Page 44 - Telebrasil - Setembro/Outubro 1988
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Especialistas debatem
Política de Informática
Reportagem: Jenner de Paiva
Os eventos especiais, realizados seguintes palestrantes convidados: An mento do mercado, o grande prejudi
paralelamente ao XXI Congresso Na tonio José Cerqueira Antunes (MF); cado, que sempre pagou a conta, sem
cional de Informática, contou com uma Antonio Augusto Cunha de Sousa (SEI); direito a reclamar”. E acrescentou:
série de painéis sócio-políticos, nos Salomão Wajnberg (Geicom); Edson — Assim, ao usar a tecnologia como
quais foram debatidos diversos aspectos Vaz Musa (Rhodia) e George Vidor (O um fim, e não como um meio de se alcan
da Política Nacional de Informática. A Globo). çar melhores produtos e métodos produ
programação geral teve como coordena Com exceção do subsecretário de Es tivos, essa política acabou conduzindo o
dor Luiz Antonio Motta Roncolli, da Su- tudos e Planejamento da SEI, Antonio País a um atraso tecnológico. Senão, ve
cesu, para quem "o debate das questões Augusto de Souza, os demais palestran jamos:
políticas da informática é fundamental tes defenderam o livre mercado, a parti • Ao criar barreiras ao ingresso e cresci
para a formação da opiniáo das elites e cipação da tecnologia estrangeira no de mento de empresas locais de instrumen
das classes dirigentes do País, contri senvolvimento nacional e criticaram as tação, porque tinham parcela de capital
buindo e influenciando fortemente suas distorções da Lei de Informática e a estrangeiro, atrasou a indústria de bens
decisões”. forma como ela está sendo interpretada. de capital e tornou a fabricação nacional
Os painéis, seguidos de debates, sem O Secretário Executivo do Geicom, não competitiva.
pre das 15 às 18 horas, começaram no Salomào Wajnberg, começou sua pales • Ao intervir no andamento do processo
dia 23 de agosto e terminaram no dia 26 tra dizendo que "a sociedade, num país industrial do setor de telecomunicações
sob a presidência do presidente da Suce- em desenvolvimento, pode ser sinteti contribuiu im ensam ente para que as
su-Nacional Hélio Azevedo. O primeiro zada como integrada, pelo menos, em metrópoles brasileiras, atendidas pelos
tema "O papel estratégico da informá dois setores: um núcleo composto pela equipamentos fabricados pelas grandes
tica — A visão das nações e o mundo de parte economicamente mais desenvol ' joint-ventures”, ficassem na atual si
hoje” discutiu opapel que as nações têm vida da sociedade e aqueles segmentos tuação de congestionamento telefônico.
reservado à informática e outras tec que ainda lutam para vencer o estágio • Ao criar obstáculos e exigências à pro
nologias de ponta, como instrumento de do subdesenvolvimento”. dução fabril, ao invés do incentivo in
fundamental valor estratégico na geo- dustrial, ela fomentou o contrabando.
política mundial. No último dia, o painel "II Planin: 0
que deve m udar” analisou os resultados
Painéis e debates obtidos com a primeira versão do Plano
Nacional de Informática e Automação,
Diversos especialistas foram convi identificando as alterações que devem
dados para o painel de abertura: o em ser introduzidas para o aperfeiçoa
baixador Paulo de Tarso Flexa de Lima mento da sua nova versão, quer seja de
(MRE); Robeli José de Libero (IBM); natureza metodológica, na sua elabora
Luiz de Mello Flores Guinle (Flebra); ção, quer seja quanto ao seu conteúdo.
Rubel Thomas (Varig); César Rómulo Compareceram os palestrantes Tércio
da Silveira Neto (ACRJ); Aspasia Ca Pacitti (OllU); Paulo Roberto Mattos
margo (FGV); Paulo Ma/ioel Protásio (IBM); Francisco Eduardo Rego Rama-
(Abece) e o deputado Álvaro Valle lho (Assespro); Celso Cordeiro (Abes);
(Constituinte-RJ). Jorge Gerdau Johannpeter (Grupo Ger-
O painel do segundo dia abordou os dau); Cláudio M ammana (Abicomp);
caminhos do desenvolvimento para o Márcio Leonardo (Abcpai); Daniel Me-
Brasil, considerando-se as novas alter nascé (SBC) e Antonio Augusto de Sou
nativas que se apresentam no mundo, za (SEI).
centradas na maior integração e inter Salomão Wnjnberg, secretário executivo do As palestras e debates da programa
dependência entre as nações, face ao Geicom. ção sócio-política foram concluídas no
modelo adotado pela política de infor mesmo diapasão, isto é, com alguns de
mática em vigor, voltadas para a prote Para ele, o uso de modernas tecnolo fendendo a política nacional de informá
ção industrial setorial, via reserva de gias em um país em desenvolvimento tica e outros criticando, sem se chegar a
mercado, e na independência tecnoló- somente pode ser realizado, em uma pri um denom inador comum. Jorge Ger
ica. Os convidados foram: Luciano meira fase, mediante importação de tec dau, que também é membro do Conin,
outinho (MC&T); Marco Antonio de nologia desenvolvida externamente. "É disse que "a informática no Brasil está
Araújo Lima (BNDES); Cincinato Ro essencial, porém, que ao assim proceder necessitando de definições”, e falou
drigues de Campos (Serpro); deputado a nação adote todos os passos neces ainda sobre a transição política brasilei
Guilherme Afíf (Constituinte-SP); João sários para desenvolver capacidade lo ra paralela à crise econômica, como um
Paulo dos Reis Veloso (IBMEC); Ozílio cal de absorver e, a seguir, gerar tec dos fatores que cerceiam essa definição.
Carlos da Silva (Embraer); Amaury nologia”, observou Salomão Wajnberg. Por sua vez, Cláudio Zamitti Mam
Temporal (CACB); e Josué Souto Maior Em seguida, o orador destacou que o de mana, presidente da Abicomp, defendeu
Mussalém (Sucesu-PE). senvolvimento e expansão natural de a política nacional de informática, res
No dia 25 de agosto, sob o tema "Polí qualquer setor industrial deve se basear saltando que "m uita coisa vai mudar
tica Industrial versus Política de Infor na harmonia de seus suportes básicos: com a nova Constituição”, enfatizando,
mática: O que compatibilizar”, discutiu- mercado, produção, tecnologia e capital. a seguir, que "é preciso maiores investi
se as diferenças conceituais que funda Mais adiante, Wajnberg disse que "a mentos no campo da ciência e de pesqui
mentam as duas políticas, de forma a política de informática desde os seus sas para que o Brasil desenvolva suas
identificar os ajustes que devem ser fei primórdios teve como constante o dese próprias tecnologias”. Ele também acha
tos nas normas jurídicas e administrati quilíbrio destes suportes, ora dando ên que a política nacional de informática
vas que regem a Política de Informática, fase à tecnologia, ora dando ênfase à tem sido, até agora, o "bode expiratório"
faceà nova Política Industrial apresen produção, ora ao capital, dependendo da daqueles que acusam a SEI e o Conin
tada pelo Governo. Compareceram os época ou fase política, sempre em detri pelo atraso tecnológico do País. »