Page 7 - Telebrasil - Julho/Agosto 1988
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editorial
Os entraves da
privatização
Luiz Carlos Bahiana
(Presidente du Equitel e Diretor
do Telebrasil)
Privatização, de novo? É preciso. Hã reu na França, verificamos que grandes Mas não é desse tipo de privatização
ocasiões em que idéias novas tomam empresas foram estatizadas por es que estamos falando, já que a explora
conta da imaginaçao publica, entram tarem em situação difícil, que seus acio ção dos serviços telefónicos é monopólio
em ressonância com experiências an nistas privados não conseguiram en estatal Poder-se-ia pensar em vender
teriores e dão colorido especial à manei frentar Como sairmos do dilema de de ao publico ações preferenciais, man
ra como é visto o mundo. Em termos fender uma privatização de atividades tendo o controle nas mãos do Governo.
mais simples, poderiamos chamá-las de que fqram estatizadas, porque nas mãos Segundo fui informado por especialis
modismos Um deles, sobre o qual temos privadas não tinham condições de so tas, o valor de venda das ações da Tele
falado,discutido,opinado, e sem sombra brevivência? Nesse universo ilógico, co brás varia entre 7 e 15' í de seu valor pa
de dúvidas o da privatização Não a pri meçam minhas preocupações. trimonial. Vender ações a preços tão
vatização em si. Mas a ilusão do que a Outra confusão bastante comum, de aviltados não parece ser bom negocio.
privatização é a solução do todos os pro- pois do desmembramento da AT&T, é Talvez um grande lançamento de ações
olemas brasileiros Fala-se, o claro, so aquela entre privatização e desregula- na Bolsa ae Valores possa ser uma
bre privatização sem nem ter q cuidado çáo Há serviços que, para serem presta solução.
de defini-la ou conceituá-la É apenas dos com a qualidade e a segurança que Entretanto, esta variante de privati-
aquela convicção emotiva de quo priva- necessita o cidadão pagante de impos zaçaosó traz uma vantagem o aporte de
tizar é bom e estatizar é mau. tos, têm que ser necessariamente re recursos adicionais. Mas o que acontece
Vamos iniciar fazendo uma ressalva, gulados, sejam explorados por empresas com os tetos de investimentos, com a in
talvez desnecessária, mas sempre pru públicas ou privadas. Entre estes, suficiência tarifária, com as inoportu
dente Trabalho, na iniciativa privada, transportes e comunicações. Em outras nas influências políticas? Continuam
há quase 14 anos. Conheço sua pujança palavras, privatização não implica em na mesma.
e sua eficiência Portanto, não posso ser desregulaçâo. Vemos que nos caminhos da privati
contra ela. Mas é bom não esquecer que Órgãos como o FCC, nos EUA, e a Of- zação, seja de que modalidade, erguem-
há empresas privadas bem administra tel, no Reino Unido, são exemplos de se os seguintes obstáculos, além dos dis
das e há empresas privadas mal admi tais entidades reguladoras, apesar de positivos legais vigentes: nacionalismo
nistradas. Acredito que o mesmo seja que, em ambos países, os serviços sejam estremado; receio da participação de in
| verdadeiro para as estatais. explorados por empresas privadas. teresses estrangeiros; falta de experiên
f Precisamos saber de que estamos Menciono este fato porque deve ser mo cia ou disposição para operar no mer
falando, mas é útil. antes de tentar uma tivo de preocupação o mito de que só a cado de capitais; resistência dos dirigen
definição de privatização, descobrir competição é chave do sucesso. Obri tes e até mesmo dos empregados das em
como surge a estatizaçào. Uma das ra gando, por exemplo, empresas aéreas a presas; desejo do Estado de só vender
zões comuns í que se apl íca, por exemplo, competirem, corremos o sério risco de empresas não-rentáveis.
ao caso dos transportes, de energia elé que, na corrida desenfreada para a re Entretanto, se houver abertura sufi
trica e das comunicações) é a necessi dução dos custos, sejam sacrificadas ati ciente no novo texto constitucional, e
dade, durante as guerras, de assegurar vidades de maior importância, como en uma vontade política efetiva existir, al
ao público a continuidade de serviços es tre outras a manutenção e a formação de guma forma de privatização é possível
senciais Quando elas terminam, por controladores de vóo, colocando em risco Para tanto, é preciso elaborar uma
uma questão de inércia, a prestação dos a vida de todas aqueles que utilizam es estratégia, não necessariamente uni
serviços continua nas mãos do Estado. ses serviços forme para todas as estatais, que gra
No Brasil, a construção desse im- E entre os parâmetros regulados in- dualmente seja aplicada em cada caso
péno que é o Sistema Telebrás se deveu clui-se quase sempre o preço da presta Vários países desenvolvidos o consegui
a razões que bem conhecemos, ou seja, a ção dos serviços, isto é, como bem sabe ram nos últimos anos. Entretanto, na
necessidade de construir um sistema mos, o fato de que as tarifas são fixadas minha opinião, qualquer forma de pri
harmónico com especificações unifor pelo poder central para uma adminis vatização será inútil se os grandes pro
mes para garantir um serviço de boa tração privada. Se fosse este o modelo blemas do nossQ sistema não forem re
qualidade a este País continente. Nunca adotado, tornar-se-ia difícil operar sem solvidos antes. E preciso conseguir uma
houve opiniões contrárias a este tipo de o controle de um dos parâmetros mais política tarifária adequada, uma polí
«riatizaçáo. importantes que é o da receita. Tivemos tica de investimentos que atenda a de
Das razões para estatizaçào, há algu- um exemplo vivo das consequências re manda que se acumula cada vez mais e
bastante curiosas. Há razões políti- sultantes no caso da antiga CTB. Um uma política de pessoal preponderante
que dispensam comentários. Mas se longo período de má fixação de tarifas mente calcada nas necessidades profis
armos, por exemplo, o que ocor levou nosso sistema telefônico ao caos. sionais das empresas