Page 51 - Telebrasil - Novembro/Dezembro 1993
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Q u e m p a g a r á p o r e s t a n o v a
r e s e r v a d e m e r c a d o
posicionaram contra a Portaria defender seus interesses, falam se verificou, pois vários aditivos
647, não queremos que renasça em proteção do emprego, em foram assinados após a sua pu
a cartelização do mercado de benefícios sociais etc. blicação com preços muito ele
equipamentos de telecomuni Não lhes basta a proteção de vados, usando-se argumentos
cações que durante tantos anos uma alíquota de 40% de impos técnicos no mínimo discutíveis.
dominou o setor. Essas indús to de importação contra as cen Pois bem, diante desse cenário
trias, depois de longas negoci trais de comutação importadas, de neoprotecionismo brasileiro
ações, contratos de transferên mais isenção de IPI via Lei de que se desenha, adverti mos para
cia tecnológica, envio de enge Informática (até junho, a as seguintes consequências:
nheiros e técnicos ao exterior e alíquota era de 50%). Alegam 1 - Caso se aprovem as nor
enormes investimentos - tudo que a sugerida proteção por meio mas propostas na redação ori
com o conhecimento da de tarifas aduaneiras, como se ginal da Portaria 647, o Bra
Telebrás -, correm agora o ris faz nos países civilizados, não sil estará recriando aquela re
Antonio Roberto Beldi. co de perder ou de não obter o lhes bastaria, dada a válvula de serva de mercado e uma dita
presidente da Splice.
Atestado de Qualificação Téc escape da Zona Franca de dura tecnológica das quatro
nica (AQT), documento que Manaus. E recusam até o meca empresas transnacionais ins
Antonio Roberto Beldi, diretor lhes garante o direito básico de nismo das tarifas alfandegárias, taladas no Brasil.
presidente da Splice do Brasil, participar das licitações no se dizendo que mesmo com 2 - Esses critérios vão pre
escreveu artigo publicado pela tor. Ora, se adquirimos alíquotas de "1.000% seria o valecer já na licitação de mais
RNT (nov. 93, págs. 34 e 35) sob tecnologia c pagamos por ela, é mesmo que nada". Que ironia! 720 mil terminais telefônicos,
o título "Quem pagará por esta porque estamos dispostos a fa A Portaria 647, curiosamen- até o final deste ano, onde
nova reserva de mercado ? ' no bricar no País. Não somos, por te, não se preocupa em proteger somente elas poderiam parti
(jual ele discorda do conteúdo e tanto, "meros importadores", desenvolvimentos tecnológicos cipar gerando a continuidade
da forma da Portaria 647. Eis o com 4 mil empregados e três nacionais, que seria algo mais da reserva de mercado, como
artigo na íntegra: fábricas (Sorocaba, Votorantim lógico. É o desenvolvimento era feito anteriormente.
c Manaus) como nos acusam as tecnológico nacional que gera 3 - A Telebrás dispõe-se a
"A Portaria 647, como se quatro transnacionais, elas sim emprego e não a simples monta centralizar as compras, a pre
sabe, foi divulgada pelo Minis beneficiárias de privilégios e gem de placas, no caso de texto de reduzir os preços, mas
tério das Comunicações para proteção durante décadas. tecnologias desenvolvidas nou impedindo, na prática, a com
debate público no dia 27 cie A mudança das regras do jogo tros países, como prevê a pró petição aberta, pois cria no
maio de 1993. Seu objetivo no meio da partida é, no míni pria Lei de Informática (8.248). vos critérios técnicos para di
expresso é regulamentar a aqui mo, uma manobra suspeita. Por É. na verdade, o desenvolvi men ficultar a participação de ou
sição de equipamentos e mate isso, solicitamos, como foi con to de software que gera a maior tros fabricantes.
riais de telecomunicações pe ferido a todos os fabricantes es parcela de empregos nessa área. 4 - As "quatro irmãs" que for
las empresas que integram o trangeiros que vieram para o E para se ter uma idéia dos necem centrais telefônicas de
Sistema Telebrás. Mas vai mui País, apenas e simplesmente um privilégios obtidos pelas grande porte à Telebrás, confor
to além de uma simples regula período razoável de carência transnacionais ao longo das úl me alegaram em entrevista pro
mentação de critérios de com para implementaras tecnologias timas décadas basta lembrar movida por seu lobby, dizem
pra, para se transformar em i ns- adquiridas e produzir com mai duas portarias: a 622, de 1978, que a proteção desejada custaria
trumento de verdadeira políti ores índices dc nacionalização. e a 215, de 1981. A primeira "apenas US$ 48 milhões". Ora,
ca industrial. Porque temera concorrência, limitava o número de fornece isso não é verdade, porque se
Para tornar clara minha posi depois de tantos anos de privilé dores, reservando-lhes o mer tais dados fossem corretos refe
ção, devo dizer que dirijo uma gios? A única alternativa que a cado e estabelecendo isenções rir- se-iam apenas à comutação
empresa líder de grupo empre portaria oferece é que os novos de impostos. A segunda, defi pública (centrais telefônicas). O
sarial preponderantemente vol fornecedores de tecnologias nindo as regras para a implan que eles querem, na verdade, é
tado para as telecomunicações, avançadas se instalem de imedi tação das centrais digitais, ampliar sua reserva de mercado
com longa tradição, 4 mil em ato no Brasil, para fornecer seus manteve a divisão do mercado a todo o espectro de produtos de
pregados e expressivo número equipamentos à Telebrás. Ora, entre três transnacionais, asse telecomunicações, visando um
de engenheiros e técnicos. Te o mais consentâneo e plausível gurando-lhes o fornecimento mercado de US$ 3 bilhões.
mos competido com sucesso em no mundo moderno é a aquisi cativo de 800 mil linhas (mas, 5 - As quatro transnacionais
diversos segmentos, a ponto de ção de tecnologia ou a formação na prática, acabaram venden que buscam proteção estão de
provocar a redução dos preços de joint ventures. do 2 milhões de terminais) ao olho é no potencial representa
praticados no mercado a menos As "quatro irmãs" trans Sistema Telebrás com preços do por 10 milhões de terminais
de um terço dc seus preços ante nacionais, mesmo se tratando consideravelmente superiores que o País necessitaria instalar a
riores, como foi o caso dos tele de algumas das maiores empre aos praticados no mercado in curto prazo. E só não o faz por
fones públicos a cartão c outros sas do mundo, revelam sua re ternacional. que a Telebrás não dispõe de
equipamentos de transmissão sistência a qualquer tipo de mu Essa reserva de mercado só recursos próprios, razão porque
ÍPCM c enlaces ópticos). dança. Simplesmente não que viria a terminar, legal mente, com lança todos os ônus da expansão
Pois bem, como uma das in rem novos concorrentes no mer a Portaria 702, de novembro de sobre os ombros do usuário. É
dústrias nacionais que se cado interno. Mas, para melhor 1992, mas que infelizmente não por esse bolo que elas lutam".