Page 50 - Telebrasil - Março/Abril 2001
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         TV digital:  escolha  se  aproxima


         João  Carlos  Pinheiro  da  Fonseca

         A  escolha  de  um  padrão  para  a  televisão  digital  brasileira

         já  transcende  a  discussão  tecnológica  e  se  volta  agora  para  o  modelo

         completo  —   de  exploração  e  industrial  —   que  se  quer  para  o  Pais.

                                                O conteúdo da televisão pode
          D   o ponto de vista técnico são três os pa­  ser difundido por rede de cabo,     (para  não  haver  discriminação
              drões disponíveis para a tevê digital. São
                                                                                            com  as  classes  C  e  D), devendo
                                                                                            ser atribuídos 6 MHz de faixa a
                                              por satélite (DTH) — estes dois
              eles, o ATSC norte-americano, o DVB
         europeu e o ISDB japonês.  Em  realidade, a   meios têm faixa para passar os       cada emissora.
         escolha de um padrão afeta, em tese, apenas o   20 Mbit/s da tevê digital —, pela        Convergência
         modulador para transmissão e 20% da eletrô­  radiodifusão aberta e até por In­       A decisão da Anatei sobre tevê
         nica do televisor, cujo display representa 80%   ternet, via operadora telefônica.  digital,  depois de 27 meses  cole­
         do custo total.                        O País possui 54 milhões de                 tando dados, deve ocorrer até o fi­
           A situação no Brasil (utiliza o padrão analó­  televisores e 12 mil transmisso­  nal do ano. “Uma consulta pública,
         gico PAL-M) é o da escolha, pela Anatei, de   res  para  a tevê  analógica.  No    com fechamento previsto para ju­
         um dentre três padrões. O ano 2000 foi utili­  DTH  (Direct to Home TV), o   R.  Barbosa:  broadcasting   lho, analisará o relatório técnico fei­
         zado  para  testes  de  campo  efetuados  pela   desafio é sua interatividade, via   digital  chega  ao  Brasil  to pelo CPqD e o modelo de ne­
         Abert/Set — entidade que congrega a comu­  telefone.  No MMDS  (difusão por microon­  gócios que se quer para o País”, disse Jarbas Va­
         nidade brasileira das radiodifusoras e dos téc­  das), o número de canais analógicos é de 16 a   lente, superintendente do Serviço de Comuni­
         nicos da televisão —, resultando num veto à   32 que sobe para 75 a 80, na tevê a cabo.  cação de Massa da Anatei.
         modulação  empregada  (8  VSB)  no  sistema   A opção  a ser exercida pela Anatei incluiu
                                                                                     Ao analisar as alternativas, a Anatei (o relator
         norte-americano ATSC e numa                    uma dimensão política e  merca­  é Tito Cerasoli) vai levar em conta que novos
         luz verde para os sistemas DVB                 dológica agregada à canalização di­  investimentos, geração de empregos, compro­
         (europeu) e ISDB (japonês).                    gital.  As  emissoras  querem  a li­  missos internacionais (Mercosul) e capacidade
           A faixa passante de 6 MHz,                   berdade de optar por uma emissão   industrial para exportação e para consumo local
         prevista para a canalização digital            HDTV ou por ampliar sua difu­  o padrão vencedor da tevê digital trará ao País.
         da difusão de televisão digital no             são, com mais emissões digitais de   Enquanto a decisão do Governo não chega,
         Brasil, pode acomodar 20 Mbit/                 definição normal.          trocam-se argumentações: o ATSC é uma re­
         s.  Isto equivale a três canais  de             Fernando Bittencourt, diretor   alidade nos EUA e já deslanchou sua HDTV;
         tevê digital a 6 Mbit/s, de defini­            de Tecnologia  da  Rede  Globo,   o DBV é adotado na Europa em 8 MHz, na
         ção padrão (mais 2 Mbit/s de da­               advoga que a difusão da tevê di­  Austrália em 7 MHz e aqui foi testado, com
         dos) ou um canal de HDTV a 19                  gital de alta definição (HDTV)   sucesso, em 6 MHz; e o sistema ISDB, mais
                                    F.  Bittencourt:  faixa  para
         Mbit/s (mais 1 Mbit/s de dados).               também deve ser possível pelo ar
                                   as  emissoras  de  TV                           novo e sofisticado, não está ainda comercial­
                                                                                   mente implantado.
                             A realidade industrial                                  Quanto à saber se será mantido o mesmo nível
                                                                                   cultural da programação, hoje, servida à popula­
            Um televisor digital, sem decodificador, sairá por US$ 3 mil (10 mil unidades vendidas) e   ção na televisão analógica aberta, trata-se de as­
           USÍ  1  mil para  100 mil unidades.  O conversor para HDTV custará USS  0,5  mil (10 mil   sunto a ser discutido, em paralelo, por toda a
           unidades) e US$ 0,3 mil (80 mil unidades). O aparelho de HDTV completo sairá por US$ 3,1   sociedade. A Lei de Comunicação de Massa está
           mil para 2 mil aparelhos e dentro de 5 a 6 anos, US$ 1,5 mil para 10 mil aparelhos.  no forno e dentre outras decisões deverá tratar da
            Carlos Capelão, da SET, lembrou que numa fase de transição televisores serão PAL-M e   participação do capital estrangeiro nas empresas,
           digitais. Em 2003,200 mil aparelhos de tela grande da classe A serão trocados e 1 milhão de   falando-se num limite superior de 30%.
           novos, vendidos. Brasileiro, em geral, não compra televisor acima de US$ 350.  Para o conselheiro da Anatei Antônio Car­
            -  Nossa indústria tem capacidade para produzir televisores e  conversores digitais  de  tipo   los Valente, a tevê digital permitindo a presta­
           padrão e para HDTV, um ano e meio após escolhido um padrão pela Anatei -  disse Carlos Vita,   ção  de novos  serviços —
           da Associação Nacional de Fabricantes de Produtos Eletrônicos -  Eletros —, que alertou para   além da televisão conven­
           royalties cobrados e para fontes alternativas de chips. Paulo Roberto Melo, do BNDES, disse que   cional —  passa  a  ser um
           a instituição vai financiar a fabricação de equipamentos do complexo eletrônico, notadamente de   vetor poderoso na conver­
           componentes que pesam negativamente na balança comercial do País.       gência, inevitável, entre os   s ...   ^
            A Eletros estima em US$ 250 o custo de um setup box para um volume de vendas de 200   meios de telecomunicações   9  t t
           mil unidades e (ao final de seis anos) US$ 150 (1 milhão de unidades). Os setup boxes (ou caixas   e de comunicação de mas­
           pretas) fazem a interface do televisor com a rede e outros dispositivos.  sa para a melhoria da soci­
            Eles são sofisticados computadores com sistema operacional interpretando e executando   edade brasileira.  ,
           sinais, autorizando e decodificando dados para o assinante, adaptando o televisor para Internet
                                                                                   F.  Saraiva,  da  Motorola:
           e regulando o armazenamento de informações.
                                                                                   novos  terminais  chegando
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