Page 30 - Telebrasil - Janeiro/Fevereiro 1990

T e l e b r á s
O economista Alm ir Vieira Dias,
46, carioca, form ado pela UFRJ
(67), com passagens pelo Contei (67/
68), E m bratel (68/76), Telebahia
(76/83), registrou seu depoimento
para a R evista Telebrasil, ao tér­
mino de um m andato de 5 anos à
fren te da Telebrás, iniciado em
março de 85. A entrevista, exclu­
siva, foi concedida no escritório da
presidência da Telebrás, em Bra­
sília, em meados de janeiro deste
ano. (JCF)
T elebrasil O que o Sr. considera como
maior realização de sua gestão?
A.V. Dias — E ter dado continuidade á ex­
pansão do setor de TCs. Gratificou-me o fato
de termos, em cinco anos, aumentado a
planta em 40%t com nível de produtividade
nunca antes alcançado, visto que o quadro de
pessoal é o mesmo
pessoas a menos. A registrar que, nos últi­
mos trés anos, fomos a empresa recordista do
País, em termos de lucros.
TH — Algum número?
AI) Km linhas gerais, iniciamos com d«*/
milhões e fechamos nossa gestão com qua­
torze milhões d<* telefones. Existem, porém,
outras realizações.
T l f — O Sr, podería c i t á - l a . a?
AI) A primeira, que acho importantís­
sima, ó a ent rada da Telebrás no mercado na­
cional de ações. Nossas ações suo uma das
blue chips do mercado, concorrendo com IV
trobrás. Vale do Rio Doce, Manco do Brasil, e
isto graças ã leitura pura e simples de nossos
balanços. A segunda, én introdução de novos
serviços, como a telefonia móvel que estará
funcionando no Rio de Janeiro até abril pró­
ximo. A t e r c e i r a , é um aumento fantástico na
prestação do serviço, medido pelo tráfego que
cresceu 40f’f, em 1988, e 30 G em 1989.
TH Desejaria acrescentar algo?
AD Km 89, inata Íamos 685 mil terminais,
um recorde histórico. Kinalmente, pegamos a
Telebrás com 1,2 bilhões de dólares de dívida
e vamos entregá-la reduzida a apenas 200
milhões de dólares.
TB O que o Sr. citaria como maiores difi­
culdades, em sua gestão?
AI) A maior dificuldade foi a de manter,
em ambiente inflacionário, um nível tari­
fário adequado. Quanto maior a inflação,
mais difícil para nós, que levamos um mês e
meio para arrecadar nosso dinheiro e que en­
tão só valerá metade. Em relação a tarifas,
nós não as defasamos mas também não con­
seguimos recuperar o atraso vindo de anos
anteriores. Para tal, deveríamos quadrupli­
car ou quintuplicar os atuais valores, o que é
inviável. Nossas tarifas representam apenas
um décimo do valor, do que é cobrado nos paí­
ses desenvolvidos,
TH Como resolver o problema das baixas
tarifas?
AD — É difícil, porque ao apresentarmos mento, temos um modelo em que cada opera­
balanço positivo,junto à Secretaria de Abas­ dora representa algo significativo em seu
próprio Estado e é muito difícil reverter tal
tecimento e Preços, ela não nos dá tarifa, ale­
gando que investimentos devem ser feitos situação. É necessário ver se o ganho econô­
não com tarifas, mas sim com recursos de ter­ mico da aglutinação justificaria o desgaste
ceiros. Posso até concordar com isso. mas en­ político resultante.
tão quero autorização para captar recursos TH — Qual deve ser o papel da Telebrás?
externos, junto ao mercado.
