Page 49 - Telebrasil - Setembro/Outubro 1991

Tecnologia é , co­
BF
A i I ><¦ pela Ciência para
de de nossas vidas. Atualmente usa-se
tecnologia para gerar sementes mais re­
sistentes, para criar produtos mais sofis­
ticados, para produzir remédios mais
eficazes, para gerar lazer mais agradá­
vel, etc. A tecnologia permeia pratica­
mente em todas as atividades humanas
do mundo moderno.
Embora tecnologia também possa
ser usada (e tem sido bastante usada)
para a confecção de armas mortíferas,
tecnologia é, em geral, uma bênção. Bas­
ta compararmos o padrão de vida do
ser humano do início do século com aque­
le que temos hoje (pelo menos nos paí­
ses do Primeiro Mundo) para compro­
varmos o potencial benéfico da tecnologia.
Ao longo dos últimos anos, porém,
nota-se a emergência nos países mais
avançados de uma sociedade pós-indus-
trial baseada no poder da infprmação.
Neste mundo moderno, a produção e o
comércio perdem importância relativa
quando comparados ao domínio da infor­
mação. Deter tecnologia, isto é, deter co­
nhecimento, é, assim, um dos principais
objetivos para o qual se orientam as so­
ciedades modernas.
As recentes mudanças em nível mun­
dial (término da guerra fria, união da
Europa, acordos do Gatt, etc) pronun­
ciam uma era de comércio mais amplo
e verdadeiramente global. Neste contex­
to, as sociedades que detêm tecnologia
têm uma vantagem comparativa enor­
me em relação às sociedades mais atra­
sadas. A tecnologia tem um valor comer­
cial imenso e a sua obtenção e transfe­
rência passam a obedecer também a cri­
térios políticos. Países do Terceiro Mun­
do, como é o caso do Brasil, se não orien­
tarem corretamente a sua política tecno­
lógica, passam a ter na tecnologia não
mais uma bênção mas sim, paradoxal­
mente, uma ameaça à melhoria da quali­
dade de via de seus integrantes.
Para que se entenda a mudança de
bênção em ameaça é preciso averiguar
quanto a sociedade de um País como o
Brasil controla a tecnologia de que se
utiliza. Por isso é fundamental a distin­
ção entre três níveis de capacitação: o
uso de produtos com alto conteúdo tec­
nológico, o da fabricação desses produ­
tos pela sociedade e o da concepção e
projeto desses produtos. Enquanto a uti­
lização de uma câmera de vídeo (primei­
ro nível) ou a montagem de um automó­
vel (segundo nível) podem dar a muitos
brasileiros a ilusão de controle, no País,
da sua tecnologia, é somente no tercei­
ro nível de capacitação, quando um pro­
duto ou processo é inteiramente conce-
Telebrasll, Set./Out./91
bido e projetado no País, que se pode
nhecimento. É o dizer que se detém a sua tecnologia. Ra­ A SOLUÇÃO ADEQUADA
conhecimento de ros, entretanto, são os produtos e proces­
como aproveitar sos utilizados no Brasil cuja tecnologia
as características é dominada pela sociedade aqui radicada. PARA SEU PROBLEMA DE
natureza Que Como agravante, ultimamente a tec­
noscerca’eciu e f°* nologia não se tem restringido apenas TELECOMUNICAÇÕES
ram descobertas à área da concepção e do projeto de pro­
dutos e processos físicos (que envolvem
melhorar a qualida­ materiais). A organização da produção
e a própria organização da comercializa­
ção, manutenção e serviços, em geral, Projeto, implantação e
também são processos que têm envolvi­ manutenção de sistemas de
do conhecimento tecnológico. Dessa for­
ma, tem-se verificado que a parte do va­ telecomunicações:
lor de um produto ou processo relativa
à tecnologia (inteligência) embutida no
mesmo é proporcionalmente cada vez
maior se comparada com a parte relati­ • transmissão
va ao material empregado.
Certamente países do Terceiro Mun­ • comutação
do não deixarão de utilizar produtos • energia
que possuem alta tecnologia embutida.
Se a evolução da tecnologia faz com que • redes especiais
a parte cada vez maior do valor de um
produto esteja na informação imbutida • prospecção de rádio enlaces
no mesmo, ao se comprar esse produto
estamos pagando cada vez mais a inteli­ • comunicação de dados
gência dos agentes econômicos que pu­ • comunicação via satélite
deram gerá-lo. O importante, neste mo­
mento, é saber se esses agentes se encon­ • cabos ópticos
tram dentro ou fora da sociedade que
necessita de tal produto.
Se desejarmos que esses agentes se­
jam encontrados dentro da sociedade, Fornecimento de equipamentos
em primeiro lugar é preciso formá-los
e, em segundo, criar condições para que de radiocomunicação:
o seu trabalho seja aproveitudo pela so­
ciedade.
Muitos governantes, entretanto, acham • rádio móvel convencional e
que esse processo que passa pela educa­
ção e pela consolidação de indústrias especializado
nascentes pode ser deixado ao “laissez- #
faire”. Confundem abertura do merca­ • terminais móveis de dados
do às indústrias estrangeiras com plane­ • sistemas trunking
jamento para qualidade e competitivida­
de. Confundem empresas que concebem • paging
e produzem no País com empresas que
apenas montam o que é concebido e pro­ • telefones celulares
jetado no exterior.
Como já mencionamos, mesmo sem • acessórios
transferir tecnologia, as importações de
produtos de alto conteúdo tecnológico
precisam ser pagas. No comércio inter­ Manutenção de
nacional serão pagas com as nossas “van­
tagens comparativas”, isto é, produtos microcomputadores e
primários ou industrializados de baixa
tecnologia. Mas a parte da inteligência periféricos
dos produtos de alta tecnologia cresce
constantemente! Desta forma a quantida­
de de produtos primários ou industriali­
zados de baixa tecnologia, trocados pe­
los produtos com alto conteúdo tecnoló­
gico, tenderá a ser cada vez maior. Isto
significa que mais brasileiros terão de
trabalhar mais horas em empregos ou
funções menos qualificados para com­
prar no exterior produtos cada vez mais
sofisticados. A História, certamente, vai Rua São José, 37 - São Paulo - SP
cobrar a responsabilidade de todos nós. CEP 04740 - PABX (011) 548-9222
(•) Newton Faller, 44, PhD em Engenharia Elétrica e Ciência Telex 11 56914 - Fax (011) 521 -5859
da ComputoçAo pela Universidade da Califórnia, Berkeley, EUA;
professor e pesquisador do 1M/NCE da UFRJ.