Page 30 - Telebrasil - Julho/Agosto 1981

O s b a n c o s , a o u t r a r e d e d e i n f o r m a ç ã o
O s b a n c o s c o n t e m p o r â n e o s
j á n ã o c o m p e t e m a p e n a s
o f e r e c e n d o d i n h e i r o
d e t e r m i n a d o s j u r o s ,
t a m b é m i n f o r m a ç ã o s o c i a l
p o l í t i c a p a r a o r i e n t a r
i n v e s t i m e n t o s e m q u a l q u e r
l u g a r d o m u n d o .
Graças ao computador, criaram uma
rede mundial que permite dispor do
chamado "dinheiro eletrônico". É a
simples informação enviada via satéli­
te, pela qual se comunica que determi­
nada soma está disponível ou certa
transação foi aprovada.
Já não existem horários limites para
operar: todo banco que esteja ligado à
rede transnacional bancária sabe que
sempre há um banco aberto em alguma
parte do mundo para operar.
Esta mudança fundamental do caráter
dos bancos está chamando progressi-
vpmente a atenção dos especialistas e
políticos da informação.
Em meio aos debates, começam a sur­
gir perguntas que tratam de esclarecer
o papel informativo dos bancos v sua
influência. Qual éa informação que ho­
je mais influi para a tomada de decisões
de alto nível: a que vem pelas redes pri­
vadas, pelo sistema Swift ou pelos
meios de comunicação?
O fato de uma sociedade dispor de in­
formação ampla através de Jornais, rá­
dio e televisão é garantia de uma opi­
nião pública informada do que se de­
cide sobre ela ou, pelo contrário, há
"outra informação", que é a que real­
mente importa, e que apenas alguns
conhecem?
O sistema Swift é uma rede mundial de
informação sobre os bancos, construí­
da graças à moderna tecnologia eletrô­
nica. Satélites e computadores tornam
possível o transpasse permanente de
informação de país a país, para alénr
dos controles que os Estados possan
estabelecer.
U fluxo permanente de dados "trans-
fronteirais" constitui hoje um dos pro­
blemas para políticos e juristas preocu­
pados com os conceitos de soberania
c o m
m a s
e
sobre os quais se construiu o Estado temente por ter propriedade ou certo
moderno. controle sobre as corporações dedica­
"Esta extensa rede de bancos — declara das à comunicação em massa, como
Alvin Toffler em seu recente livro "A também à produção de telecomunica­
ções.
Terceira Onda" — com seus Citibanks
e Barclays, seus Sumitomos e Narod-
nys, para não mencionar o Credit Suis- Desde esta perspectiva, os apelos que
surgem dos países do Terceiro Mundo,
se e o National Bank de Abu Dhabi, cria
um globo de "moeda sem país", di­ para regular os fluxos de informação e
criar uma ordem informativa mais
nheiro e crédito situado fora do contro­
le de todo governo concreto, que amea­ equilibrada, preocupam o mundo ban­
cário transnacional.
ça estourar na cara em todo o mundo".
Há um ano, um alto executivo do Citi- As entidades e setores políticos que,
desde os países periféricos, procuram
bank em Nova York foi categórico em
suas declarações a um pesquisador que criar essa nova realidade informativa
devem saber que o banco não vê com
buscava informação sobre o fluxo coti­ bons olhos tais mudanças, pelos efeitos
diano de notícias e dados que um alto
ue isso pode ter no estabelecimento
dirigente de uma corporação conhece.
e controles sobre os fluxos de infor­
Disse-lhe: "Realmente, não preciso ler
mação por cima dos países e fronteiras.
o jornal ou ver a televisão para saber o
que se passa. Temos nossos próprios
O International Bureau of Informatic
sistemas de informação, tanto daqui
(IBI), com sede em Roma, é a entidade
como dos outros pontos do mundo".
que impulsiona acordos e regulamen­
De fato, os bancos estabeleceram uma
tações frente aos novos fenômenos de
rede que se alimenta de revistas, jor­
fluxos de informação por cima dos paí­
nais e dados que seus próprios analis­
ses e sociedades.
tas recolhem.
Seus esforços se enquadram na pers­
Hoje existe um lugar para os sociólogos
pectiva de cuidar da soberania de cada
e especialistas em ciências políticas no
país diante dos novos fenômenos cria­
interior do sistema bancário., os quais dos pela sociedade informatizada. No
devem entregar uma visão do mundo
meio deles, os bancos têm objetivos
no qual devem mover-se as finanças.
que seguem em sentido oposto: uma
rede global, uma interrelação cons­
Esses mecanismos se relacionam com a
tante, um fluxo de informação próprio
enorme expansão do sistema bancário
por cima de países, de sociedades e de
internacional.
meios de comunicação.
Paralelamente se processa outro fenô­
meno: os bancos se interessam crescen- (F. Reys Matta — Jornal do Commérrio — 17/03/81)