Page 12 - Telebrasil - Novembro/Dezembro 1986
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Ozires Silva
sito ele afirmou, que, no caso brasileiro, te
engenheiro Ozires Silva, formado
O pelo ITA, trabalhou 17 anos na Em- fora, mesmo no sistema de comércio prote mos sido mais eficientes na adaptação do
gido vigente no País, querendo com isto ex
pressar que quem compra nacional, sabe
braer e hoje é presidente da Petrobrás, que na geração de tecnologia própria, o que
tendo proferido palestra na Sucesu, do Rio dos preços lá fora, e quer produtos competi considerou uma condição pouco vantajosa,
de Janeiro, sobre "A Informática e o Desen tivos, a nível internacional. cuja solução dependerá dos incentivos pro
volvimento Tecnológico do Brasil”. Sobre a interferência do Estado na eco duzidos pela política nacional e pelas op
Qualificando o tema de "amplo e apaixo- nomia, reconhece, porém, que toda a indús ções mercadológicas, quer a nível nacional,
nante”, disse o engenheiro que tecnologia tria nacional (quer genuina ou a partir de quer internacional.
constitui fator essencial ao desenvolvi capitais estrangeiros) depende, de uma
mento de qualquer País e consiste na arte forma ou de outra, de incentivo ou de prote Informática
do "como melhor fazer”. ção do Governo, e aproveitou para acres
Ele lembrou, porém, que apesar da au centar que o próprio Estados Unidos (que Comentou Ozires Silva que este é um
to-suficiência tecnológica ser objetivo im lidera o comércio mundial) vem prati setor que difere dos demais devido à sua
portante de qualquer País, não se deve cando, desde o século passado, inúmeros abrangência e capacidade de interferir em
gerar tecnologia "apenas para satisfazer o atos de proteção à sua indústria. todos os outros, o que explicaria as "acirra
orgulho próprio”. das controvérsias que cercam a política
— Não se conhece nenhum país que te brasileira”. Ele admitiu, todavia, que há
nha atingido grande desenvolvimento unanimidade sobre a conveniência da Lei
prescindindo da aplicação de tecnologia de Informática, mas o que cria polêmica sáo
consagrada alhures por técnicos e cientis as formas de sua aplicação "algo que vem
tas das mais variadas origens e época, que mais, proso às emoções do que propriamen-
dela fizeram aplicação inteligentes criando tos aos fatos”.
produtos competitivos e inteligentes — — Estes problemas são, no entanto,
afirmou o conferencista, que recomendou solucionáveis, inclusive o sensível conten
para o Brasil uma otimização do custo- cioso existente entre Brasil e os Estados
benefício "entre as suficiências nacionais e Unidos. Mas a informática deve ser encara
os recursos que vem do exterior, havendo do como necessária ao desenvolvimento do
grande responsabilidade da sociedade e das País, e sua solução deve ser procurada com
empresas na escolha adequada dos cami pragmatismo e com equilíbrio de modo que
nhos a seguir”. não fiquem prejudicados outros importan
Referindo-se ao sucesso alcançado pela tes segmentos industriais — advertiu o
Embraer e Petrobrás, disse Ozires que a Ozires Silva, presidente da Petrobrás. executivo, acrescentando que a Revista Bu
fórmula deve ser creditada à conquista de siness Week mostrou que a informática é
certo nível tecnológico por partes destas um importante produto, mas um fraco pro
empresas, que aplicado, seletivamente, a Neste ponto, o palestrante traçou um dutor de faturamento e sobretudo um voraz
determinados produtos, resultou na ocupa paralelo dos EUA com a situação brasileira consumidor de recursos de P&D (7,13 bi
ção efetiva de "nichos mercadológicos”. para indagar "se estamos coerentes com lhões de dólares nos EUA, só em 85).
Procurando extrapolar estas idéias para nossos cidadãos e com os de outras nações Os números falam por si só, finalizou o
o setor de informática — tema de sua pales com os quais nos relacionamos?” A propó palestrante (JCF). Y
tra — ele falou de sua preocupação em rela
ção ao modelo aqui adotado, que parte da
idéia de que "tudo faremos e de que de ou
tros não precisamos”, mas que não alcan Problemas Brasileiros
çou ainda uma linha pragmática e aceita
Durante sua palestra Ozires Silva
em relação à "indução, incentivo e promo abordou alguns dos grandes temas nacio • Associação com Capital Estrangeiro —
ção da indústria”, como existe no Japão e nais. A seguir, suas idéias, sobre o que de Se a poupança nacional é insuficiente por
que rejeita a poupança estrangeira? De
em outros países desenvolvidos algo neces nominou dos paradoxos do dia-a-dia: vido ao domínio tecnológico, mesmo sa
sário para polarizar o esforço nacional. • Intervenção do Estado na Economia — bendo que tem os que aprender com
ao mesmo tempo que se procuram gran terceiros? Ameaça à soberania? Náo po
Livre iniciativa des espaços para exercitar a liberdade demos proibir associações, na convicção
cresce a intervenção do Estado na vida do de que o empresário brasileiro é incompe
A seguir, o conferencista tratou do livre cidadão. Mas devemos ser justos com o tente (ou testa de ferro) nas suas relações
Governo que está sob continuada pressão com o interlocutor estrangeiro.
empreendimento — uma orientação do
Presidente da República, em relação à qual dos indivíduos e das empresas para vir em • Relações Capital-Trabalho — As ações
seu auxílio, por uma coisa e outra.
ele não deixa de ter razão — para acrescen • Comércio Exterior — Se dependemos atuais no campo político-sindical buscam
mais a ociosidade do que a operosidade,
tar que a liberdade a nível individual deve deste comércio por que tantas limitações procurando obter mais direitos e menos
se extender à empresa, aos investimentos, para importar (aqui compreende-se que obrigações. Nossos produtos perderão sua
ao comércio, à indústria. há dependência da moeda-forte), contra competitividade, em tal clima, vis-a-vis
Referindo-se à influência da concorre- tar, associar-se e incompreensivelmente do similar estrangeiro. O que ganha o tra
rência internacional, Ozires Silva qualifi exportar? Só vendemos ao exterior nossas balhador é pouco e o Plano Cruzado mos
cou o Brasil como uma sociedade de con sobras e isto não pode prevalecer por trou que o aumento de renda da popula
sumo muito bem informada e que sabe longo tempo. Teremos que comprar de ção faz crescer o consumo. Todavia é pre
ciso aumentar a produtividade para po
avaliar bem o preço dos produtos que lhe terceiros para satisfazer nossos compro der pagar salários mais altos.
missos e obter reservas.
são oferecidos em face da oferta que vem de