Page 52 - Telebrasil - Setembro/Outubro 1989

Ainda como curiosidade, o astró­
te, agarrado à vida num simbólico “cor­

dão umbelical” com a nave Gemini IV. nomo lembrou que as fraldas descartá­

Estávamos em 1965. veis, a lâmina de barbear dupla, a dieta

Mas, neste caminho, os soviéticos dos astronautas e outros produtos fabri­

continuariam liderando. São deles as cados, atualmente, por várias empre­

primeiras voltas da Lua e o primeiro sas, no mundo, são conseqüências das

passo na superfície lunar com a utiliza­ viagens do homem ao espaço.

ção de um robô. Também foi soviética a D urante muito tempo, o homem

primeira mulher no espaço: Valentina acreditou que era o centro do universo,

Tereskova. Ed White morreu quase dois mas no início do século XVII, o astrô­

anos depois, com mais dois colegas, em nomo italiano Galileu Gallilei mudou a

janeiro de 1967, quando um curto-cir­ história do Ocidente usando, pela pri­

cuito incendiou a Apoio I. Mesmo assim, meira vez, um telescópio para ver os as­

os norte-americanos não desanimaram tros. Na Lua, ele descobriu “mares”. As

e lançaram mais sete naves do Projeto manchas menores que, na verdade, são

Apoio, todas em fase de testes. crateras criadas pelo impacto de meteo­
ros, Galileu deu nomes poéticos: Mar da

Tranqüil idade, Mar das Ondas, das Nu­
E ra dos satélites
vens. Sabe-se, agora, que o satélite na­

A história comprovou que a corrida tural da Terra é um lugar sem água e

dos EUA para tirar os soviéticos da pri­ sem vento, com cordilheiras com cerca

mazia no espaço seria difícil e por vezes de 8 mil metros de altura, tão altas

trágica. Mas serviu para acelerar como quanto a do Himalaia.

nunca o desenvolvimento tecnológico e

criar nova fase da vida na Terra: a co­ C om portam ento

municação via satélite. Já era possível

estudar o clim a de nosso planeta e — Há muita gente que ainda não

transmitir imagens para o mundo intei­ acredita que o homem esteve na Lua. Is­

ro. Os satélites artificiais retransmi­ so ó apenas uma questão de formação e

tem, através de transponders, milhares informação, além de ser também uma

de chamadas telefônicas, imagens de questão cultural — frisou Durval Rossi.

TV e transmissão de dados, reduzindo Nós vamos encontrar nas mais diversas

quase instantaneamente o tamanho de lides da cultura mundial pessoas que

nosso planeta. Outros satélites do tipo não acreditam mesmo; mas a crença é
Lançamento do foguete Saturno levando ern
meteorológico e de sensoriamento re­ sua ogiva mais uma misaâo Apoio. algo íntimo de cada pessoa. Não temos

moto mantêm cuidadosa vigilância so­ realmente o que discutir muito em cima

bre os recursos naturais e o meio am­ disso.

biente, e outros artefatos que servem a Por outro lado — acrescentou o astrô­

fins militares. C u riosid ad es nomo —, as viagens espaciais ainda são

No Brasil, o Instituto de Pesquisas eventos de alto risco, até porque a tec­

Espaciais (Inpe) tem contribuído na O escritor francês Júlio Verne foi um nologia vem se desenvolvendo acompa­

área da objetividade ecológica, através visionário. Há pouco mais de um século, nhando fundamentalmente a informá­
ele escreveu “Da Terra à Lua”, a mais
do trabalho denominado “Avaliação da surpreendente profecia sobre o desem­ tica, que foi uma das impulsionadoras

alteração da cobertura florestal da barque do homem na superfície lunar. desse desenvolvimento. Sem a computa­

Amazônia Legal utilizando sensoria­ Um trecho do livro diz: “Três homens, ção era impossível se fazer um vôo como

mento remoto orbital”. O trabalho, de­ lançados por um canhão gigantesco e a o realizado pela Apoio 11. Naquela

senvolvido em prazo recorde (30 dias), bordo da nave espacial Columbia, a 10 época (1969), a informática também es­

atendeu solicitação do Presidente José mil km por hora, partirão da Flórida, tava engatinhando. Houve, antes e de­

Sarney, cumprindo o programa “Nossa pois, sacrifício de vários astronautas.
EUA, com destino à Lua”. Na volta, um
Natureza”, instituído no dia 6 de abril barco resgataria em alto-mar os viajan­ No projeto Apoio morreram três em trei­

deste ano, e que engloba atividades de namento e, na União Soviética, houve

um grupo de 32 técnicos na produção e tes lunares. Com exceção do canhão, também outras três mortes de cosmo­
Verne acertou em cheio.
interpretação de 101 imagens forneci­ nautas em órbita da Terra. Em janeiro

das pelo satélite norte-americano Land- Rainha da noite, rainha do silêncio, de 1986, todos nós acompanhamos o aci­

sat, com a finalidade de avaliar áreas mulher do sol, venerada pelas mais di­ dente ocorrido com a Challenger (a de­

desmatadas e queimadas em todas as ferentes tribos indígenas, a Lua é beleza safiante), onde morreram mais sete as­

regiões florestais do País. e mistério, magia que a ciência não des­
faz. Mensageira das trevas do mundo tronautas norte-americanos.

antigo, dos filmes de terror, da transfor­ Mesmo assim, depois de três anos e

mação do homem em lobisomem, das meio de marchas e contramarchas, o go­

sextas-feiras 13, a Lua Cheia também é verno dos EUA não desistiu e, no dia 8

deusa de muitas crenças, como a de de agosto último, a Nasa lançou de Cabo

acelerar o crescimento dos cabelos, ve­ Canaveral o ônibus espacial Columbia,

getais e dos bebês. Morada de São Jorge em sua sétima missão, levando a bordo

combatendo o dragão. Existe também a cinco tripulantes comandados pelo coro­

dieta da Lua e, segundo os astrólogos, nel da Força Aérea Brewster Shaw Jr.

ela influencia a personalidade dos indi­ Houve êxito na operação, mas o real ob­

víduos como, por exemplo, os nascidos jetivo da missão foi mantido em sigilo

sob o “Signo de Câncer” (21 de junho a pelas autoridades norte-americanas.

20 de julho). Ornis Durval Rossi continuou expli­

Para o astrônomo Ornis Durval Ros- cando: “As riquezas minerais que exis­

si, diretor da Divisão de Astronomia do tem na Lua e que vão interessar, real­

Planetário do Rio de Janeiro, tudo isso mente, aos futuros viajantes serão exa­

não passa de fantasias: “A ciência pode tamente o ferro, o alumínio e principal­

afirmar com certeza que a Lua tem in­ mente o titânio. A Lua é muito rica em

fluência sobre as marés, por uma força titânio, minério fundamental na cons­

Concepção artística da futura nave espacial e muito conhecida, que é a força gravita- trução de espaçonaves. Hoje se acredita

do telescópio “Hubble”, que enviará imagens cional, definida no ano de 1600 por Isaac que Terra e Lua nasceram juntas há

para a Terra.
Newton”. cerca de 4 bilhões e meio de anos e, as-f