Page 43 - Telebrasil - Maio/Junho 1989
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"A aplicação da ciência e da tecnolo zado, que residem os maiores benefícios sileira "fica com o restante”, está ultra
gia no dia-a-dia das empresas é bem di para o País. As m ultinacionais agem passado. No caso da Elebra, fruto da
ferente do que poderia parecer na teo pensando a médio e longo prazos, afir aquisição de pequena indústria bra
ria”, concluíram debatedores do Painel mou o vice-presidente da Rhodia. sileira de equipamentos de telecomuni
de Ciência e Tecnologia parte do Semi Por sua vez, o PhD em bioquímica. cações, pelo Grupo Docas de Santos, à
nário comemorativo do cinquentenário Marcos Mares Guia, diretor de P&D da procura de uma iniciativa no ramo da
da Faculdade de Economia e Adminis Biobrás, traçou os primórdios da empre alta tecnologia, tal como na Biobrás
tração (FEA), da UFRJ Compuseram o sa desde sua criação, em 62, por pequeno houve longo aprendizado no ciclo da tec
debate Luciano de Sá (Rhodia), Marcos grupo de brasileiros que queriam produ nologia. Citando o caso da impressora
Mares Guia «Biobrás), Mário Ripper zir enzimas apoiando-se na Universi Mônica, um produto Elebra para infor
(Elebra) e W alter Bartels (Embraer), dade local até sua atual posição como mática, mostrou Ripper que existe todo
sob coordenação de Antonio Maia da Sil um dos cinco fornecedores mundiais de um ciclo tecnológico a ser penosamente
veira, da FEA. insulina. apreendido pelo empresário e que vai
A multinacional Rhodia, de capitais Explicou o diretor que a Biobrás per desde a tecnologia de projeto até a tec
franceses, atua em 140 países, no setor correu verdadeiro aprendizado a partir nologia de fabricação e da venda do pro
duto, em grande escala.
— Temos, teoricamente, a possibili
dade de fazer tudo no Brasil, mas só se
aprende, realmente, fazendo. E para ter
sucesso é preciso ter gente preparada.
Em 1900, Dor comparação ao Brasil, os
EUAja tinnam mais engenheiros mecâ
nicos do que civis, o que ainda não havia
ocorrido em 1955 — observou Ripper.
Falando da industria de aeronáutica
no Brasil, o especialista em aerodinâ
mica e mísseis, formado pelo ITA, Wal
ter Bartels, diretor técnico da Embraer,
disse que após o abandono, pela família
Pignutari, da fabricação do avião "Pau-
listm ha” resolveu o Ministério da Aero
náutica criar, em 45, o Centro Tecnoló
gico da A eronáutica (CTA) do qual
emergiu, em 69, a Embraer — uma em
presa caracterizada pela tecnologia de
saber integrar outras tecnologias de
ponta num produto final altamente so
fisticado.
Mostrou Bartels que as aeronaves da
Tecnologia é sahvr projetar, fitter. vendere pimintir m enmio parti um produto. Nu tecnologia Embraer sempre foram fruto de cuida
do dia-a-dia. a prática sc distingue da teoria. doso planejamento, que pode levar até
seis anos, incluindo os aspectos técnico e
mercadológico. O Xingu é derivado do
de insumos químicos. Com nua se 60 da instalação, em 1975, de fábrica-pilo Bandeirante, mas tem cabine pressuri
anos de existência no País, a subsidiária to na localidade de Montes Claros (MG), zada. O Brasília, com capacidade de 30
brasileira da Rhodia emprega cerca de valendo-se de recursos da Sudene Após lugares, possui instrumentação eletrô
13 mil pessoas e está em fase de negocia período de quatro anos que passou asso nica que somente os sofisticados jatos
ções com o Governo visando im plantar ciada á Lily norte-americana, para ad 767 e 757 possuem e ganhou mercado
unidade fabril de fenolacetona, um pro quirir tecnologia, a Biobrás, hoje inde poraue é o mais veloz em sua classe. O
duto químico do qual detém o virtual pendente, investe entre 8 e 10% de seu AM a está equipado com sistema de bar
monopólio, com investimentos previstos faturam ento bruto para desenvolver ra de dados digitais, denominada aviô-
de 150 milhões de dólares. tecnologia. No ano passado, a Biobrás nica integrada, sim ilar à dos aviões
Para Luciano de Sá, vice-presidente lançou a insulina humana para diabéti m ilitares. O próximo lançam ento da
executivo, com 22 anos de carreira na cos, a custos e qualidade compatíveis Embraer será o CBA-123, uma avião ci
Rhodia, uma multinacional precisa ser com o mercado internacional, no qual vil de 19 lugares, que será, novamente,
"ferozmente com petitiva” p ara poder agora compete. Afirmando que a verda o mais veloz em sua classe.
sobreviver na dura arena cio comércio deira proteção não reside em estabele A Em braer adquiriu tecnologia de
internacional Destacou o adm inistra cer reserva de mercado, mas sim na ca proieto valendo-se da absorção de pes
dor o fato que os investim entos m un pacitação tecnológica das empresas, ter soal do CTA e de tecnologia de produção
diais da Rhodia em pesquisa e desenvol ni mou M ares G uia por fazer apelo ao ao fabricar aviões a jato, sob licença
vimento, que ascenderam , só no ano Governo para m ais recursos públicos italiana. Finalm ente, dominou a tec
passado, a 600 milhões de dólares e en aplicados na pesquiso tecnológica da nologia de vendas enfrentando o mer
fatizou a "total transparência" na divul empresa privada. cado internacional. Hoje, dois terços do
açáo de tecnologia entre as em presas M ário D ias Ripper, com doutora faturam ento da Embraer decorrem de
o grupo mento nos Estados Unidos e diretor da exportação. Desde a fundação do ITA
A transferência formal de tecnologia Elebra, lembrou que o modelo de desen até o presente decorreram 43 anos. "O
para o Brasil é de 150 milhões de dóla volvimento, em que o Governo faz a in Governo brasileiro também sabe pensar
res, mas é na transferência inform al, fra-estru tu ra, a m ultinacional entra a longo prazo”, sentenciou B artels.
como na formação de pessoal especiali- com a alta tecnologia e a empresa bra- (J CF)
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