Page 59 - Telebrasil - Setembro/Outubro 1979

[teci o princípio de que existe a livre concorrên- 4. Esboço de Uma Política de Informática países em desenvolvimento. As razões são óbvias

cia, ou mesmo a concorrência suportavelmente para que me estenda sobre o assunto.

imperfeita, nos mercados internos e externos, es­ O último fator limitativo para a autonomia rela­

tou convencido de que os governos dos paises em tiva no campo da informática é a ausência nos Vale, contudo, indicar alguns pontos básicos que

desenvolvimento reconhecerão uma situação de países em desenvolvimento de uma política de in­ figurarão, por força das circunstâncias, nas

igualdade de oportunidades entre a empresa na­ formática. políticas que forem adotadas pelos países em de­

cional e a transnacional. Esta é uma posição ir­ senvolvimento.

realista, pois o que ocorre é exatamente o opos­ Explica-se esse fato primeiramente pela própria

to. As transnacionais, por seu poder de repar­ evolução do conceito científico da informação, Entre eles, alinho: a implantação de uma rede de

tição internacional do trabalho, de domínio de cujas bases foram lançadas de forma sistemática comunicações moderna, com capacidade

mecanismos financeiros internos, mas de âmbito há menos de cinquenta anos, pelo aparecimento endógena de aperfeiçoar-se; a criação de uma ba­

internacional, e do monopólio das tecnologias de relativamente recente dos mecanismos eletroele- se científico-tecnológica, capacitada a apoiar a

ponta do produto, do processo e da mercantili- trônicos de processamento da informação e, em a absorção dos conhecimentos tecnológicos im­

zação, atuam nos mercados de suas subsidiárias, último lugar, pelas condições históricas em que portados e a desenvolver novas tecnologias; a

filiais ou associadas como competidores extre­ se encontravam os países em desenvolvimento, formação de quadros profissionais adequados ao

mamente robustos frente a competidores nacio­ ao surgir esse poderoso instrumental. setor produtivo; o fortalecimento do aparelho

nais reconhecidamente fracos. Por mais que se institucional para garantir, em áreas prioritárias

revistam os atores de aparência igual, a peça já Habituados a tratar a informação, a nível de em­ de interesse nacional, a tomada soberana de deci­

está escrita com a identificação dos vencedores. presa nacional e a nível governamental, como um sões; o posicionamento externo, mediante meios

Náo poderá, em tais circunstâncias, haver sur­ elemento diretamente dimensionado de acordo de cooperação bilaterais e multilaterais que faci­

presa para os espectadores. Resta-lhes cultivar o com suas necessidades de gerência e de cresci­ litem a transferência de tecnologia; a implan­

suspense, quando se retirarem do teatro. mento econômico tradicional, num quadro em tação de termos aceitáveis, por todos os países,

que as grandes empresas internacionais já ocupa­ de normas de conduta para as transacionais; e a

__As desigualdades existem e provêm do que disse: vam os principais pontos estratégicos, não fazia abertura do mercado internacional para os exce­

da dimensão internacional da empresa transna­ sentido examinar o problema de uma política de dentes da produção de bens e serviços informa-

cional; de sua força econômica e financeira ca­ informática como a encaramos atualmente. cionais.

paz de favorecer práticas distorsivas da concor­ Ressalto, entre todos esses pontos, o papel do sis­

rência; da extraordinária vitalidade na área do O campo de atuação do empresariado nacional e tema de comunicações. É ele essencial a qualquer

desenvolvimento tecnológico e da transformação dos governos dos países em desenvolvimento complexo de informações, já que de nada valem

de seus frutos em bens e serviços sempre novos; apresentava poucas solicitações a processos mais as últimas se não encontrarem canais eficientes

da sua forte capacidade de comercialização e de avançados do tratamento da informação. O mes­ de fluxo para alcançarem seus usuários.

prestação de assistência técnica a um nível ina­ mo, entretanto, não ocorreu com as companhias

cessível às empresas nacionais dos países em de­ multinacionais, pois para elas a propriedade, a Na formulação de uma política de informática e

senvolvimento. exatidão, a pertinência e a oportunidade da in­ na sua execução, as autoridades governamentais

formação eram indispensáveis ao seu desempe­
dos países em desenvolvimento, e mesmo dos
nho num universo que integrava os mercados na­
0 restabelecimento da igualdade entre os agentes paises desenvolvidos, têm que reconhecer a inter­
cionais e internacionais.

econômicos de que falamos, não encontra lugar ligação extremamente intima entre as duas áreas.

