplantassem o inte
dação do setor privado, vai tudo por
dos com telefone, tínhamos que desembol
resse público, e uma série de nomeações e
água abaixo.
medidas cercearam a autonomia jurídica e
O que esperar do futuro? A repetição de
algumas raríssimas exceções, as S. As. do
operacional das autarquias, que acabaram
Governo transformaram-se, em poucos
se transformando no que o estereótipo de sar quantia que só os ricos dispunham; com mdo a que assistimos antes? A deteriora
ção das estruturas e de linhas de ação ven
repartição pública traz de pior. Acabaram anos, num cipoal de negociatas e escânda cedoras tão arduamente conquistadas?
por transformá-las em algo muito próximo los. Foi tudo para a UTI. A evasão de valores das agências já é uma
da anarquia. Se tomados, como exemplo, o Sistema triste realidade, que pode tornar-se trágica,
Também me lembrei da forma como fo Telebrás, que, durante anos, se manteve quando os burocratas começarem, de novo,
ram concebidas as empresas públicas, com como a mais bem-sucedida realização dos como Sísifo, a ocupar os cargos importantes
seus ares de modernismo e propostas de anseios da sociedade, no que tange aos ser das agências.
solução de problemas cruciais da sociedade. viços de telecomunicações, acabou virando A sociedade civil, que já viu este filme,
E, também neste caso, com raras exceções, alvo da cobiça de plantão e foi envolvido exige agências independentes e competen
me dei conta que não foram necessários pelo turbilhão de interesses menores. tes, como determina o espírito da lei, deven
muitos anos para começarmos a colecionar A bola da vez agora são as agências. Cri do usar de todos os mecanismos de que
desatinos e fracassos. adas sob o signo da independência para re dispõe para mantê-las assim. Não podemos
Depois vieram as empresas de econo gulamentar e fiscalizai- a atuação das recém- perm itir que o lado infanticida de
mia mista, quem não se lembra? Criadas privatizadas empresas que atuam em di
nosso DNA antropológico sufoque estas
pelo Decreto-Lei 200, de 1964, tinham um versos setores da economia, têm, ainda, em
belas crias.
objetivo semelhante ao das autarquias ori seus quadros profissionais dos mais experi
Cometer um erro é aceitável; justificar o
ginalmente: agir com autonomia, livre dos entes e brilhantes do mercado. Como todo erro é agravar o erro; e repetir o mesmo erro
freios impostos pelo Tribunal de Contas da início. Têm se comportado, de certa forma, adetemum é burrice imperdoável.
União e outros órgãos governamentais. E como verdadeiras guardiãs dos interesses
funcionaram belissimamente até o final dos da comunidade. Por enquanto! O mercado, Cleofas Uchôa é presidente
anos 70.0 SistemaTelebrás, por exemplo, que paga salários globalizados, faz ofertas da TELEBRASIL - Associação Brasileira
para falar no campo das telecomunicações, cada vez mais tentadoras. E se não for cria de Telecomunicações.__________________