Page 7 - Telebrasil - Maio/Junho 1987
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e d it o r i a I
A I n e v i t á v e l R e v o l u ç ã o
T e c n o l ó g i c a e o B r a s i l
Delson Siffert
(Diretor da Telebrnsil e Presidente
(Lis Indústrias Kletrónicas do Grupo ABC)
desenvolvi mento sócio-econômi- mesmo com fábricas estrangeiras em gia através da educação maciça que ne
co atual está condicionado, cada seu território, está criando o conceito de cessita intensanientede tempoe, princi
0 vez mais, ao desenvolvimento tecnoló"capitalismo social” e confundindo o palmente, de capital.
gico. Tecnologia entendida como solu mundo ocidental. Mas esse tema é dos Até hoje quando pensamos em capa
ção industrializada, de geração própria sociólogos. Voltemos á tecnologia. citação tecnológica, muitas vezes esta
ou transferida, para melhoria da quali Essas tendências mundiais passam mos preocupados apenas com o conheci
dade de vida. por seis grandes conflitos nas socieda mento do produto e poucas vezes com a
Em todos os países desenvolvidos des informatizadas. O primeiro é o con sua produção, equilibrando custo e qua
percebe-se a estreita ligação entre a tec flito básico já introduzido acima: a dis lidade. Isso é um saber que exige tempo.
nologia e o capital, a diminuição da im tinção dos objetivos do saber e da produ () Brasil dispõe de mão-de-obra e de ma
portância da "mão-de-obra” e da maté ção. Um país pode ter bom desenvolvi téria-prima, recursos que estão se tor
ria-prima. Cada vez mais, torna-se gera mento cient ífico (grupos do saber) e não nando irrelevantes, mas, infelizmente,
dor do desenvolvimento o "cérebro-de- ter boa qualidade de vida. A índia pro não temos poupança própria e nem fa
obra”, a massa cinzenta do homem edu duziu silos de cimento (tecnologia de cilidades de créditos externos para com
cada para transformar os recursos na processo) só recentemente, apesar do posição de um programa eficiente de
turais — as energias potenciais — em seu conhecimento centenário. O se P& D
produtos úteis: máquinas, programas e gundo conflito é o econômico, que é a lu Como resolver este problema bra
serviços. ta entre os recursos necessários e os dis sileiro atual, chamado por alguns de
A índia quintuplicou sua produção poníveis para algum programa de de "perda de oportunidade histórica”,
de grãos em três anos, com a mesma senvolvimento tecnológico. E o conflito frente à inevitável revolução tecnoló
área plantada, alim entando até a das prioridades. O terceiro é o gerencial, gica mundial? Apenas chorar por não
URSS, com o uso de silos de cimento, ao que é o impasse entre os recursos então termos aproveitado melhor, no passado,
invés de bambus e madeiras, que apo aplicados em um programa e os seus re os recursos disponíveis, quando ainda
dreciam e permitiam entrada de ratos e sultados. No fundo é a gerência de P&D, eram relevantes, e jogar toda a culpa
insetos. Passaram também a aplicar o conflito entre os prazos dos projetos e a nos países que exploraram essa si
agrotóxicos em escala correta. Isso exi criatividade, sem tempo, dos cientistas. tuação?
giu pesados investimentos em engenha O quarto é o da capacitação versus a Como mensagem final desse pequeno
ria agrícola, em parte financiados pelos soberania tecnológica. Aqui está o pro ensaio, deixamos para reflexão a nossa
próprios países consumidores dos grãos blema da reserva de mercado para um única saída: criar um multiplicador de
finais — a equação econômica se fe produto ou para uma empresa. O quinto nossos poucos recursos de capital, atra
chando no mercado internacional. conflito é o político, particularmente vés do nosso único recurso disponível, e
A Alemanha "segurou” sua tecnolo nos países endividados: a economia re relevante, que é a "engenharia da mas
gia de mecânica fina durante décadas, o cessiva contra os investimentos em pro sa cinzenta”. Multiplicar o capital e as
mesmo fazendo a Inglaterra com sua gramas de P&D. Tem-se que casar os sim acelerar a educação. Formar massa
tecnologia têxtil. Era a época do conhe tempos peculiares da pobreza econô crítica de P&D como postura nacional.
cimento sigiloso, do mercado colonial mica, da falta de recursos, que é uma P&D produtivo e não apenas um exercí
em mão única. Quem sabia dominava, evidência de curto prazo, com os tempos cio intelectual de uma minoria. Isso, na
quando não escravizava. Os Estados de P&D, que é um "conhecimento termi turalmente, exige políticas inteligen
Unidos e o Japão dominam hoje o mer nal” resultante de políticas conseqüen- tes, conseqüentes e controladas. Caso
cado de microeletrônica. Até quando? O tes de várias gestões de governo. Essas contrário, continuaremos com a paradi
obsoletismo da tecnologia exige rápida políticas têm que ser patrióticas mas ne síaca coletânea de desejos,que constitui
comercialização da mesma, multipli- cessariamente apartidárias, sem inter os demagógicos e distorcidos programas
cando-se a produção em outros países. A rupções nas transmissões do poder pú de governo. Iniciemos um regime de
divulgação tecnológica é, atualmente, blico. guerra cerebral e alimentemos as fu
mais inteligente do que a preservação Esse talvez seja o maior conflito no turas gerações para sua continuação.
burra do conhecimento. Brasil, que essencialmente é o problema Um cientista programático já disse: "A
A Rússia, com sua atual política de da falta de política de educação conse- proteína de hoje é a tecnologia do fu
abertura, descentralizando sua econo qüente. O último conflito é o da "inevi turo”.
mia, motivando a competição, até tável revolução tecnológica”. Tecnolo