Page 7 - Telebrasil - Julho/Agosto 1992
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A retomada dos
investimentos
Infelizmente, esse quadro não permane
C oncluída, com êxito, a extenuante mas ceu. Na primeira metade da década de 80
crucial renegociação de dívida brasilei
o setor perdeu a primazia e os recursos
ra com os bancos comerciais estrangei
escassearam-se, reduzindo-se apenas ao au-
ros e achando-se iminente a instituição
da reforma fiscal, que os economistas apos tofinanciamento e os recursos próprios, es
tam como principal fator de estabilização, tes aviltados, porém, por persistente defa-
está delineado o cenário onde poderá dar a sagem tarifária. Na segunda metade da dé
retomada de crescimento. cada de 80 tentou-se reverter o quadro de
O crescimento, como etapa subsequente pressivo que se abatera sobre as telecomu
à estabilização monetária, será determinan nicações - um esforço que novamente mos
te do comportamento futuro da inflação e, trou resultados imediatos - mas o advento
como tal, de todos os demais objetivos da da década de 90 contém incertezas. A jul
sociedade brasileira. Porque a inflação é, gar pelo limite de investimento aprovado
também, e muito especialmente, consequên para 1992, estamos diante da clara pers
Jorge de Moraes cia do crônico desequilíbrio entre a nossa pectiva de adiamento de projetos impor
Jardim Filho (*) oferta e demanda de bens e serviços. Supe tantes para o atendimento da demanda. Nes
rá-la, e mantê-la em níveis adequados a te momento, o quadro é de demanda repri
uma economia em desenvolvimento, exige mida, congestionamento elevado, planos de
a preliminar da expansão da oferta, isto é, expansão vencidos e indústria de telecomu
do crescimento económico. nicações ociosa. Um cenário dramaticamen
É neste ponto que desejamos alertar pa te desfavorável ao crescimento econômico
ra uma variável que reputamos fundamen do País.
tal: a da expansão e modernização das te A cultura do setor de telecomunicações
lecomunicações. Não há crescimento eco no Brasil está criada e consolidada. Temos
nômico, no mundo moderno, sem sistemas tecnologia disponível, capacidade industrial
eficientes de comunicação. A agilidade no instalada, recursos humanos formados e,
processo de troca dc informações há muito principalmente, enorme demanda capaz de
se incorporou à dinâmica dos negócios no tornar rentável qualquer nível de investi
mundo inteiro. Ela é vital para a produti mento. É um setor, portanto, pronto para
vidade e, assim, para a competitividade. É, cumprir o seu papel no processo brasileiro
portanto, um insumo moderno do proces de crescimento e desenvolvimento.
so produtivo sem o qual o País não poderá O que lhe faltam são os recursos. A ver
competir com as economias desenvolvidas. dade tarifária é um caminho. Os ADR’s
As telecomunicações praticamente come são outro. Eles poderão suportar, aliados
çaram a existir no Brasil na década de 70 ao talento, à criatividade e ao alto profis
quando o governo percebeu os avanços que sionalismo dos técnicos brasileiros, uma no
ela vinha obtendo no mundo e conferiu-lhe va etapa do esforço de recuperação e ex
prioridade, alocando ao programa talento pansão das telecomunicações do País.
e recursos financeiros. Estes provieram de Investir em telecomunicações é assegu
um conjunto orgânico de fontes, os recur rar a modernização do processo produtivo,
sos próprios, os do Fundo Nacional de Te fundamental para que ele gere, em condi
lecomunicações (FNT), os do autofinan- ções competitivas com o mercado interna
ciamento e os de terceiros, basicamente ex cional, os bens e serviços que irão garantir
ternos. Daí surgiu a Rede Nacional de Te o desenvolvimento. Mais bens e serviços
lecomunicações, à epoca uma das mais mo injetados nos fluxos da economia é que
dernas e vigorosas do mundo, com índices nos proporcionarão a verdadeira e consis
(*)Jorge de Moraes Jardim Filho c
engenheiro, presidente da Tclebra- de desempenho comparáveis aos dos países tente queda da inflação.
silia c diretor da Telcbrasil. do primeiro mundo.