AD — Deve ser uma holding atuando nas
TH — Não há um caminho político para me­ correções de rumo. Ela deve dar as normas
lhorar as tarifas? gerais, apenas. Implantamos o contrato de
AD — Este é exatamente o inibidor do au­ gestão em que negociamos com as operadoras
mento tarifário, inclusive frente ao problema
o que devem fazer e elas nos trazem as difi­
econômico da inflação. culdades encontradas. Isto substituiu aque­
las eternas sabatinas que existiam no Sis­
TH — Sem tarifas e empréstimos de vulto tema. A padronização técnica deve ficar com
como se expandiu o sistema? a Telebrás, porém já há um entendimento e
AD — Com recursos próprios. Saímos de um um intercâmbio de informações muito
nível de investimento de 800 milhões de grande entre as empresas, de modo que elas
dólares por ano. em 85, para 2,4 bilhões em só implantarão o melhor. A interferência da
89, tudo com recursos próprios e com isto Telebrás deve ser mínima mas decisiva.
crescemos mais de 600 mil terminais, em 89. Sempre.
TH - É verdade que. em termos relativos, se TB Por ocasião da licitação do satélite foi
investiu mais ultimamente, mas se expandiu dito uue ele era indispensável devido à vida
menos? ú til aos Brasilsats que se esvai. Como está a
AD — Sim; houve, realmente, aumento no decisão desta licitação?
preço dos equipamentos provocado pelos Pla­ AD Realmente, devemos colocar um ter­
na verdade são três mil nos Cruzado e Verão. As centrais de comuta­ ceiro satélite no espaço a ser lançado ao final
ção são o exemplo que dou; tiveram um acrés- de 93 e outro ao final de 95. Como o prazo de
» imo medio de 20'. . fabricação é relativamente longo estamosem
cima do prazo para tomarmos uma decisão.
Estamos, porem, em mudança de Governo e
esta licitação, que para nósé técnica,envolve
aspectos de estratégia governamental, no
que tange à transferência de tecnologias
para a área militar, grau de participação da
indústria nacional e contrapartida ae expor­
tações. Assim, determinou o Ministro das Co­
municações que consultássemos a nova equi­
pe do Governo sobre a matéria.
TH A nova equipe do Governo já foi con­
sultada sobre a licitação do satélite?
AD Uma vez definida a nova equipe, ela
será de imediato consultada.
TB () Sr. poderia comen tar sobre os forne­
cedores do Sistema Telebrás?
AD Operadoras de um lado, indústrias e
empreiteiras de outro integram o setor de
TCs. Se um lado não está satisfeito, o outro
também não irá bem. Do ponto de vista da
Telebrás, estamos satisfeitos com nossos for­
necedores.
TB — E quanto a prazos?
AD — Houve grandes dificuldades para a in­
A lm ir Vieira Dias, PR da Telebrás. dústria logo ao início do Plano Cruzado e que
nós soubemos entender. Da nossa parte, visto
os recentes aumentos salariais, que exce­
TH Quanto custa, hoje, um terminal tele- deram o que se imaginava, tivemos um pro­
fônico? blema de caixa. Tivemos que optar pela folha
A D — Três mil dólares. de pagamento e algum prejuízo, que chegou a
um furo de 30 milhões de dólares. Já conse­
TH Internacionalm ente, isto é caro ou guimos equacionar o problema frente à Sest
barato? e temos autorização para uma operação de
AD Há países, como os EUA, que se valem captação de recursos de longo prazo (relen-
da grandeza de escala, então ele é caro. Em ding) da ordem de 500 milhões de dólares.
mercados do mesmo porte que o brasileiro Vamos pagar a dívida para com nossos forne­
creio, porém, que estamos na média. cedores.
TH Falando de administração, o Sr. é a fa­ TB E sobre a comercialização de termi­
vor ou contra a aglutinação de empresas- nais?
pólo, por região? AD — Somente Telesp e Telemig venderam
AD Tecnicamente, acho que isto geraria 120 mil terminais. No Rio deu-se início a co­
economia. O exemplo disso é a Cetel, que con­ mercialização da telefonia móvel, o que con­
seguimos incorporá-la à Telerj. Mas, no mo­ tribuirá para aliviar nosso fluxo de caixa.