no mercado. Deve ser objeto de medidas não Seu ponro de contato mais forte é a mensagem,

econômicas, na maior parte dos casos. Medidas Além desse aspecto, os problemas relacionados entendida esta à luz dos conhecimentos científi­

que garantam o justo desempenho industrial, co­ com a defesa impulsionaram os governos dos cos que lhe deram significado. A mensagem é a

mercial e econômico das transnacionais e as si­ países desenvolvidos a conceder à pesquisa e ao forma materializada que assumem a informação

tuem no nível de parceiros úteis aos interesses desenvolvimento das tecnologias da informação e o veículo de sua circulação.

dos países que as abrigam, particularmente no prioridade semelhante à inovação dos artefatos

que respeita ao aporte tecnológico que delas se militares. E o resultado desse esforço foi incor­ Como reforço dessa intimidade, o progresso

espera. porado pelas empresas multinacionais. ocorrido na microeletrônica veio proporcionar

aos dois ramos considerados um forte elo de inte­

Como afirmei, o aparecimento e a atuação das resses. Uma política de informática deve, por to­
A expansão horizontal, no sentido geográfico, dos esses motivos, integrar-se, na justa medida, à
transnacionais nos mercados internos e externos
das companhias transnacionais, dedicadas a ati­ política de comunicações.
levarão os governos a solucionar os problemas
vidades industriais e comerciais não ligadas à in­
econômicos daí surgidos, com iniciativas de na­

formática, estimulou também o aparecimento na No que respeita à infra-estrutura científico-
tureza não econômica, propriamente falando,
arena internacional das grandes corporações fa­ tecnológica, além das considerações feitas ante­
fundamentadas em critérios políticos.
bricantes de equipamentos destinados ao proces­ riormente, a política de informática procurará,

samento e à difusão da informação. em cada caso, configurá-la para servir de apoio

Esta, creio eu, é a realidade do mundo em que vi­
às linhas de produção mais apropriadas a cada

vemos e, como só a realidade deve orientar as A tomada de consciência, por parte dos países país. Em sociedades onde o parque industrial

ações governamentais, cabe aos países em desen­ em desenvolvimento, das implicações perigosas existente, a rede universitária constituída, a di­

volvimento, sem qualquer receio, adotar critérios de uma política liberal com relação aos produto­ mensão e a potencialidade de mercado interno, a

estritamente políticos para o tratamento peculiar res estrangeiros de bens e serviços, destinados ao capacidade de exportação conquistada e o peso

desses problemas econômicos, a nível de empre­ tratamento e à transmissão da informação, q um dos interesses da segurança nacional sobressaem

sa. procedimento dos dias de hoje. Resulta da trans­
entre as demais condições internas, creio que a li­
formação das condições econômicas internas e nha de ação prioritária, para conquistar o

No que se refere á tecnologia da informação, externas, da dimensão adquirida pela indústria

fonte e fundamento do poder de decisão e do po­ de informática localizada nesses países e do pro­ domínio dos segmentos estratégicos da in­

der de atuação, o papel das companhias transna- gresso vertiginoso da eletrônica, que passou a in­ formática, deveria tomar, como ponto de parti­

cíonais merece ser estudado e disciplinado, em fluenciar a maioria dos processos industriais da, a fabricação dos componentes eletrônicos,

nível de alta prioridade, pelos, governos dos existentes e revolucionou os sistemas gerenciais dentro de uma lista limitada, à base de tecnologia

países em desenvolvimento, a fim de que se criem privados e governamentais. realmente absorvida em seu processo de transfe­

as bases de uma colaboração salutar, indis­ rência e de tecnologia gerada internamente.

pensável à aceleração do processo de crescimento Encontram-se, assim, os países em desenvolvi­

econômico e desenvolvimento social. mento em condições objetivas para formular As características dos componentes eletrônicos

determinam, em razoável extensão, a configu­
uma política de informática, fundamentada na
ração dos equipamentos, sistemas e instrumentos

Estou convencido de que o encaminhamento das necessidade de lançar mão das extraordinárias que deles se utilizam.

providências destinadas à solução do problema vantagens oferecidas pelas novas tecnologias de

precisa ser feito sem conotações emocionais ou informação, em proveito de seu progresso econô­ Por outro lado, indispensáveis que são ao com­

demagógicas, mediante diálogo, negociações e mico e social. plexo industrial, às comunicações e ao tratamen­

melhor conhecimento dos interesses mútuos num to da informação, integram esses componentes

clima de racionalidade e de expressa vontade de Esta política não poderá ser enunciada em ter­ setores em que a dependência externa representa

entendimento. mos universais, ou seja, apropriada a todos os risco não aceitável.