Page 65 - Telebrasil - Janeiro/Fevereiro 1987

V e r v u e r t d a S i e m e n s : H o r a d e
Helmut Vervuert, 63, atual presi­
dente da Siemens falou, ao final do ano,
das perspectivas da economia do País
refletindo sua vivência de empresário
estrangeiro, com 30 anos de América
Latina, dos quais 15 de Brasil. A visào
que apresentou teve, basicam ente,
cunho otimista, caso obedecidas certas
regras. Eis o recado: "o Brasil, dentro de
algumas décadas, se situará entre os
países mais ricos e poderosos do mundo,
mas para isto precisará se ajustar a uma
série de severas condicionantes”.
Dentro da filosofia de que milagres
nâo acontecem de graça, iniciou o execu­
tivo suas ponderações pela constatação
da existência, no Brasil, de recursos na­
turais (quase) intermináveis, como re­
servas minerais (uma das maiores do
mundo), hídricas (200 Gw) e petrolí­
feras (poderá chegar à auto-suficiência).
Aproveitou para citar a colaboração da
Siemens, de 35%, em relação à energia
instalada no Brasil e noticiou a trans­
ferência, para o País, da fábrica de hi-
drogeradores, ora em Berlim. Comen­
tou também que até o final do século, a
energia nuclear será indispensável e
que o Brasil deveria, desde já, formar
uma indústria competente, nesta espe­
cialidade.
Quanto ao caráter do povo brasileiro,
foi definido como ambicioso, com von­
tade de aprender, criativo, diligente,
improvisador, moderadamente exi­
gente e tolerante. A taxa de crescimento
da população, no entanto, preocupa. Ex­
pandindo a 2,5% aa, serão 270 milhões
de brasileiros, em meados do próximo
século, que precisarão ser mantidos.
Isto exigirá, durante décadas, um cres­
cimento real do PIB de 6 a 7% ao ano e
H elm u t V ervu et, a tu a l p re sid e n te da S ie m e n s do B rasil.
a p e r t a r o c i n t o
investimentos contínuos, ao redor de tribuir dividendos; e contribuir para o
25% deste Produto Interno Bruto. crescimento do padrão de vida da po­
E como vencer este desafio, para a pulação através de produtos melhores e
manutenção do nível necessário dos in­ mais baratos.
vestimentos? Ao falar sobre o Plano Cruzado co­
É Vervuert mesmo que responde ao mentou que este foi aceito com entu­
dizer que a poupança interna do País siasmo pela maioria da sociedade, mas
(pessoas físicas e lucro das empresas) que o reaquecimento econômico e o au­
será insuficiente para suportar o cresci­ mento de poder aquisitivo do consumi­
mento e será indispensável o aporte de dor (padrão de vida) não pode ser acom­
capital estrangeiro, em volumes apre­ panhado pela capacidade produtiva de
ciáveis, quer sob forma de capital de todos os setores econômicos.
risco, quer de investimentos. Mas estes Sem meias palavras, Helmut Ver­
últimos só virão se a rentabilidade dos vuert disse que é hora de "apertar o
projetos, a curto prazo, for menor do que cinto”, o que para o Poder Público signi­
o valor dos juros. fica ter um déficit financiável pelo mer­
Três medidas terão que ser tomadas: cado de capitais, para os empresários é
incentivo à poupança, o que implica em reinvestir o lucro e final mente para o
certa desistência de consumo; manuten­ assalariado é limitar suas expectativas
ção de um clima de livre concorrência, a de aumento salarial aos ganhos de pro­
fim de assegurar a lucratividade das dutividade.
empresas; e ter garantia de condições Neste momento da conjuntura re­
favoráveis para atrair o capital estran­ feriu-se o empresário à importância da
geiro. Dentre tais condições, o presi­ capacidade de comunicarem-se estes
dente da Siemens destacou: existência valores, algo que deve ficar acima de
de estabilidade política; relações har­ quaisquer sentimentos patrióticos.
moniosas entre os parceiros sociais Helmut Vervuert revelou ainda que
(vale dizer sindicatos); igualdade de o Grupo Siemens, no Brasil, teve um fa­
condições para atuar, independente- turamento, no ano de 8 6 (outubro), de
mente da origem do capital (contra a re­ 485 milhões de dólares, representando
serva de mercado); e transferência ade­ um aumento de 24% em relação ao pe­
quada de dividendos e pagamentos de ríodo anterior, mas com ligeira diminui­
royalties. ção do resultado final. Na área de pes­
Em contrapartida, deve o empreen­ soal houve, no entanto, um aumento no
dimento estrangeiro favorecer a pre­ nível de emprego de 15% (mais 2 mil
sença do funcionário brasileiro (a Sie­ funcionários) e estão previstos investi­
mens só tem 30 funcionários da casa- mentos de 150 milhões de dólares para
matriz, no Brasil); maximizar o valor os próximos 3 anos, distribuídos metade
agregado; realizar pesquisa e desenvol­ para energia e eletricidade industrial,
vimento, no País; participar da exporta­ um quarto para as TCs e o restante para
ção, no âmbito da livre concorrência do componentes e eletromedicina.
mercado mundial; reinvestir lucros; dis­ A fábrica de hidrogeradores que será
transferida para o Brasil servirá para
suprir estes equipamentos para o mer­
cado interno e para exportação para
África, América Latina, já havendo con­
tratos firmados com a Mendes Jr. para o
Chile, Venezuela e Iran.
No caso das telecomunicações, ele re­
velou que estão avançadas as negocia­
ções para adaptar o perfil do capital da
Equitel (hoje 51% com a Hering) às im­
posições da SEI. Quanto à informática, o
Grupo Siemens centrou seu interesse
para a área de CPAs, da eletrônica in­
dustrial e da automação.
Moderado e lógico em seus posiciona­
mentos, Helmut Vervuert dá sua recei­
ta para a presença de uma multinacio­
nal no estrangeiro, que é a do compro­
misso entre ter que se adaptar ao país
hospedeiro e ao mesmo tempo ser inte­
grante de uma comunidade mundial. O
que não deve ser fácil e é um prêmio à
habilidade e à continuidade. A casa Sie­
mens está há mais de um século no Bra­
sil. (JCF) V