Page 64 - Telebrasil - Setembro/Outubro 1978

Com grande frequência, e infeliz­ adote uma atitude realista, flexível
mente os empresários brasileiros e que, sobretudo, compreenda os
não se dão conta desse fato, é problemas envolvidos nesse de­
possível promover a absorção da senvolvimento.
tecnologia selecionada sem a ne­
cessidade de pagar royalties ou A atividade que estamos empreen­
outras formas de remuneração. É, dendo na ICC — Coencisa pode
no entanto, necessário estar pre­ servir como ilustração das idéias
parado para dispender razoáveis anteriores descritas.
montantes de recursos em pessoal
técnico, ou seja, carregar pesada­ A linha de modems para comuni­
mente no custo de engenharia pa­ cação de dados — cuja produção
ra que essa absorção possa ser foi definida como sendo a finalida­
feita e sedimentada. Em quase to­ de principal da empresa — abran­
dos os casos essa solução é mais ge uma série de produtos, para ca­
econômica, a longo prazo, para a da um dos quais se estabeleceu o
empresa e, sem nenhuma dúvida, é caminho tecnológico a ser segui­
a melhor para o país. do: para os modems de alta veloci­
dade — 9.600bps e 4.800bps — as
O pagamento de remuneração, a perspectivas de mercado, aliadas
titulo de tecnologia transferida, só à complexidade tecnológica dos
deve ser feito nos casos em que o produtos e à premência do merca­
volume de produção não puder jus­ do, fizeram com que se optasse
tificar a manutenção de uma pesa­ por uma nacionalização progressi­
da carga de engenharia ou quando va dos produtos já existentes no
a complexidade tecnológica do exterior e já comercializados ante­
produto não permitir, em tempo riormente no pais. Essa nacionali­
hábil, a reunião de uma massa zação envolve acordos específicos
crítica de técnicos capazes de efe­ de transferência de tecnologia e
tuar essa “ sucção de conhecimen­ permitirá as etapas seguintes de
tos” . Ainda será admissível o pa­ absorção, por parte da empresa
gamento nos casos em que pre­ nacional: seleção e certificação de
mência de tempo exigir a rápida in­ componentes encontrados no mer­
dustrialização do produto, não cado local (incluindo eventuais
dando tempo à formação da base adaptações de circuitos, prove­
técnica local. Este é, no entanto, nientes do uso dos componentes
um caso mais raro, e que só ocorre disponíveis), adaptação e melhora­
quando o mercado usuário desco­ mento do produto para atender a
bre “ subitamente” que não pode novos requisitos do mercado brasi­
viver nem mais um dia sem aquele leiro e, finalmente, após o encerra­
produto (em geral já utilizado du­ mento da vigência do contrato de
rante muito tempo no exterior). As­ transferência de tecnologia, o
sim mesmo, essa situação só é ve­ prosseguimento do desenvolvi­
rificada quando existe uma certa mento dos modems desse tipo,
forma de monopsônio no mercado, com a introdução de técnicas de
que passa a pressionar os fornece­ origem local (a partir dessa fase
dores com relação aos prazos de não haverá mais nenhum paga­
entrega. mento ou remuneração de tecnolo­
gia externa).
No caso mais normal, da econo­
mia de mercado, com livre iniciati­ Quanto aos modems de 2.400bps e
va, os prazos de maturação dos Banda-Base, assim como aos
projetos podem ser adequados às adaptadores de voz (para comuni­
capacidades locais de absorção cações verbais de serviço através
de tecnologia externa ou geração dos circuitos de dados), foi consi­
de tecnologia local. derado, tanto pela natureza técni­
ca dos produtos, quanto pelas de­
3.3. Papel do empresário brasilei­ cisões de nível político adotadas
ro pelo Governo, através da CAPRE,
efetuar
De tudo o que foi exposto, pode­ próprios, localmente, sem a neces­
mos depreender que o empresário sidade de fazer nenhum acordo de
brasileiro pode e deve colaborar no transferência de tecnologia com
desenvolvimento tecnológico na­ entidades uo exterior. Em linha
cional, bastando, para isso, que com os conceitos já expostos, a
ICC-Coencisa tomou as seguintes
medidas:
— selecionou modelos básicos de
circuitos e especificações existen­
tes no mercado internacional e
que serviriam de paradigma para o
desenvolvimento dos produtos na­
cionais;
— investiu pesadamente em enge­
nharia local, tanto quanto a recur­
sos humanos como a recursos ma­
teriais. O ano orçamentário 78/79
prevê, e está sendo assim cumpri­
do, que 10% dos gastos da empre­
sa se dêem na área de desenvolvi­
mento dos produtos;
— treinou seu pessoal técnico,
tanto no país quanto no exterior,
além de trazer pessoal de fora para
ministrar treinamento específico
nas áreas de engenharia e pro­
dução;
— acima de tudo, concedeu total
liberdade de criação ao seu pes­
soal técnico, visando obter produ­
tos que: estivessem inteiramente
harmonizados com o mercado for­
necedor de insumos e componen­
tes, adotassem a tecnologia defi­
nida pela CAPRE como mais ade­
quada ao país (uso de semicondu­
tores integrados de lógica TTL),
atendessem às especificações da
Embratel (p. ex.: Modem Banda-
Base com limite inferior em
1.200bps, diferentemente dos simi­
lares estrangeiros), contivessem o
maior índice possível de projetos
de circuitos desenvolvidos local­
mente, levassem em conta a dife­
rença da qualidade média dos
meios de transmissão (portanto,
com maiores requisitos de pro­
teção contra erros, confiabilidade,
etc.) e diversas outras carac­
terísticas do meio ambiente brasi­
leiro.
Os resultados já se fazem sentir: a
empresa está hoje capacitada a
produzir eauipamentos nos quais
a componente tecnológica local
é maior do que na maior parte dos
produtos de telecomunicações fa­
bricados no Brasil, sem a necessi­
desenvolvimentos dade de recorrer a onerosas
“ transferências de tecnologia”.
Para isto, sem dúvida, foi ne­
cessário fazer aquilo que está ao
alcance de todos os empresários
nacionais de visão longa: acreditar