Page 4 - Telebrasil - Janeiro/Fevereiro 1980
P. 4
Carlos Eduardo C. de Magalhãe
Diretor F-conômico-Kinanceiro da TF.Ii.
Telecomunicações do Rio de Janeiro S. \
I. Introdução gião vizinha, conseguimos manter, Contrariamente, no entanto, do qu<
disfarçou a grande sem elhança pretendem os detratores da colom
Ninguém nega a importância das te entre as duas colonizações ibéricas, zação ibérica, ela nada tinha de ir
lecomunicações na economia mo baseadas ambas em audaciosas pe racional dentro das condições pre
derna, o que nos dispensa de insis netrações para o interior do conti valecentes na época. Dados os
tir sobre o assunto. Menos conhe nente a partir de núcleos instalados altos custos e riscos dos transpor
cido e divulgado é o papel especia na costa. Essas penetrações deram tes intercontinentais, somente pro
líssimo do sistema de telecomuni lugar a bolsões isolados de ocupa dutos de elevado valor por volume
cações em país como o Brasil, de ção econômica, situação esta que, e peso eram competitivos nos mer
ocupação econômica dispersa. no caso das colônias espanholas, cados europeus. Ou seja, as eco
determinaria o surgimento de uma nomias coloniais do período so
Neste artigo examinaremos ini multiplicidade de nações indepen mente podiam prosperar com base
cialmente os fatores históricos que dentes. Se aceitarmos, no entanto, em metais preciosos e produtos
determinaram esse tipo de ocupa a análise dos teóricos do comércio raros (especiarias). As grandes pe
ção, mostrando, ao mesmo tempo, internacional que definem países netrações para o interior visavam
suas conseqüências em termos de como sendo regiões entre as quais justamente obtê-los, sendo assiir;
serviços de telecom unicação. é pouco intensa a circulação de fa perfeitamente racionais. Esse fatoé
Numa segunda parte, mostraremos tores e mercadorias, pode-se afir comprovado por Celso Furtado ac
que apesar dos progressos recentes mar que a situação das duas regiões mostrar que, sobretudo na prime in
ainda muito resta a fazer no Brasil ibero-americanas não era muito di fase, a prosperidade das colônias
em termos de telecomunicações. ferente. americanas de Portugal superou de
Outra forma de sublinhar a singula muito a de suas correspondentes
1. D eterm inantes históricas da inglesas.
ridade da ocupação territorial de
ocupação econômica e suas conse nosso país consiste em confrontar
quências em termos de transportes nossa experiência com a dos Esta 1.3. Estão certos, todavia, os críti
e telecomunicações cos da colonização portuguesa ac
dos Unidos. Em 1751, por ocasião
do Tratado de Madri, nosso territó apontarem as dificuldades acarre
1.1. Contrariamente do que ocor tadas por uma ocupação territorial
rio já tinha, nas suas grandes li
reu, por exem plo, nos países nhas, a configuração atual. Ora, na dispersa para a implantação de ume
anglo-saxões, a ocupação econô estrutura produtiva moderna. UI
mesma época os Estados Unidos
mica do território brasileiro foi bas trapassada a fase colonial, com 2
ainda se cingiam às colônias da
tante dispersa. Essa dispersão re costa atlântica ou à chamada Nova revolução dos transportes do sé
sultou, em primeiro lugar, das culo XIX, se tomou possível ba
Inglaterra.
grandes penetrações para o inte sear exportações em artigos de pe
rior, com o surgimento de grandes 1.2. Alguns autores, ao confrontar queno valor, remetidos ao exterioi
vazios entre os núcleos do litoral e a experiência brasileira (e ibérica em grandes volumes. Nesse mo
os do hinterland. Tivemos, em se em geral) com a americana, procu mento uma concentração de popa
gundo lugar, as conseqüências da ram sublinhar a irracionaidade e lação e infra-estrutura em territóii
criação de núcleos de colonização aventureirismo da nossa ocupação restrito, tal como existia nos Esta
em pontos isolados da costa, sem territorial, contrapondo-a à lógica e dos Unidos, apresentava inegável
qualquer contato direto entre si. bom senso do que ocorreu nos Es vantagem. Contrariamente do sei
Colocando a questão de outra tados Unidos. O colono inglês não vizinho, o Brasil se mostrava come
forma, diríamos que herdamos do se lançava desvairadamente para o um arquipélago econômico con'
período colonial não um Brasil, no interior à busca de metais preciosos atividades disseminadas por um e.v
sentido de um país economica e especiarias que lhe proporcionas tenso território e cuja implantaç»
mente unificado, mas uma América sem o enriquecimento rápido. Pre resultara não de decisões economi
Portuguesa, em tudo e por tudo feria restringir sua ocupação ao ter camente racionais mas da existed
semelhante à América Espanhola. ritório necessário às suas lavouras, cia, real ou suposta, nas diferentei
Somente a unidade política que, buscando, através destas, uma regiões, de produtos de alto valo)
contrariamente do sucedido na re prosperidade lenta, mas segura. Refletindo esse ilogismo econò