Page 68 - Telebrasil - Março/Abril 2000

Internet
L i g a ç õ e s p e r i g o s a s
Augusto Góes
D e o lh o n o t r á f e g o g e r a d o , o p e r a d o r a s e s t ã o
c o m p r o v e d o r e s g r a t u it o s . A n a t e i e
Daqui há apenas três anos, cada vez
que um usuário acionar o serviço de te­
lefonia, será mais provável que ele es­
teja tentando conectar-sc à Internet do
que procurando uma voz no outro lado
da linha. Já para o final dc 2000, esti­
mativas indicam que o acesso à Rede
responderá por 30% do tráfego telefó­
nico local. Cientes desta revolução, as
operadoras elegeram o acesso gratuito
arço-abril/2000
como meio mais rápido de garantir seu
espaço no novo negócio. Em menos de
três meses, as principais empresas de
telefonia fixa do País garantiram, dirc-
tamente ou através de seus acionistas,
participação nos serviços dc Internet
m gratuita (veja box). Diante dc tama­
Telebrasil vernamentais como a Anatei e o Con­
nha “invasão” à Rede, autoridades go­
selho Administrativo dc Defesa Eco­
nómica (Cade) estudam como preser­
var os interesses dos provedores inde­
pendentes e dos consumidores.
A posição privilegiada das operado­
ras pode ser identificada em vários as­
pectos. Além da possibilidade de be­
neficiar seus próprios provedores atra­
vés de injeções de capital ou atendi­
mento preferencial na hora dc distri­
buir linhas, as carriers também têm a
chance de atrair para si o aumento de
tráfego proporcionado por outros pro­
vedores dc grande porte, não necessa­
riamente ligados a elas. O acerto, no
caso, poderia ser feito através de des­
contos tarifários proporcionais ao volu­
me de ligações. Os pequenos provedo­
res afirmam que tais práticas estariam
realmente ocorrendo e, através de enti­
dades representativas da classe, como
Abranct, Anpi e Pronct, entraram com
e m " l u a - d e - m e l "
C a d e t e n t a m m e d ia r r e l a ç ã o .
liminares na Secretaria dc Direito Eco­
nómico (SDE), pedindo a suspensão do
acesso gratuito até que se encontre uma
forma de garantir a sobrevivência dos pro­
vedores independentes.
Durante o 117.° Fórum Permanente
da Concorrência, o presidente do Cade,
Gesner de Oliveira, prometeu indicar um
representante para verificar, juntamente
com a Anatei e com os provedores, a ocor­
rência dc abusos. “Estamos atento à ques­
tão e vamos estudar medidas para garan­
tir a concorrência”, afirmou. A Anatei, por
sua vez, está atuando em duas frentes
básicas. Dc um lado, ameaça intervir no
mercado para garantir que, como obriga a
legislação, todos os provedores recebam
das operadoras tratamento isonômico.
Paralclamente, a Anatei encara a ques­
I n v a s ã o
A Telefônica foi a pioneira da ligação
entre operadoras e Internet grátis. Sua
rede IP no Estado de São Paulo permi­
tiu ao Bradesco inaugurar o dialup grá­
tis no Brasil, em dezembro. No mês se­
guinte, a operadora já atuava mais dire­
tamente através da criação do Terra Li­
vre, provedor gratuito do Terra Networks
(braço do Grupo Telefônica na Internet).
Em fevereiro, foi a vez da Tclemar e da
Tele Centro Sul agirem, abocanhando
conjuntamente 34% do iG, um dos pro­
vedores líderes cm número de usuários
cadastrados, capitaneado pelo Grupo
Garantia e Opportunity. A Vésper SP
também pretende se associar ao iG e
tão do ponto de vista do consumidor e,
através do Comitê de Infra-Estrutura,
estuda a criação de um código exclusi­
vo para acesso à Internet, no modelo
do 0800. A idéia é que, através desse
sistema de numeração específica, que
poderia atender pelo padrão 0i00 ou
i00, as chamadas de Internet sejam di­
ferenciadas das chamadas convencio­
nais, criando condições para cobrança
de tarifas mais baixas. Se a proposta
vingar, podem sair ganhando as opera­
doras, que teriam a chance de gerenciar
melhor o tráfego de dados da Internet,
e os consumidores que, apesar de não
precisarem mais pagar pelo acesso à
Rede, sentem o peso das horas de na­
vegação toda vez que recebem as con­
tas de telefone.
r e l â m p a g o
negocia o fornecimento de infra-estru­
tura para o provedor em São Paulo. O
apetite pela Internet não se restringe às
carriers fixas e também começa a con­
taminar as operadoras celulares. A Por­
tugal Telecom, principal acionista da
Telesp Celular, adquiriu em meados de
fevereiro a Zip.Net, terceiro maior por­
tal brasileiro e criador do ZipMail, um
dos mais populares sistemas de e-mail
gratuito do País. Os maiores incentivos
para o negócio, de US$ 365 milhões,
devem estar na grande atuação da
Zip.Net no ramo de comércio eletrônico
e na cada vez mais próxima integração
entre celulares e Internet.