Page 62 - Telebrasil - Setembro/Outubro 1978
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grama de blocos é, realmente, a a real transferência, é a possibili simples, pelo menos quanto à
parte criativa. As caixas pretas, dade da apreensão completa, por orientação geral a ser seguida, em
com as quais são montados os parte do receptor, das causas e bora a execução do processo pos
conjuntos de equipamentos, são efeitos envolvidos no conhecimen sa ser, por vezes, complexa.
circuitos, componentes ou peças to que lhe foi passado, de modo
de utilidade múltipla e, geralmen que ele fique apto a utilizar, aper O estabelecimento de objetivos ou
te, de características bem descri feiçoar e desenvolver aquele co políticas de desenvolvimento tec
tas nos manuais correspondentes. nhecimento” . nológico deve ser o primeiro pas
so, não apenas em âmbito gover
Para exemplificar, basta citar a Se aceita essa definição, temos, namental mas, também, em ãmbi
aplicação dos microprocessado como corolário, que aceitar a idéia to empresarial.
res na composição de equipamen de que tecnologia, em verdade,
tos complexos, para uso indus não se transfere. Tecnologia se ab As entidades econômicas devem
trial, comercial ou de entreteni sorve. Dito de outra forma, o impor perguntar a si próprias qual é sua
mento. A verdadeira criação origi tante é estar capacitado a apreen finalidade e, a partir daí, definir os
nal reside na concepção dos mi der os conhecimentos existentes passos a serem dados em matéria
croprocessadores, enquanto sua no exterior. Não há forma de se tecnológica.
aplicação se insere no contexto da pressionar a transferência “ de fora
engenharia de sistemas e proces para dentro” , por mais que o doa A busca de novos conhecimentos
sos. dor esteja inclinado a promover es básicos — no ramo da pesquisa
sa transferência. fundamental — deve ser delegada
Cabe, nesse momento, fazer a se a instituições de gênero acadêmi
guinte pergunta: a definição local Fica, na realidade, definido um co, mediante supervisão e sub
de um equipamento baseado em processo de “ sucção tecnológi venção das entidades de pro
microprocessadores criados e pro ca” , ou seja, em existindo a capa dução.
duzidos no exterior representa cidade (com massa crítica apro • •
“ geração de tecnologia própria", priada) de “ sugar” , a transferência A aplicação dos conhecimentos
mesmo quando a maior parte das se dará, quase automaticamente. existentes deverá ser feita com
características do equipamento fi Com poucas exceções, o conheci mínimo recurso ao pagamento de
nal já é inerente ao componente mento está disponível, para quem direitos, pois a existência de co
importado? possa e queira assimilá-lo. Que o nhecimentos de domínio público
digam os japoneses... permite que os esforços das equi
Parece-nos que a questão é pura pes de desenvolvimento se dirigi-
mente acadêmica: devemos ter A geração de tecnologia, nesse jam para a área da engenharia de
presente, em todas as discussões contexto, passa a ser uma ativida sistemas, tomada no seu sentido
sobre geração e transferência de de derivada do uso do conheci mais amplo.
tecnologia, que a utilização de co mento existente, com o acréscimo
nhecimentos já consolidados no de novas maneiras de fazer as coi A metodologia que propomos po
ambiente técnico internacional é sas, com o melhoramento e adap deria ser resumida como se segue:
parte natural e indispensável de tação das técnicas já conhecidas
qualquer processo de desenvolvi e, principalmente, a seleção judi Escolhido o produto a ser fabrica
mento local de produtos, equipa ciosa daquele conhecimento que do (ou serviço a ser prestado), me
mentos, técnicas e processos. Ca seja mais adequado ao meio am diante análise cuidadosa do mer
so assim não fosse, cada projetis- biente correspondente. Usar téc cado, dever-se-á fazer a seleção do
,ta teria que inventar seus próprios nicas já conhecidas, de uma forma gênero de tecnologia a ser utiliza
circu ito s osciladores, seus interessante para o país — consi da — quando ela já existir — ou do
próprios filtros, seus próprios cir derados os aspectos materiais, so caminho de desenvolvimento a ser
cuitos lógicos básicos e assim por ciais, econômicos e culturais do seguido — quando se tratar de um
diante. Brasil — é uma forma das mais no produto novo.
bres de geração de tecnologia, em
Feita essa colocação, parece-nos particular quando se sabe que os A seleção da tecnologia — caso
possível simplificar a questão da referidos aspectos ambientais são mais geral — levará em conta a
transferência e da geração de tec diferentes dos existentes alhures sua disponibilidade local ou exter
nologia, apresentando-a sob a se e que, portanto, a forma particular na (p. ex.: no caso de joint-
guinte forma: de aplicação do conhecimento exi ventures essa tecnologia fica, au
girá engenhosidade. imaginação e tomaticamente, ao alcance da em
"A tecnologia que é transferida é coragem. presa nacional), a sua adequação
aquela que permite o aprendizado ao mercado fornecedor de insu-
de conhecimentos, por parte do re 3.2. Aspectos práticos mos, o custo e complexidade
ceptor, variando desde a simples provável de produção, a necessi
exposição de leis físicas, ma Parece-nos, particularmente, que a dade maior ou menor de impor
temáticas, ou outras, até a des prática da geração e da transferên tação de materiais (e, por vezes,
crição de componentes, equipa cia de tecnologia em um país em mão-de-obra) e sua funcionalidade
mentos e processos complexos. O desenvolvimento poderá ser equa (considerados os usuários do pro
ponto importante, que caracteriza cionada de forma relatívamente duto).