Page 18 - Telebrasil - Novembro/Dezembro 1988

E U A
R e a ç ã o
O sucesso tecnológico dos Estados
Unidos deve ser creditado ao triângulo
laboratórios federais, instituições uni­
versitárias de pesquisa e centros de tec­
nologia da empresa privada. O sistema
não é hierárquico mas existem canais de
comunicações estabelecidos entre estes
diversos segmentos. ‘Todavia, em algu­
mas áreas tecnológicas, como em certos
tipos de semicondutores, os EUA per­
deram a liderança que detinham no co­
mércio internacional”, admite Michael
Michaud, diretor do setor de Tecnologia
Avançada, do Departamento de Estado,
ue mostrou preocupação, numa visão
e longo prazo, “com os japoneses e seu
curto tempo de resposta entre pesquisa
e produto no mercado e europeus que en­
fatizam a cooperação em pesquisa bá­
sica e tecnológica”.
Frente à crescente competição inter­
nacional, o Governo Reagan, a partir de
82, tomou diversas medidas, dentre as
quais incentivar a cooperação interem-
presarial, facilitar o acesso da indústria
a laboratórios federais e universitários
e, por outro lado, dar maior proteção à
propriedade intelectual em contratos de
cooperação científica e tecnológica en­
volvendo produtos norte-americanos.
Disse ainda Michael Michaud que, ape­
sar da política de seu país “não ser pro­
tecionista”, o Governo dos Estados Uni­
dos dá suporte direto a certas tecnolo­
gias estratégicas como microeletrônica,
computadores (o Governo investiu 665
milhões de dólares, só em 87) e super­
condutividade (150 milhões de dólares).
Preocupados com o avanço japonês
em microeletrônica, a indústria privada
dos EUA, com aprovação governamen­
tal, instituiu um consórcio para pesqui­
sa denominado Microelectronics and
Computer Technology Corporation, ao
passo que o Departamento ae Defesa dá
suporte ao instituto de pesquisas deno­
minado Sematech.
O representante da administração
norte-americana citou, a seguir, algu­
mas estatísticas sobre desenvolvimento
tecnológico em seu pais — os Estados
Unidos investem 2,7% do PNB em tec­
nologia; 132 bilhões de dólares estão
sendo aplicados em pesquisa e desenvol­
vimento, ainda no ano de 88, metade dos
uais suportados pela indústria priva-
a; para pesquisa básica o Governo des­
tinou 8 bilhões de dólares e para bio-
ciência, em geral, 9 bilhões de dólares;
na área de recursos humanos contam-se
4 milhões de pessoas entre cientistas e
engenheiros.
— Em aditamento, a Administração
dos EUA deslancha grandes projetos
tecnológicos que atuam como motiva­
dores para o resto da sociedade — ob­
serva Michael Michaud, citando: a esta­
ção orbital (em cooperação com Canadá,
p a r a m a n t e r l i d e r a n ç a m u n d i a l
Japão e Europa), o mega-acelerador de ainda serão mais rápidos, da ordem de
partículas com emprego de supercondu­ picossegundos (mil vezes mais rápidos
tividade, que é um elemento importante do que um nanossegundo). Com isto, os
para o entendimento melhor da matéria dispositivos microeletrônicos para com­
e dos fenômenos energéticos, o seqüen- putação começarão a esbarrar na difi­
ciamento completo da genética humana culdade representada pelo limite físico
(com imensas ramificações em bioquí­ da velocidade da luz (o que há de mais
mica e na cura de doenças), o estudo das rápido no universo, segundo Einstein) e
mudanças climáticas ocorrendo no glo­ que percorre cerca de 0,3 milímetros em
bo e o avião aeroespacial. 1 picossegundo.
Disse ainda Danos Gazis que o tama­
IBM nho físico dos chips FET se reduz de me­
tade a cada dois ou três anos, sendo de
Danos Gazis possui 27 anos como esperar para daqui a seis anos ter 64 mi­
pesquisador na IBM, onde é atualmente lhões de bits armazenados num simples
diretor para semicondutores e tecnolo­ circuito integrado (com tecnologia
gia no Watson Research Cen ter, que é CMOS e NMOS). Ele informou ainda
um dos 33 laboratórios de pesquisa da ue a gravação dos desenhos no silício se
gigante da informática, ao lado de suas á, hoje, a intervalos mínimos de 0,5 mí-
42 unidades industriais e 17 centros cron mas que já existem dispositivos ex­
científicos que possui espalhados em perim entais com densidade de compo­
todo o mundo. nentes equivalentes a 0,1 mícron. Com
Ao dar uma panorâmica da tecnolo­ isto, a m ira do pessoal de microeletrô­
gia de microeletrônica e informática, nica se volta agora para o aperfeiçoa­
em sua empresa, iniciou o cientista di­ mento dos novos processos litográficos
zendo que, noje, graças a um fina ponta empregando Raios-X e feixes de elé­
de tungsténio, é possível auscultar e le­ trons. ,
vantar o relevo quase-atômico da super­ Prosseguindo em sua exposição, vol­
fície de um chip. Discorreu a seguir que, tada para o mundo IBM, destacou Da­
num extremo dos dispositivos da micro­ nos Gazis a conectividade (capacidade
eletrônica, se encontra a tecnologia bi- de interconexão a uma rede) como re­
polar para computadores grandes e rá­ quisito essencial para a indústria de in­
pidos (limitados pela energia que podem formática, o que exigirá protocolos de
dissipar) e no outro se situam os disposi­ comunicação cada vez mais eficazes,
tivos do tipo FET (fíeld effcct transistor) embutidos nos próprios computadores
empregados em microcomputadores e para se conseguir a independência de
limitados pela área disponível no chip. dispositivos ae comutação externos,
Dentre as tecnologias ae ponta em mi­ com PABXs. Quanto à arquitetura dos
croeletrônica, destacou Danos Gazis os novos com putadores paralelos (náo-
transistores, tipo NPN auto-alinhados, Von-N eum ann), “algo que ninguém
a tecnologia de ranhuras profundas ainda alcançou realmente”, as tendên­
isoladas (deep groove) e dispositivos cias estão divididas entre memórias se
com velocidade de processamento de 0,3 conectando a processadores, por sua vez,
nanossegundos (unidade mil vezes mais comutados entre si ou então memórias e
rápida do que um microssegundo). processadores conectados a um mesmo
Porém, rumo ao século XXI os chips nó de com utação. (O sistem a IBMé
misto).
No reino dos grandes computadores,
a IBM lançou uma máquina com capaci­
dade de 11 bilhões de megaflops por se­
gundo (operações lógicas por segundo)
que poderá, ao final de um ano de opera­
ção, solucionar para os físicos o proble­
m a dos quarks (partícula elementar
constitutiva da m atéria). Referiu-se
ainda Danos Gazis que a interação ho­
mem-máquina, com base em teclados,
fitas perfuradas, cartões magnéticos e
transdutores mecânico-elétricos (mou­
se) ainda é um ponto fraco da informá­
tica, prevendo para os anos 90 o apareci­
mento de dispositivos de varredura óp­
tica, reconhecimento da palavra falada
e escrita e m áquinas tradutoras' aue |
transformarão voz em texto escrito, algo
Philip Culbertson, diretor de política e pla­ que já existe na prática, mas por ora li­
nejamento da Nasa: “Devemos cuidar do pla­ m itado a um restrito vocabulário de
neta Terra, afinal é nosso único lar”. apenas poucas palavras.