Page 24 - Telebrasil - Julho/Agosto 1983
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Apesar da atual crise econômica do papel cada vez mais importante nos con mia tecnológica do setor. Esta visão já
país e das poucas perspectivas de uma flitos modernos. não é compartilhada pelo presidente
solução a curto prazo, a discussão sobre da Abicomp - que representa a indústria
o modelo industrial para a Informática Reserva de Mercado nacional de informática. Este critica a
ou mais precisamente para a eletrônica utilização de joint-ventures, achando
digital continua mais acesa do que Um dos assuntos mais polêmicos é to que dessa maneira (Folha de SP 4.5.83)
nunca. O que está em jogo não é tanto o davia o da reserva de mercado, que pode o Brasil passaria a ser uma mera linha
atual parque informático brasileiro, ser alcançada através do incentivo à de montagem das empresas multinacio
com cerca de 23 mil sistemas levantados mão-de-obra local, (como no pólo de Ma nais.
em 82, para um valor equivalente de 2,5 naus), da maioria do capital votante na Mas a real discussão presente cen
bilhões de dólares, mas muito mais o po cional (telecomunicações), ou da totali traliza-se no setor de informática e no
sicionamento estratégico de empre dade do capital nacional (informática). conceito de empresa nacional. 0 as
sários e investidores visando assegurar Todos os modelos têm sido objeto de sunto encontra um momento parti
uma fatia de um segmento de alta tec elogios e críticas. Existem os que ques cularmente propício, quando a tecnolo
nologia - o que vale dizer alta rentabili tionam porque Manaus, além de produ gia da microeletrônica está inexoravel
dade - cujo potencial está apenas sendo zir rádios e tocafitas, não pode também mente levando a uma definição de quem
percebido. fabricar computadores, no que se con ocupará a "terra de ninguém" dos super-
trapõe a argumentação de que é no Sul minis, as pequenas-grandes máquinas
Donos da informação que existem mais recursos para o desen na faixa de 16 a 32 bits. A discussão tem
volvimento de uma indústria nacional muita razão de ser. Um estudo da Bu-
A eletrônica digital, um subproduto autônoma. sinness Week diz que se em 80 as peque
da integração dos componentes de es O modelo das TCs tornou possível nas máquinas representavam, em ter
tado sólido, encontra aplicação desde a que as empresas multinacionais passas mos mundiais, 17% do mercado, evoluiu
automação bancária e industrial, até as sem para o controle de capitais nacio o índice para 42% em 81 e se projeta
aplicações domésticas ou do escritório nais, efetuando-se contratos de trans para 64% em 85. E o Brasil já é o 10.'
do futuro e significa bem entendido uma ferência de tecnologia para a atualiza mercado mundial de computadores!
verdadeira revolução para as telecomu ção de seus produtos. Segundo os ideali-
nicações e o processamento de dados. zadores do modelo, um certo grau de Críticas do Modelo
Resultante do modelo estabelecido controle pode ser exercido sobre o mer
pela SEI para o setor de informática, a cado pela existência virtualmente de O modelo brasileiro de reserva de
empresa nacional detém a reserva de apenas um comprador majoritário - o mercado para os micros e minis esta
mercado das faixas menores (minis e Sistema Brasileiro de Telecomunica beleceu um marco definitivo em outu
micros), o que representa cerca de 80% ções. O modelo é complementado por um bro do ano passado por ocasião do 15.°
dos sistemas existentes, mas apenas centro de pesquisas destinado a "quei Congresso da Sucesu, no Riocentro, e
20% em valor. A faixa das máquinas mar etapas” e assim viabilizar a autono- que seria confirmado pelo microfestival,
maiores está ocupada pela indústria em março deste ano, no Anhembi. em
multinacional e equivale a mais da me São Paulo.
tade, em valor, do parque total instala A reserva de mercado tem sido porém
do. Mas é o futuro e as novas aplicações o alvo de pressões e de críticas. Dentre as
que realmente conta. Com o rápido pro discussões mantidas entre os Estados
gresso da microeletrônica, o que hoje é Unidos e o Brasil, iniciadas com a visita
considerado grande em termos compu do Presidente Reagan e que visam acor
tacionais, amanhã poderá ser consi dos de cooperação nos campos militar,
derado pequeno. nuclear, espacial, científico e tecnoló
No entendimento de Joubert Brízida, gico, estariam incluidos temas relacio
Secretário Especial de Informática, "ha nados com a política nacional de infor
verá uma divisão entre os países que mática. O titular da SEI confirma (JB
serão e os que não serão donos de sua 08.03.83) que recebeu documento con
própria informação” e, em conseqüên- tendo as preocupações das indústrias de
cia, é da maior importância assegurar a informática americanas e com restri
autónomia tecnológica do setor. ções ao protecionismo do modelo em vi
O modelo informático se estabelece, gor no país, mas negou que o atual mo
portanto, num plano estratégico maior delo seria alterado. Posteriormente, o
e não meramente comercial. Um posi Ministro Saraiva Guerreiro declarou,
cionamento similar é defendido pelo Brízida: haverá uma divisào entre os países antes de embarcar para Washington-
EMFA, entendendo que a tecnologia, e que serão e que não serão donos de sua pró que não deve haver preocupação quando
em particular a eletrônica, assume um pria informação. "não se pretende negociar o essencial
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