Page 19 - Telebrasil - Novembro/Dezembro 1977

de constituir, em termos de importân­ 4. O auto-financiamento: um proces È óbvio que uma decisão destas — ou

cia, uma das grandes preocupações. necessário e insuficiente outr3 qualquer que se lhe assemelhe

ou substitua precisa contornar cer­

Quando se criou o sistema de auto- tos problemas. Mas é factível.
Quando se admite que os lucros são o
Í financiamento, chamando o público a

pagamento pelo risco aceito, supõe-se
contribuir para a expansão dos servi­
que se usou capital para correr esses Seria além do mais, um serviço de pro­

ços e, em contrapartida, oferecendo-
. riscos que admitem lucros: primeiro, teção ao pequeno investidor que to ­

lhe ações das empresas operadoras,
^ qualquer investidor que troca fundos mou suas economias para aplicá-las

pensava-se que a fatia específica do
( líquidos, isto é, dinheiro vivo por ativo mercado de ações das companhias te­ na obtenção do serviço telefônico e se

não-monetário, assume um risco rela­ vê, muitas vezes, na contingência de

lefônicas iria funcionar como o de
tivo à liquidez. ficar nas mãos de compradores de

quaisquer outras ações.

ações de porta-de-prédio.

A ação, segundo sua filosofia básica, é

um tipo de papel que conjuga dois fa­ 5. A importância prioritária do setor

tores: propriedade e resultado. Se se de­ de telecomunicações em econo

Se a aplicação vai para outra institui­ têm a propriedade de parcela do capi­ mias inflacionárias.

ção, que não o Governo, outros riscos tal de uma empresa, mas não o sufi­

ciente para compelí-la a distribuir os
Causa certa perplexidade saber que as
Í são assumidos: a perda por fraude, somente uma parte dos efeitos. Em telecomunicações não foram conside
resultados esperados, ter-se-á obtido
perda por incompetência, perda por

avanços tecnológicos, riscos políticos
radas prioritárias internamente como

como guerra, revolução, além dos ris- outras palavras: para o acionista não variável estratégia do desenvolvimen­

j cos cobertos por seguro, como fogo, resolve somente ser proprietário; ele to do país, especialmente por termos

; tempestades, etc. Mas, dentro dos deseja uma renda compatível com ou­ atravessado, nos últimos anos, perío­

* próprios riscos, há um muito especial: tras aplicações que possa fazer no dos de acentuado recrudescimento in­

a incerteza. Ela é fruto da mudança. O mercado. flacionário.

[ lucro é para quem prevê as mudanças

e tem a iniciativa de promovê-las antes A baixa cotação de nossas ações, o

I que outros o façam. E, conseqüente- fraco interesse do público em conser A visão até fins da primeira metade do

mente, correndo todos os riscos dessa vá-las em seu poder, a baixíssima li século — portanto de pelo menos 30

iniciativa. Os lucros não são passíveis quidez, e outros problemas mais, de­ anos passados — era de que esse in­

de serem segurados. Não existe cál­ correm não da eventual demora em se vestimento era típico de serviço públi­

culo atuarial que possa verificar as entregar ações ou de qualquer proble­ co, ainda que reconhecido de impor­

chances de sucesso de uma empresa. ma burocrático, mas sim da contradi­ tância para a economia como um todo

E a incerteza é inerente à verdadeira ção de se procurar aplicar ao investi­ e absolutamente necessário à defesa

natureza de uma economia complexa. dor privado o mesmo estilo de com­ nacional.

portamento da empresa estatal. Há

que substituir o sistema Inúmeras for­
Agora vem a pergunta: qual é o risco, Avanços tecnológicos surpreendentes
mas de financiamento podem ser co­
qual é a incerteza de uma empresa do demonstraram novas funções para as

piadas, adaptadas ou criadas. Porque, telecomunicações; figuram cada vez
Governo comparada â da livre iniciati
por exemplo, não se adota debêntures mais nos processos técnicos e de or­
va? Ela, no caso do setor de telecomu­

para os planos de expansão? Se o pre­
nicações, é monopolista de um lado e ganização, melhorando a eficácia ad­
tendente ao telefone receber papéis ministrativa, além de serem instru­
monopsonista de outro; se não pagar
que lhe garantam um moderado juro e

corretamente suas contas, seus títulos mento indispensável para o funciona­
a proteção contra a inflação, esses pa­ mento da economia nacional e da pró­
usualmente não vão a protesto; qual é
péis serão colocados dentro do siste­ pria atividade dos individuos.

o seu risco falimentar, por exemplo?
ma de auto-financiamento e encerrada
Qual é o seu risco face a um avanço
definitivam ente a questão sobre o

tecnológico?
mercado de.ações. Aí, realmente, tra- De uma pesquisa realizada na Suécia,

tar-se-ia de um investimento para o há alguns anos atrás, demonstrou-se

As respostas a parte dessas perguntas futuro assinante e, assim sendo, a uma estreita relação entre o cresci­

aparentemente irreverentes, nós va- participação do auto-financiamento mento do tráfego telefônico e a utili­

vamos encontrar no fato de que as no investimento poderia subir conside­ zação de recursos. E, ao que tudo indi­

empresas estatais existem para realizar ravelm ente, tirando das empresas ca, há uma crescente importância das

investimentos, pesquisas ou outras qualquer preocupação maior com em­ telecomunicações na participação do

atividades que, pela sua natureza, a préstimos. Os custos financeiros, se produto nacional bruto.

empresa privada não tem condições têm de existir, poderiam ir para as

de fazer. mãos do público via comercialização Sobre a capacidade dos serviços de

de terminais telefônicos. telecomunicações criarem riquezas, a

República Federal da Alemanha, em
Novamente retornando ao tema da in­

Ou, para manter a linha do raciocínio, 1962, e a Polônia, em 1968, realiza­
flação brasileira, suponha-se que as
criar um novo papel que bancos de ram estudos demonstrando que a ca
empresas governamentais não pos­
investimento e financeiras pudessem pacidade de criar riquezas das teleco
sam tirar os recursos para sua expan­

utilizar para captar a poupança obriga­ municações é, no mínimo, o dobro do
são do próprio mercado onde operam.
tória gerada pela comercialização. Da que a da indústria em geral.
Vão buscar onde7 No financiamento

mesma forma o público teria a sua re
inflacionário dos déficits orcamentá-
muneração. Observe-se o demonstrativo
rios7 Ou vão estagnar? E na qualidade

de monopsonistas vão ampliar o pro­

blema, transferindo-o para um impor­

tante setor da economia?